sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

ESTUDO COMPARATIVO SOBRE SUPERDOTAÇÃO COM FAMÍLIAS EM SITUAÇÃO SOCIOECONÔMICA DESFAVORECIDA

Blog GENIALIDADE E SUPERDOTAÇÃO, de autoria de Álaze Gabriel.
  

Autoria:
Jane Farias Chagas - Doutora em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde pela Universidade de Brasília e professora das Faculdades CECAP;
Denise de Souza Fleith - Doutora em Psicologia Educacional pela University of Connecticut e professora do Programa de Pós-graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde da Universidade de Brasília.


RESUMO

Este estudo teve como objetivo descrever e comparar características de famílias em situação socioeconômica desfavorecida relacionadas ao desenvolvimento de comportamentos de superdotação. Participaram da pesquisa 28 famílias residentes no Distrito Federal, sendo 14 com superdotados e 14 sem filhos superdotados. Os dados foram coletados por meio do Inventário de Sucesso Parental - PSI, do Teste de Pensamento Criativo - TCP-DT e de questionário sobre características individuais e familiares do superdotado. Para a análise dos dados foram utilizados o teste t, a correlação de Pearson e estatística descritiva. Foram encontradas diferenças significativas entre os grupos com relação ao nível de comunicação, uso do tempo, práticas de ensino parental e satisfação parental. Os genitores de superdotados e não superdotados avaliaram o nível de comunicação e satisfação parental em relação a comportamento dos filhos de forma mais positiva do que seus filhos. Os resultados também indicaram uma maior participação dos pais de alunos superdotados na vida acadêmica de seus filhos. A maioria dos alunos superdotados, que participou do estudo, era do gênero masculino e ocupava posição especial na família como primogênitos e unigênitos. Além disso, não foi observada relação entre os níveis de criatividade de pais e filhos. Ficou evidenciado, porém, que os alunos superdotados apresentaram desempenho superior no teste de criatividade quando comparados aos alunos não superdotados. Os resultados chamam a atenção para o papel que a família pode desempenhar no estímulo de habilidades, talentos e interesses.

Palavras-chave: superdotação; família; ambiente socioeconômico desfavorecido; educação especial.

1. INTRODUÇÃO

A família é reconhecida como contexto primário do desenvolvimento humano e espaço de transmissão de elementos socioculturais ao longo das gerações (ASPESI, 2003; DESSEN, 2007). O microssistema familiar desempenha importante papel mediador na promoção da sobrevivência e da socialização, na estrutura de formação da identidade e personalidade e no desenvolvimento dos comportamentos de superdotação (CHAGAS; FLEITH, 2006; CHAGAS, 2007). Solow (2001) evidencia que a dinâmica e a história familiar, as crenças, valores e expectativas parentais podem levar ou não ao reconhecimento e identificação dos comportamentos de superdotação ou estimular certas habilidades em detrimento de outras.
As pesquisas que investigam aspectos familiares relacionados a superdotação têm indicado que os fatores que mais contribuem para o desenvolvimento de habilidades superiores são o ambiente familiar enriquecido e organizado de modo a atender as demandas e interesses do superdotado, a posição especial na família, e os valores e as expectativas parentais relacionados à educação e ao desempenho acadêmico (ASPESI, 2003; 2007; CHAGAS, 2003; CHAGAS; FLEITH, 2006; COLANGELO, 2002; DOWNEY, 2001; HUSANKER et al., 1995; WINNER; MARTINO, 2000; ZAJONC, 2001; ZUO, 1999).
Com relação aos efeitos da dinâmica familiar e das atitudes, valores e crenças parentais no desenvolvimento dos comportamentos de superdotação, resultados contraditórios são encontrados na literatura. Estudos conduzidos por Robinson et al. (1998), Solow (1995), Weissler, Landau (1993a, 1993b) e Zuo (1999) revelaram que a dinâmica familiar contribui favoravelmente para a formação da identidade do superdotado. Os resultados desses estudos demonstraram que as famílias com superdotados costumam ser mais flexíveis, responsivas e menos restritivas quando comparadas a outras famílias. Estas também possuem mais livros, pinturas e trabalhos de arte em casa e investem mais recursos financeiros na estimulação e promoção da inteligência dos filhos. Sobre as práticas parentais, os mesmos autores indicaram que os pais de superdotados: (a) geralmente são mais envolvidos no programa escolar de seus filhos, comunicando-lhes o alto valor que atribuem ao desempenho acadêmico; (b) educam os filhos com base em sua própria experiência acadêmica; (c) apresentam interação cognitiva significativamente diferente em termos de tópicos discutidos e da qualidade da linguagem empregada em casa; (d) expõem os filhos a novas experiências, incentivando a autonomia e independência; e (e) são mais assertivos, independentes e liberais.
Entre as variáveis do ambiente familiar que influenciam de forma positiva o desenvolvimento de comportamentos de superdotação e as habilidades do pensamento criativo estão práticas parentais como o cultivo da autoconfiança e independência dos filhos; relacionamento não possessivo; atenção aos interesses dos filhos; encorajamento de atitudes de experimentação e exploração; incentivo à flexibilidade de pensamento; ausência de comportamento crítico, restritivo e punitivo (ALENCAR; FLEITH, 2001; ASPESI, 2007; CHAGAS, 2007).
Por outro lado, resultados negativos foram destacados por vários autores quanto a variáveis da dinâmica familiar e estilos parentais associados aos estereótipos de gênero e tipos de superdotação: (a) sentimento de inadequação e despreparo parental ao lidar com a superexcitabilidade, o desenvolvimento assincrônico e as demandas peculiares do superdotado; (b) insegurança parental na tomada de decisão entre estimular e monitorar o processo de desenvolvimento das habilidades superiores do superdotado ou não interferir; (c) fracasso escolar, desequilíbrio emocional e negação do talento pelo superdotado, como consequência da manipulação, exibicionismo, superestimulação e exigência demasiada dos pais ou da competição excessiva entre os irmãos; e (d) pouco estímulo ao desenvolvimento do talento feminino (ALENCAR, 2003; ALSOP, 1997; CROPPER, 1998; DAVIS; RIMM, 1998; FREEMAN; GUENTHER, 2000; HILLS; ANDERSON, 2001; MAY, 2000; OLSZEWSKI-KUBILIUS, 2002; SNOWDEN; CHRISTIAN, 1999).
Uma das limitações dos estudos realizados na área está relacionada com a seleção da amostra, em sua maioria de membros de famílias de classe social média-alta ou com alto nível de escolaridade (BAUM; OLENCHAK; OWEN, 1998; BORLAND; SCHNUR; WRIGHT, 2000; LEROUX; LEVITT-PEARLMAN, 2000; MASTEN et al., 1999; MOON et al.., 2001; PARDO; FERNÁNDEZ, 2002). De acordo com Ambrose (2002, 2006) e Ford (2002), a desigualdade socioeconômica é uma séria barreira para o desenvolvimento das aspirações, talentos e a autorrealização porque essa é permeada por questões ideológicas e políticas que trabalham no sentido de manter o status quo. Sendo assim, as habilidades superiores e o talento de alunos das camadas mais pobres da população ou de certos grupos étnicos tornam-se invisíveis não somente para educadores como para a formulação de políticas e programas de acesso a oportunidades de desenvolvimento do potencial. Este cenário justifica amplamente os objetivos deste estudo.
Para os fins desta pesquisa, foi considerado superdotado o aluno avaliado e atendido em sala de recursos do programa da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal e não superdotado aquele que não foi diagnosticado e nem atendido por nenhum tipo de iniciativa ou programa de desenvolvimento de talentos/superdotação. O conceito de superdotação adotado, elaborado por Joseph Renzulli, concebe o fenômeno a partir da conjunção de três fatores, descritos em seu Modelo dos Três Anéis: a habilidade acima da média, o envolvimento com a tarefa e a criatividade (RENZULLI; REIS, 1994, 1997, 2003). A habilidade acima da média, diz respeito a habilidades gerais ou específicas. As habilidades gerais consistem na capacidade de processamento de informações e integração de experiências que são capazes de gerar resultados e respostas apropriadas a situações ou problemas (ex: memória, fluência verbal, raciocínio lógico e número, relações espaciais e pensamento abstrato). As habilidades específicas são associadas aos conhecimentos, técnicas e estratégias aplicadas a um domínio ou campo em particular, como matemática, xadrez, escultura, dança e literatura. Ao contrário das habilidades gerais, as habilidades específicas não são facilmente medidas por testes psicométricos.
O envolvimento com a tarefa diz respeito aos fatores motivacionais como altos níveis de concentração, dedicação, energia e perseverança destinados a execução de um projeto, performance ou resolução de problemas. A criatividade é relacionada a características do pensamento criativo (fluência, flexibilidade, originalidade), fatores associados a traços de personalidade (abertura a novas experiências, curiosidade, coragem de correr riscos) e características de produto criativo (inovação, abundância de detalhes) (RENZULLI; REIS, 1997). Essa definição de superdotação foi adotada por ser amplamente reconhecida na literatura (ALENCAR; FLEITH, 2001; MÖNKS, 2003) e por corresponder aos critérios para identificação de alunos superdotados no Programa de Atendimento ao Aluno Superdotado da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (DISTRITO FEDERAL, 2006). A família, nesse estudo, é concebida como um "grupo social especial, caracterizado por relações íntimas e intergeracionais entre seus membros" (Petzold apud DESSEN, 2007, p. 17).
Foram objetivos desse estudo descrever e comparar características familiares que favorecem o desenvolvimento dos comportamentos de superdotação. Para tanto, foram formuladas as seguintes questões:
1. Existem diferenças entre alunos superdotados, alunos não superdotados e seus pais (ou responsáveis) quanto a fatores familiares relacionados à comunicação, uso do tempo, ensino, frustração ou satisfação com os comportamentos do filho, necessidade de informação parental sobre temas que auxiliem na educação do filho e expectativas parentais acerca do desempenho do filho?
2. Existe relação entre os níveis de criatividade dos pais e filhos, alunos superdotados e não superdotados e entre os seus pais (ou responsáveis)?

2. MÉTODO

PARTICIPANTES

Participaram do estudo 14 alunos superdotados (5 do sexo feminino e 9 do masculino), 14 alunos não superdotados (9 do sexo feminino e 5 do masculino) e 28 genitores (14 de alunos superdotados e 14 de alunos não superdotados). Os alunos superdotados frequentavam uma sala de recursos do Programa de Atendimento ao Aluno com Altas Habilidades da Secretaria de Educação do Distrito Federal (DF) há 1,8 anos em média. Esta sala estava localizada em área de assentamento urbano de uma Região Administrativa do DF, onde residiam majoritariamente famílias de baixo poder aquisitivo. A idade média dos alunos era de 15,07 anos e variava entre 10 e 19 anos. Oito alunos frequentavam o Ensino Fundamental e seis, o Ensino Médio. Destes, cinco estavam defasados com relação à idade e série. Oito alunos superdotados eram primogênitos, um era unigênito e cinco ocupavam outras posições na família. Dos 14 alunos não superdotados, um era primogênito, cinco eram o segundo filho e oito ocupavam outras posições na família. A idade média desses alunos era de 16,14 anos e variava entre 12 e 20 anos. Dez alunos frequentavam o Ensino Fundamental, e quatro, o Ensino Médio, sendo que destes, oito estavam defasados entre idade e série.
Entre os 14 genitores3 de alunos superdotados, nove eram mães naturais, uma madrasta, uma avó, uma tia e dois pais. A idade média do grupo era de 43,9 anos, variando entre 32 e 68 anos e o nível de escolaridade variava entre analfabetismo e Ensino Médio completo. Oito deles eram donas de casa, três trabalhavam na economia informal e três eram funcionários públicos. Entre os 14 genitores de alunos não superdotados, 12 eram mães naturais, uma mãe adotiva e uma tia. A idade média do grupo era de 43,5 anos e variava entre 32 e 58 anos. O nível de escolaridade variava entre analfabetismo e Ensino Médio Completo. Dessas, cinco eram donas de casa e nove trabalhavam na economia informal ou em serviços domésticos. A renda mensal média das famílias era de R$538,28 (quinhentos e cinquenta e um reais e quarenta e dois centavos) e variou de R$180,00 (cento e oitenta reais) a R$1.000,00 (um mil reais). O salário mínimo vigente à época da coleta de dados era de R$ 200,00 (duzentos reais). A maioria das famílias era assistida por programas de assistência social. Além da renda per capta mensal familiar igual ou inferior a 1 salário mínimo, foram utilizados como critério para inclusão na amostra morar em área de assentamento público e estudar em escola da rede pública de ensino.

INSTRUMENTOS

O Inventário de Sucesso Parental (PSI) tem como objetivo identificar as qualidades e comportamentos favoráveis dos pais na educação dos filhos (STROM; STROM, 1998) e foi traduzido pela primeira autora do artigo. Esse possui duas versões (pais e filhos) e seis subescalas que comparam a percepção dos filhos e pais sobre as atitudes e práticas parentais relacionadas à comunicação, uso do tempo, ensino, frustração, satisfação e necessidade de informação. Cada subescala é composta por questionário do tipo likert com ancoragem de quatro pontos que vai de "concordo totalmente" a "discordo totalmente", na versão dos pais; e de "sempre" a "nunca", na versão dos filhos. São exemplos de itens das subescalas: "Meu pai, mãe ou parente vê o lado positivo das situações", "Converso sobre namoro com o meu (minha) filho(a)", " Permito que meu(minha) filho(a) tome decisões sobre o uso de seu tempo", "Meu pai, mãe ou parente fica frustrado(a) com meus hábitos de estudo". O nível de consistência interna geral do instrumento variou entre 0,88 a 0,96 e o índice para cada subescala entre 0,67 a 0,93 (STROM; STROM, 1998). Este inventário foi utilizado com amostras de minorias étnicas, de superdotados, de imigrantes e de pais de crianças com deficiência mental, tendo demonstrado sua aplicabilidade a variadas culturas e sua eficiência em prover informações que ajudam na compreensão da interação entre a família e a escola (STROM; STROM, 1998).
O Teste do Pensamento Criativo - Produção de Desenhos (TCT-DP) foi desenvolvido por Urban e Jellen (1996) e tem por finalidade avaliar o nível de criatividade, identificar indivíduos com alto potencial criativo, estudar efeitos de exercícios e treinamentos de criatividade e auxiliar em atividades de aconselhamento. O teste consiste numa folha contendo seis fragmentos diferentes que devem ser utilizados de forma livre. O desenho produzido é avaliado de acordo com 14 critérios: (a) continuação, uso ou extensão de elementos; (b) complementação, adição ou suplementação dos elementos; (c) novos elementos, símbolos ou figuras; (d) conexões feitas com linhas ligando qualquer um dos elementos do desenho ou fragmentos; (e) conexões que auxiliam na produção ou composição de um tema; (f) utilização do fragmento que está fora da moldura; (g) ultrapassagem dos limites da moldura; (h) perspectiva ou tentativa de bidimensionalidade; (i) humor, afetividade ou expressividade; (j) manipulação da folha de teste; (l) uso de elementos abstratos, surrealistas ou de ficção; (m) uso de símbolos ou signos; (n) uso não estereotipado de figuras e (o) rapidez ou velocidade para a execução do teste. A validade de construto do TCT-DP foi apresentada por Urban e Jellen (1996) e os resultados da análise fatorial indicaram uma alta carga dos fatores mensurados (0,48 a 0,78). O índice de fidedignidade entre juízes variou de 0,89 a 0,97. O TCT-DP garante um maior ajuste cultural, uma vez que usa a modalidade de desenho e é de fácil aplicação. Além disso, esse teste mostrou-se mais adequado aos objetivos do estudo, uma vez que alguns pais eram analfabetos ou tinham baixo nível de escolarização (URBAN; JELLEN, 1996; MAIA-PINTO; FLEITH, 2004).
Um questionário foi elaborado pela primeira autora do artigo com a finalidade de mapear características demográficas, aspectos das relações sociais e familiares e características pessoais e motivacionais do superdotado e sua família. As questões eram fechadas com opções para completar, exemplo: O que eu mais aprecio, nas horas vagas é, atividades desenvolvidas com o(a) meu(minha) pai, mãe ou responsável, atividades desenvolvidas com o(a) meu(minha) pai, mãe ou responsável, atividades que costumo fazer com frequência, habilidades pessoais - coisas que faço bem ou com facilidade, o que você considera importante para a sua formação futura.

PROCEDIMENTOS

Os alunos superdotados foram convidados oralmente, pela pesquisadora, a participar do estudo, juntamente com seus genitores após reunião ordinária de pais promovida pelos professores da sala de recursos do Programa de Atendimento aos Alunos com Altas habilidades/Superdotação. Os alunos não superdotados frequentavam as mesmas turmas dos alunos superdotados na escola regular e foram convidados oralmente em sala de aula. Aqueles que aceitaram o convite receberam informações detalhadas sobre o procedimento de coleta de dados e seus genitores foram contatados por telefone. Após consentimento por escrito dos responsáveis de ambos os grupos, foram iniciados os procedimentos de coleta de dados. Os instrumentos foram aplicados individualmente em pais e filhos, pela psicóloga do programa, sob a orientação da pesquisadora. A aplicação, com duração média de 40 minutos, foi realizada de acordo com as instruções contidas nos manuais dos instrumentos. Durante esse período, quaisquer dúvidas sobre o preenchimento ou significado de palavras foram esclarecidas. Os instrumentos foram lidos para todos os pais, uma vez que alguns deles possuíam baixo nível de escolarização.

ANÁLISE DOS DADOS

Os dados coletados foram analisados por meio de procedimentos quantitativos inferenciais e descritivos. O teste t foi utilizado para verificar possíveis diferenças entre alunos superdotados, alunos não superdotados e os pais de ambos os grupos de alunos quanto aos escores totais obtidos nas seis subcategorias do PSI (versão dos pais e dos filhos) - comunicação, uso do tempo, ensino, frustração, satisfação e necessidade de informação. A correlação de Pearson foi empregada para avaliar a relação entre os escores de criatividade, medida pelo Teste de Pensamento Criativo - Produção de Desenhos - TCT-DP, dos alunos e pais. Os dados coletados pelo questionário foram analisados por meio de estatística descritiva: média e frequência.

3. RESULTADOS

Os resultados revelaram que a maioria dos alunos superdotados ocupava, na família, a posição de primogênitos e unigênitos. Além disso, 65% destes alunos eram do gênero masculino. O estudo apontou ainda, que quase a metade dos 28 alunos participantes do estudo já haviam sido reprovados pelo menos uma vez em sua trajetória acadêmica e que apresentavam defasagem idade-série.
Com relação ao fator comunicação medido pelo PSI, os resultados indicaram diferenças significativas na percepção do nível de comunicação entre alunos superdotados e seus pais (t[13]=8,454; p=0,001) e entre alunos não superdotados e seus pais (t[13]=8,8,459; p=0,001). Os alunos superdotados avaliaram mais negativamente este fator (M=2,02; DP=0,59) quando comparados a seus pais (M=3,49; DP=0,26). Da mesma forma, os alunos não superdotados (M=1,99; DP=0,63) avaliaram a comunicação entre pais e filhos de forma menos satisfatória do que seus pais (M=3,56; DP=0,30). Sendo assim, pais e filhos possuíam uma percepção diferenciada sobre a quantidade e a qualidade da comunicação parental. Não foram encontradas diferenças entre alunos superdotados e alunos não superdotados (t[13]=0,124; p=0,902) e entre pais de alunos superdotados e pais de alunos não superdotados (t[13]=0,737; p=0,468).
Com relação à quantidade e à qualidade do uso do tempo, os resultados do PSI apontaram para diferenças significativas quanto ao uso do tempo entre alunos superdotados e seus pais (t[13]=3,52; p=0,002) e entre pais dos dois grupos de alunos (t[13]=2,50; p=0,02). Os genitores de alunos superdotados ponderaram o uso do tempo de forma mais positiva (M=3,39; DP=0,32) quando comparados a seus filhos (M=2,87; DP=0,36). Por outro lado, os genitores de alunos não superdotados avaliaram de forma mais satisfatória o uso do tempo (M=3,34; DP=0,32) quando comparados aos pais de alunos superdotados (M=3,03; DP=0,30). Não foram encontradas diferenças significativas entre os alunos superdotados e não superdotados (t[13]=1,094; p=0,284) e entre alunos não superdotados e seus genitores (t[13]=2,502; p=0,20).
Quanto ao uso do tempo, os resultados obtidos por meio do questionário evidenciaram que as atividades semanais realizadas com maior frequência entre pais e filhos superdotados foram: assistir televisão, principalmente novelas e filmes, e conversar sobre temas variados (n>10). Quanto às atividades que envolviam toda a família, sobressaíram entre as famílias com superdotados os passeios ao shopping, zoológico, circo, parque de diversões, cinema e viagens (n>7). Entre as famílias sem superdotados prevaleceram os passeios ao zoológico e parque de diversões (n>10). Com relação ao tipo de atividades individuais, os resultados revelaram que os alunos superdotados estão envolvidos em um leque maior de atividades quando comparados aos demais grupos. As atividades apontadas pelos superdotados foram: assistir televisão, ouvir música, desenhar, estar com amigos, praticar esportes, manipular o computador, montar lego e dançar (n>8). Os alunos não superdotados apontaram como atividades principais nas horas vagas: ouvir música, estar com amigos, esportes e assistir televisão (n>7). Os pais de alunos superdotados apontaram como atividades preferidas: estar com amigos, cuidar de plantas, assistir televisão e ouvir música (n>7). Por outro lado, os genitores de alunos não superdotados informaram como atividades preferidas: cozinhar (n=9), assistir televisão (n=8) e reunir-se com familiares (n=8). Além disso, mais da metade dos alunos superdotados (57,2%) informou passar mais de 5 horas semanais conversando com seus pais, enquanto apenas 21,3% dos alunos não superdotados informaram a mesma quantidade de tempo.
As práticas de ensino implementadas pelos genitores foram avaliadas pelo PSI, apontando para diferenças significativas entre alunos superdotados e seus pais (t[13]=7,684; p=0,0001) e entre alunos não superdotados e seus pais (t[13]=14,775; p=0,0001). Os pais de superdotados (M=3,71; DP=0,29) avaliaram suas práticas mais positivamente do que seus filhos (M=2,04; DP=0,76). O mesmo ocorreu com os pais de alunos não superdotados (M=3,66; DP=0,30) e seus filhos (M=1,61; DP=0,43). Não foram encontradas diferenças entre alunos não superdotados e superdotados (t[13]=1,870; p=0,076), e nem entre pais de alunos superdotados e pais de alunos não superdotados (t[13]=0,516; p=0,610).
Com relação ao nível de satisfação parental, os resultados apontaram para diferenças significativas entre alunos superdotados e seus pais (t[13]=9,536; p=0,0001) e alunos não superdotados e seus pais (t[13]=9,446; p=0,0001). Os genitores de superdotados (M=3,48; DP=0,42) avaliaram a satisfação parental em relação a comportamento dos filhos de forma mais positiva do que seus filhos (M=1,91; DP=0,43). O mesmo ocorreu entre os genitores de alunos não superdotados (M=3,44; DP=0,36) e seus filhos (M=1,92; DP=0,47). Não foram observadas diferenças significativas entre alunos superdotados e não superdotados (t[13]=0,038; p=0,970) e entre pais de alunos superdotados e pais de alunos não superdotados (t[13]=0,265; p=0,794). Não foram encontradas diferenças significativas entre os quatro grupos pesquisados com relação à frustração parental (veja Tabela 1) e necessidade parental de informação sobre temas que auxiliem na educação do filho (veja Tabela 2).
Os resultados associados aos escores de criatividade indicaram que não há correlação entre os desempenhos entre superdotados e seus pais no teste de criatividade (r=0,08; p=0,77) e nem entre pais e filhos não superdotados (r=0,39; p=0,15). Entretanto, ficou evidenciado que tanto os alunos superdotados quanto os não superdotados apresentaram desempenho superior (M=28,39; DP=13,70) quando comparados aos seus pais (M=15,60; DP=9,62). Por outro lado, não foram encontradas diferenças significativas nos escores obtidos no teste de criatividade (t[27]=0,17; p=0,86) entre pais de alunos superdotados (M=15,14; DP=9,62) e não superdotados (M=15,92; DP= 9,01). Todavia, os resultados demonstraram diferenças significativas entre os alunos dos dois grupos quanto aos escores de criatividade, (t[27]=3,28, p=0,006). Os alunos superdotados apresentaram desempenho superior no teste de criatividade (M=35,78; DP=11,24) quando comparados aos alunos não superdotados (M=21,00; DP=12,07).

4. DISCUSSÃO

Os resultados encontrados quanto à posição na família corroboram a literatura que têm sugerido que crianças superdotadas e adultos eminentes ocupam, tipicamente, a posição de primogênitos ou filhos únicos na família (RODGERS, 2001; SIMONTON, 2002; WINNER, 1998; ZAJONC, 2001). Para Downey (2001) e Zajonc (2001), os investimentos parentais assumem dimensões diferenciadas de importância ao longo da vida e a quantidade de filhos demanda uma rede de apoio social que pode impactar o desenvolvimento intelectual. Eles argumentam que cada nascimento afeta as decisões parentais com relação ao tipo de provimento necessário ou obrigatório para o bem-estar de cada filho, o que pode gerar competição pelas melhores oportunidades ou o direcionamento desses recursos e oportunidades para os indivíduos que detêm a responsabilidade social ou cultural de manter o patrimônio da família. Sendo assim, alunos superdotados provenientes de famílias com prole numerosa podem encontrar e ter de superar barreiras adicionais para o desenvolvimento de suas habilidades superiores e talento.
Quanto ao gênero predominantemente masculino de alunos superdotados participantes desse estudo, resultados semelhantes foram encontrados por Maia-Pinto (2002, 2004) e Aspesi (2003) com amostras de alunos atendidos em salas de recursos de outras cidades satélites do Distrito Federal. Algumas possíveis hipóteses para explicar essa discrepância podem estar relacionadas às expectativas e estereótipos sociais ligados ao gênero, a negação do talento por parte de adolescentes do gênero feminino, como forma de adequação ao grupo e o processo de indicação dos alunos. Como a maioria dos alunos foi indicada por professores e a docência é exercida, na educação básica, quase que exclusivamente por mulheres, é possível que a percepção do talento feminino seja enviesada e as habilidades até certo ponto sejam banalizadas pelas professoras em função de expectativas diferenciadas de desempenho entre meninos e meninas. Outros pesquisadores como Reis (1997; 2002) e Siegle e Reis (1998) ressaltam a necessidade de serem traçadas estratégias educacionais específicas para o mapeamento e o desenvolvimento do talento feminino.
Com relação aos resultados encontrados sobre a defasagem idade-série, o Censo Escolar (BRASIL, 2007) indica que os maiores índices de reprovação e abandono, no Distrito Federal, são de alunos de escolas localizadas em cidades satélites e áreas de assentamento urbano devido concentração maior de população de baixa renda. Dessa constatação, emerge a necessidade da escola considerar as diferenças culturais, sociais e individuais de cada aluno, uma vez que muitas das dificuldades de aprendizagem apresentadas por alunos de nível socioeconômico desfavorecido podem decorrer da não acomodação desses alunos aos padrões estabelecidos pela escola (PATTO, 1999).
Nesse sentido, é preciso levar em consideração algumas características próprias de alunos superdotados oriundos de grupos minoritários e de ambiente socioeconômico desfavorecido como sentimento de inadequação, tensão física, rebeldia e resistência a regras sociais instituídas pelos professores, tendência excessiva a crítica, aparente falta de motivação e apatia frente às atividades escolares, impaciência, baixa habilidade de escuta e a natureza pragmática das atividades executadas em casa, que podem levar ao desencorajamento da fantasia (DAVIS; RIMM, 1998; FRASIER; GARCIA; PASSOW, 1995; PASSOW, 1996; WHITMORE, 1980).
Diante disso, ressaltamos a adequação dos processos de identificação e encaminhamento adotados pelo Programa de Atendimento ao Aluno Superdotado no Distrito Federal, cujas características favorecem a identificação desses indivíduos, por se tratar de processo flexível, interdisciplinar, dinâmico e contextualizado, no qual o aluno é observado nas atividades promovidas na sala de recursos, paralelamente a aplicação de instrumentos que avaliam habilidades cognitivas e características afetivas imprescindíveis para o atendimento das demandas peculiares do superdotado. No entanto, é preciso maior investimento em infraestrutura e suporte social (transporte, bolsas de estudo, estágio remunerado na área do talento identificado, subsídios para compra de materiais e desenvolvimento de projetos, merenda escolar) visando garantir a manutenção desses alunos no Programa.
Com relação às categorias avaliadas pelo Inventário de Sucesso Parental - PSI, os resultados evidenciaram que pais e filhos percebem de forma diversa a quantidade e a qualidade da comunicação, uso do tempo, prática de ensino e satisfação parental. Os filhos avaliaram tais aspectos de forma mais negativa que os pais, talvez movidos por suas expectativas em torno da participação dos pais em suas atividades diárias ou no suprimento de necessidades próprias da adolescência, período de transição em que a maioria dos filhos se encontrava. Pode-se deduzir, ainda, que os genitores foram mais propensos a responder o inventário de acordo com a desejabilidade em torno de seu papel social. Por outro lado, as diferenças constatadas entre as famílias giravam em torno das práticas e estilos parentais, em termos da participação na vida acadêmica dos filhos e do fator ensino medido pelo PSI.
Esses resultados indicam uma maior participação dos pais de alunos superdotados na vida acadêmica de seus filhos, o que encontra consonância com outros estudos (CHAGAS, 2007; CHAGAS; FLEITH, 2006; PARKER et al., 1999; WEISSLER; LANDAU, 1993a, 1993b). Os resultados de um estudo longitudinal conduzido por Feldman (1991) assinalaram que as diferenças entre famílias com prodígios e famílias comuns emergem dos padrões de atividades familiares, conjunto de prioridades, locação de recursos e proporção de energia que os membros da família despendem e canalizam para a educação e formação do superdotado.
Os alunos superdotados informaram envolvimento em maior quantidade de atividades durante o tempo livre quando comparados aos alunos não superdotados, confirmando resultados encontrados na literatura, que admitem que os alunos superdotados têm uma propensão a envolver-se com múltiplas atividades em função de seus interesses diversificados e sua hiperexcitabilidade (O'CONNOR, 2002; SILVERMAN, 2002; WINNER, 1998).
Ainda nesta direção, pode-se inferir a influência dos ambientes não-compartilhados sobre o desenvolvimento do superdotado, uma vez que este está envolvido em experiências que os demais membros da família não compartilham, na sala de recursos, em suas horas de lazer e em outras atividades extracurriculares. Segundo Simonton (2002), o ambiente não compartilhado é responsável por tudo o que não pode ser atribuído à hereditariedade, motivo pelo qual os irmãos são tão diferentes, mesmo convivendo juntos na mesma casa e com os mesmos pais.
Quanto à ausência de relação entre os níveis de criatividade dos pais e dos filhos superdotados e não superdotados, os resultados corroboram a literatura, uma vez que até o momento, não foram encontradas evidências que relacionem esses níveis. Em geral, os pesquisadores concordam que existe relação entre clima ou ambiente familiar e criatividade e características ligadas à inteligência (HUDSON; STINNET; LEEPER, 1990).
Por outro lado, ao contrário do resultado obtido entre pais e filhos quanto aos níveis de criatividade, os alunos superdotados demonstraram nível superior de criatividade quando comparados aos alunos não superdotados, o que também confirma a literatura na área, que aponta a criatividade como um dos fatores que caracteriza e diferencia o superdotado de seus pares (ALENCAR; FLEITH, 2001; RENZULLI; REIS, 1997). Entre as principais características de superdotação associadas à criatividade, pode-se destacar: fluência e flexibilidade de ideias, originalidade, pensamento divergente, original e inovador, motivação intrínseca e extrínseca, inconformismo, tolerância à ambiguidade, autonomia, preferência por situações de risco, senso de humor e sensibilidade acentuados (ALENCAR, 2001; CHAGAS, 2007; FLEITH, 2001).
Podemos concluir, com base em nossos resultados, que as famílias com e sem superdotados diferem entre si, principalmente, com relação às práticas parentais em termos de (a) atenção centrada nos interesses e na vida acadêmica dos filhos, (b) maior interatividade entre os membros da família em termos da comunicação de expectativas e tempo despendido em bate-papos e (c) envolvimento em atividades conjuntas. Apesar das famílias investigadas viverem em ambiente socioeconômico desfavorecido e terem genitores com baixo nível de escolaridade, as famílias com superdotados apresentaram características semelhantes às famílias de classe média no que diz respeito à prioridade atribuída à educação dos filhos.
Para pesquisas futuras recomenda-se (a) a investigação do impacto dos valores e crenças familiares sobre a superdotação entre as gerações e dos efeitos da adversidade e privação social (como, por exemplo, a maior exposição a eventos violentos, pobreza, doenças e morte) sobre o desenvolvimento do talento e dos comportamentos de superdotação, (b) a identificação de fatores e estratégias que possam auxiliar no processo de indicação e atendimento de alunos oriundos de ambientes desfavorecidos socialmente e de minorias étnicas (RICHERT, 1996) e (c) a observação e descrição de comportamentos resilientes desenvolvidos por superdotados provenientes de ambientes socioeconômicos desfavorecidos ou de grupos minoritários que favoreçam o desenvolvimento dos talentos. Apresentamos, ainda, como uma das limitações desse estudo, o tamanho da amostra que torna pouco generalizável os seus resultados.

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sábado, 2 de novembro de 2013

A IDENTIFICAÇÃO E O ATENDIMENTO AO SUPERDOTADO

Blog Genialidade e Superdotação, de autoria de Álaze Gabriel.



Autoria:

Eunice M. L. Soriano de Alencar. Professora do Instituto de Psicologia da UNB


INTRODUÇÃO


As questões relativas à identificação e atendimento ao superdotado(1) têm sido objeto de uma atenção crescente em países dos mais diversos continentes. Esta atenção reflete a consciência de que o potencial superior é um dos recursos naturais mais preciosos, responsável pelas contribuições mais significativas ao desenvolvimento de uma civilização. Neste sentido, Sternberg & Davidson (1986) destacam, por exemplo, que, quando se volta à História e se buscam os pilares das grandes civilizações, inevitavelmente as contribuições artísticas, filosóficas e científicas, fruto da inteligência, talento e criatividade de alguns indivíduos ou grupos de indivíduos, são apontadas ou enaltecidas. Observa-se, entretanto, que o interesse por aqueles homens e mulheres dotados de uma habilidade superior sempre existiu em diferentes sociedades. Há vários registros históricos indicando, por exemplo, diferentes momentos em que este interesse veio à tona, como nas propostas de Platão, que defendia a idéia de que aqueles indivíduos com inteligência superior deveriam ser selecionados nos seus primeiros anos de infância e suas habilidades cultivadas em benefício do Estado.

Também há registros de um sistema de exames competitivos elaborado pelos chineses há mais de 2000 anos antes de Cristo, para selecionar crianças que se destacavam por sua inteligência superior,as quais passavamareceber um atendimento especial. Estas crianças eram denominadas "divinas" e encaminhadas à corte, tidas como presságio de prosperidade nacional. Especialmente a imaginação criadora que se manifestava através da poesia e ensaios era altamente valorizada. Na literatura chinesa, não é raro encontrar referências, especialmente a crianças com habilidades excepcionais. Um exemplo seria Li Bai, um famoso poeta chinês, que memorizou a obra de Confúcio quando tinha 5 anos ou Quan De Yu, que começou a escrever poesia aos 4 (Kwok, sem data).

E o objetivo do presente texto discutir alguns aspectos relativos à identificação e atendimento ao superdotado, com vistas a apontar sobretudo para a necessidade de se implementar no Brasil uma educação que atenda também às necessidades daqueles alunos que se destacam por um potencial superior.

E notório que há uma enorme resistência à implementação de um atendimento diferenciado ao superdotado no sistema educacional brasileiro, fruto sobretudo de uma série de idéias arraigadas sobre o superdotado e sobre educação. Uma dessas idéias é a confusão que muitos fazem entre o superdotado e o gênio, esperando do primeiro um desempenho excepcional constante, que se manifestaria desde a mais tenra idade. Uma segunda idéia preconcebida é a supervalorização de fatores genéticos, colocando-se em segundo plano o papel do ambiente para o desenvolvimento das habilidades e competências. Tal idéia seria responsável pela consideração do superdotado como um privilegiado, que apresentaria recursos intelectuais inatos superiores que o habilitaria a sobrepujar as barreiras do ambiente no sentido de expressar o seu potencial superior, independentemente do contexto em que se acha inserido. Em países do terceiro mundo, como o Brasil, onde as carências na área educacional são ilimitadas, é também comum resistir a qualquer proposta de implementação de programas especiais para o superdotado, com o argumento de que seria um absurdo investir nesta área, quando se tem um contingente significativo de analfabetos na população bem como de infradotados e com deficiência física que permanecem sem um atendimento especializado.

Também comum é a expectativa de que o superdotado necessariamente apresentará um rendimento acadêmico excepcional, independentemente das condições de ensino, da metodologia utilizada pelo professor e das pressões de grupo de colegas que comumente são exercidas com relação ao aluno que se destaca por suas idéias ou habilidades marcantes. Estas e outras idéias errôneas(2) estão profundamente enraizadas no pensamento popular, fruto da ignorância, preconceito e tradição, interferindo e dificultando a implantação de programas para o superdotado.


CONCEITUAÇÃO


O ponto de partida para uma discussão sobre identificação e atendimento ao superdotado reside necessariamente na conceituação dos construtos superdotado e superdotação. Observa-se que esta questão tem sido objeto de numerosas discussões, com inúmeras abordagens e concepções.

Sternberg & Davidson (1986), no livro de sua autoria "Concepções da Superdotação" apresentam, por exemplo, 17 concepções distintas da superdotação. Estas refletem abordagens psicológicas e enfoques teóricos bastante diversificados, como a apresentada por Renzulli (1986), Feldhusen (1986), Csikszentmihalyi & Robinson (1986), Gardner (1983) e Tannenbaum (1983). Uma análise destas diferentes concepções indica uma ênfase às vezes no indivíduo, outras na sociedade; no domínio psicológico ou no domínio educacional; em componentes cognitivos apenas ou nas dimensões cognitivase de personalidade. Estas diferentes concepções interrelacionam-se, entretanto, em alguns pontos, sugerindo linhas de pesquisas que certamente contribuem para testar as diversas teorias propostas.

Dentre estes diferentes enfoques, destaca-se o de Renzulli, cujas contribuições teóricas se aliam a práticas de identificação e programas que vêm sendo amplamente implementados em países de diferentes continentes. Dada a sua relevância, parte da contribuição deste autor será brevemente descrita a seguir.

Renzulli destaca inicialmente dois tipos de superdotação. O primeiro, a que se refere como superdotação do contexto educacional ("schoolhouse giftedness") e o segundo a que chama de criativa-produtiva ("creative-productive"). Considera também que ambos os tipos são importantes, que há usualmente interrelações entre os dois e que se deveriam implementar programas para encorajar ambos os tipos.

A superdotação do contexto educacional seria apresentada por aqueles indivíduos que se saem bem na escola, aprendem rapidamente, apresentam um nível de compreensão mais elevado e têm sido os indivíduos tradicionalmente selecionados para participar de programas especiais.

O segundo tipo de superdotação, a que se refere como criativa-produtiva, diz respeito aqueles aspectos da atividade humana onde se valoriza o desenvolvimento de produtos originais. Observa Renzulli que as situações de aprendizagens planejadas para se promover este tipo de superdotação enfatizam o uso e aplicação da informação e os processos de pensamento de uma maneira integrada, indutiva e orientada para problemas reais, distinguindo-se daquelas situações que visam promover a superdotação do primeiro tipo, uma vez que esta tende a enfatizar a aprendizagem dedutiva, o treino estruturado no desenvolvimento de processos de pensamento e a aquisição, armazenagem e reprodução da informação.

Renzulli interessou-se especialmente pelo segundo tipo e, com base em pesquisas sobre pessoas que haviam se destacado por suas realizações e contribuições criativas, propôs a sua concepção de superdotação, que engloba os seguintes aspectos: habilidade bem acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade.

O primeiro aspecto englobaria tanto habilidade geral como habilidades específicas. A primeira consistiria na capacidade de processar informações, integrar experiências e se engajar em pensamento abstrato. As habilidades específicas consistiriam na capacidade de adquirir conhecimento, destreza ou habilidade para realizar uma ou mais atividades do tipo especializado. Renzulli dá como exemplos de habilidades específicas o balé, escultura, fotografia, química e matemática.

Envolvimento com a tarefa - constitui-se no componente motivacional e representaria a energia que o indivíduo canaliza para resolver um dado problema ou uma dada tarefa. Inclui traços como perseverança, dedicação, esforço, autoconfiança, e a crença na própria habilidade de desenvolver um importante trabalho.

Com relação à criatividade, um dos aspectos também presentes na concepção de superdotação apresentada, Renzulli chama a atenção para as limitações inerentes aos testes de criatividade, sugerindo uma análise dos produtos criativos do sujeito como preferível a uma análise de seu desempenho em testes de criatividade.

Uma descrição detalhada das diferentes concepções de superdotação foge aos objetivos do presente texto. Por esta razão, limitar-nos-emos a sugerir a leitura da literatura pertinente e especialmente do texto de Sternberg & Davidson (1986), lembrando que algumas destas concepções foram derivadas de teorias da inteligência, como, por exemplo, da teoria das múltiplas inteligências propostas por Gardner (1983) e a teoria triárquica da inteligência proposta por Sternberg (1985).

E necessário lembrar ainda que a visão da superdotação como composta por muitas facetas tem sido ponto de vista comum entre os estudiosos do assunto,que apontam para uma diversidade de talentos que estariam incluídos no termo SUPERDOTADO. Esta é a perspectiva adotada oficialmente no Brasil, onde a seguinte definição tem sido divulgada nos documentos oficiais do Ministério da Educação:



"São consideradas crianças superdotadas e talentosas as que apresentam notável desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: a) capacidade intelectual superior; b) aptidão acadêmica específica; c) pensamento criador ou produtivo; d) capacidade de liderança; e) talento especial para artes visuais, artes dramáticas e música; f) capacidade psicomotora”


Esta definição tem sido, porém, criticada por alguns estudiosos da área, como Renzulli, especialmente pelo fato de a mesma não incluir fatores motivacionais e pela natureza não parelela das seis categorias. Neste sentido, Renzulli afirma:



"Duas entre as seis categorias (aptidão acadêmica e artes) chamam a atenção para os cantos de atividade humana ou áreas de desempenho nas quais os talentos e habilidades se manifestam. As quatro categorias restantes aproximam-se mais de processos que podem se manifestar em áreas de desempenho. Por exemplo, uma pessoa pode utilizar o processo de criatividade com relação a uma aptidão específica (como química) ou arte visual (como fotografia). De forma similar, os processos de liderança e inteligência geral podem ser aplicados em uma área de desempenho como coreografia... De fato, pode ser dito que processos como criatividade e liderança não existem à parte de uma área de desempenho a que podem ser aplicados" (Renzulli, 1986).


PROCESSOS DE IDENTIFICAÇÃO


Vários são os aspectos que têm sido apontados com relação à identificação. Um deles é o ponto de vista de vários especialistas que consideram a definição ãdotada de superdotado como o fator determinante do procedimento utilizado na identificação. Isto justificaria o processo de identificação em vigor na primeira metade deste século, quando o superdotado era definido como aquele indivíduo com um QI superior, e quando o processo de identificação se reduzia simplesmente na aplicação de um teste de inteligência geral, como o Stanford-Binet, ou o Teste de Matrizes Progressivas de Raven.

Em décadas mais recentes, a natureza multidimensional do conceito passou a ser enfatizada, passando os responsáveis pelos programas para o superdotado a utilizar uma multiplicidade de procedimentos, como testes de inteligência, criatividade, dados sobre o rendimento acadêmico, complementados com a observação do professor e questionários e escalas respondidos pelo próprio aluno.

Nas duas últimas décadas, várias escalas foram também desenvolvidas paraserem utilizadas pelos professores com vistas a estimar as características do aluno nas áreas de aprendizagem, motivação, criatividade, liderança. Como se sabe, em algumas áreas como criatividade, várias limitações inerentes aos testes têm sido apontadas, o que tem levado os especialistas a sugerir métodos alternativos de identificação dos alunos mais criativos.

Também passou-se a considerar que a identificação deveria variar conforme as características e objetivos do programa proposto para o superdotado. Desta forma, em um programa na área artística, a identificação certamente implicará em uma metodologia que avalia aspectos diversos do talento em questão. De forma similar, se a proposta do programa é atender aqueles alunos que se destacam na área de matemática ou ciências, isto irá implicar na identificação de habilidades específicas relativas a estas áreas. Por outro lado, se a proposta é identificar alunos universitários que se destacam por suas habilidades superiores, naturalmente o procedimento de seleção e identificação será certamente diferente daquele proposto para alunos da pré-escola ou primeiro grau.

De forma similar, para a identificação de alunos com um potencial superior provenientes do meio rural ou das camadas mais pobres da população, cuidados especiais devem ser tomados, uma vez que os testes e outros instrumentos de identificação disponíveis são mais adequados para a população de classe média. Neste grupos, grau de interesse e motivação, originalidade de pensamento, além de traços de personalidade, como iniciativa e persistência, devem ser especialmente considerados, apesar de sabermos que tanto o desenvolvimento cognitivo como os traços de personalidade são profundamente afetados pelas experiências culturais do indivíduo.


O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO


Muitas têm sido as propostas implementadas por sistemas educacionais de diferentes países para atender ao aluno que se destaca por suas habilidades superiores(3). Estas se enquadram tradicionalmente em três grandes grupos - enriquecimento, aceleração e segregação -levadas a efeito tanto na própria escola onde o aluno estuda, como em outros locais disponíveis, como em museus ou universidades. Nota-se ainda que, em vários países, muitos dos programas montados têm sido em áreas consideradas prioritárias pelo Estado, como Matemática e Ciências. A título de ilustração, poder-se-ia lembrar o programa de Ciências qúe é oferecido na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, para 500 alunos do ensino de segundo grau, que se destacam por seu desempenho acadêmico e que são convidados a participar de cursos e seminários aos sábados. Também muito conhecido é o programa para alunos com habilidades matemáticas superiores na Universidade John Hopkins, o qual tem recebido crianças e jovens que aí participam de um programa de alto nível. É o interesse deste programa atender àquele aluno com raciocínio matemático mais elevado e que tenha um potencial de se transformar em um notável engenheiro, matemático ou cientista, em áreas que exijam grande habilidade quantitativa.

Outro exemplo são os programas que têm sido oferecidos no Instituto para a Promoção de Artes e Ciências, ligado ao Museu Haaretz e à Universidade de Tel-Aviv, em Israel, onde anualmente várias centenas de crianças e jovens têm tido oportunidade de desenvolver as suas habilidades e talentos, através de cursos que enfatizam sobretudo a criação de idéias. Este Instituto vem oferecendo uma grande diversidade de cursos, desde a sua fundação, utilizando como um dos critérios para participação nos mesmos resultados superiores em testes de inteligência.

As escolas especiais para talentos acadêmicos, como aEscola de Matemática eCiências de Moscou, subvencionada pela Universidade de Estado de Moscou, juntamente com os Jogos Olímpicos ligados às matérias escolares - Matemática, Física, Química, Biologia, Literatura - e várias das atividades desenvolvidas nas Casas e Círculos dos Pioneiros, ilustram as provisões levadas a efeito na Rússia.

No Brasil, há vários programas para o superdotado. Em Brasília, por exemplo, a Fundação Educacional do Distrito Federal deu início em 1975 a um programa para alunos superdotados do ensino de primeiro grau, que inclui atividades de enriquecimento e aprofundamente curricular. Também em Minas Gerais, um programa de atendimento ao aluno superdotado do meio rural e periferia urbana foi iniciado pela professora Helena Antipoff , no início da década de 70, programa que vem sendo coordenado pelo professor Daniel Antipoff. As atividades propostas neste programa têm sido sobretudo durante as férias. Elas visam o enriquecimento das experiências do aluno e o desenvolvimento de suas habilidades, canalizando os seus interesses e curiosidade através de investigações e experiências.

Quanto aos objetivos propostos para os diversos programas, alguns dos que têm sido usualmente encontrados são apresentados a seguir:



Ajudar aqueles indivíduos, com um alto potencial, adesenvolver ao máximo os seus talentos e habilidades; Fortalecer um autoconceito positivo; Ampliar as experiências desses alunos em uma diversidade de áreas; Desenvolver no aluno uma consciência social; Incrementar um clima de aprendizagem que resulte em maior produtividade; Favorecer o ajustamento pessoal e social.


De forma similar, algumas características têm sido consideradas como importantes de serem apresentadas pelos professores responsáveis pela implementação do programa. Algumas destas características são: boa preparação; experiência de ensino; criatividade e flexibilidade; senso de humor; confiança nos alunos; entusiasmo.

Especialmente a preparação dos professores para atender adequadamente a este grupo de alunos tem recebido uma grande atenção. É relevante lembrar que não basta que o professor domine a sua área de conhecimento. É importante que ele utilize também estratégias que favoreçam o desenvolvimento integral do aluno, que possibilite o treino de habilidades cognitivas diversas, criando ainda em sala de aula um ambiente favorável à exploração e à descoberta, à produção de idéias e de conhecimento.

Para finalizar, é necessário destacar a necessidade de uma maior divulgação entre educadores e psicólogos brasileiros do enorme desperdício de talento e potencial humano em nosso País decorrente de uma visão limitada de educação e das poucas possibilidades oferecidas ao desenvolvimento e expressão da inteligência, da criatividade e do talento. Vivemos em um momento da História caracterizado por uma necessidade crescente de indivíduos com competência acentuada nas mais diversas áreas. São os superdotados aqueles que certamente maiores contribuições poderão dar à sociedade, desde que sejam reconhecidos, identificados e tenham o seu potencial superior desenvolvido e aproveitado. Cabe a todos nós, psicólogos e educadores, contribuir para que isto se concretize.

                                             

NOTAS


(1) Este texto se baseia em uma palestra proferida durante o 1º Congresso Nacional de Psicologia Escolar, em novembro de 1991. Está prevista a sua publicação nos anais desse evento.

(2) Discuto as diversas idéias errôneas sobre o superdotado no texto de minha autoria "Psicologia e Educarão do Superdotado" (Alencar, 1986).

(3) As idéias aqui contidas foram apresentadas no artigo "O Estímulo ao Talento e à Excelência" (Alencar, 1986).


BIBLIOGRAFIA


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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

CARACTERÍSTICAS SÓCIO-EMOCIONAIS DO SUPERDOTADO: QUESTÕES ATUAIS


Blog GENIALIDADE E SUPERDOTAÇÃO, de autoria de Álaze Gabriel.


 Autoria:

Eunice M. L. Soriano de Alencar. Doutora. Professora do Programa de Pós-graduação em Educação e em Psicologia da Universidade Católica de Brasília.


RESUMO. É o objetivo principal do artigo focalizar características sócio-emocionais do superdotado. Nota-se que essa dimensão, apesar de sua importância, vem recebendo menor atenção dos estudiosos da área do que habilidades cognitivas e necessidades educacionais do superdotado. Entre outros aspectos, a assincronia entre distintas dimensões do desenvolvimento, o perfeccionismo, a hipersensibilidade, o subrendimento são discutidos, apresentando-se fatores a eles associados bem como estudos nos quais distintas características sócio-emocionais do superdotado foram investigadas. O artigo finaliza apontando a necessidade de orientação ao superdotado e a sua família e de um sistema educacional que reconheça e atenda as necessidades desse aluno nas distintas esferas – intelectual, social e emocional.


Palavras-chave: superdotados, características sócio-emocionais, ajustamento.


INTRODUÇÃO


Quando se examinam os objetivos de programas para o superdotado, observa-se que, embora o desenvolvimento de habilidades cognitivas seja o aspecto mais freqüentemente enfatizado, outros objetivos relativos à dimensão sócio-emocional também se sobressaem, como, por exemplo, favorecer o ajustamento pessoal e emocional do superdotado, promover o seu desenvolvimento social e fortalecer um autoconceito positivo (Alencar, 1986; Alencar & Fleith, 2001; Arn & Frierson, 1971, Tannenbaum, 1983). Nota-se, entretanto, que o foco central das propostas educacionais tem sido direcionado para a área cognitiva (Alencar & Fleith, 2001; Colangelo & Assouline, 2000; Passow, Mönks & Heller, 1993).

Uma atenção significativamente menor tem sido dirigida ao desenvolvimento afetivo, como sentimentos, valores, motivação, atitudes e autoconceito. E ainda que as necessidades de aconselhamento, embora reconhecidas há longa data, apenas recentemente passaram a ser enfatizadas.

Ademais, uma análise da literatura na área da superdotação indica que a dimensão sócio-emocional, apesar de sua importância, vem recebendo menor atenção do que as características cognitivas e necessidades educacionais do superdotado. Observa-se que o número de publicações a respeito dessa dimensão, embora crescente, é relativamente menor comparativamente a outros tópicos, como identificação de superdotados e modalidades de programas que visem atender às necessidades educativas desse grupo. Um exame dos anais de distintas conferências do Conselho Mundial para o Superdotado e Talentoso apontou, por exemplo, que um percentual muito reduzido dos resumos incluídos focalizaram questões relativas à auto-estima, subrendimento, problemas emocionais, como perfeccionismo e isolamento, educação afetiva, desenvolvimento assincrônico, entre outros tópicos relativos ou interligados à dimensão sócio-emocional.

Na 13a Conferência desse Conselho, realizada em Istambul em 1999, apenas 6% dos 127 trabalhos  apresentados referiam-se a aspectos sócio-emocionais da superdotação. Por outro lado, na última conferência desse Conselho, realizada em 2005, em Nova Orleans, Estados Unidos, observou-se um volume e diversidade maior de tópicos referentes à dimensão sócioemocional nas apresentações realizadas, embora o porcentual de trabalhos, com foco central nessa dimensão, fosse ainda relativamente baixo (pouco mais de 10% dos 301 resumos incluídos nos anais). Há um reconhecimento de que, apesar dos avanços das pesquisas na área, há muitas questões em descoberto, visões díspares a respeito do ajustamento do superdotado, posições divergentes e contraditórias fundamentadas em pesquisas diversas e um conhecimento incompleto a respeito de estratégias efetivamente eficientes para minorar dificuldades no domínio sócio-emocional. Observa-se também uma predominância de estudos de caso e pesquisa qualitativa, de natureza clínica, com amostras reduzidas, especialmente em investigações relativas ao subrendimento, que é uma das questões que mais vêm interessando e intrigando educadores e estudiosos da área.

É o objetivo central do presente texto focalizar algumas dimensões do ajustamento e desenvolvimento sócio-emocional do superdotado. É necessário ressaltar, entretanto, que o foco será o superdotado que se destaca na área intelectual e/ou acadêmica, o qual vem sendo alvo de maior número de estudos. Sabe-se que predomina nos dias atuais a idéia de que a superdotação englobaria uma diversidade de facetas, sendo considerados superdotados não apenas aqueles indivíduos que se sobressaem em testes tradicionais de inteligência ou na área acadêmica, mas também os que apresentam um desempenho elevado na área artística ou psicomotora, além de capacidade de liderança.

Ademais, novas teorias a respeito da inteligência surgiram, como a teoria de Howard Gardner (1983, 1993) sobre inteligências múltiplas, ampliando e ressaltando um número maior de expressões de competência intelectual. Nota-se que algumas das inteligências propostas por Gardner, como a intrapessoal e a interpessoal, eram pouco discutidas pelos estudiosos da superdotação e, até anos recentes, possíveis dificuldades sociais e emocionais de crianças e jovens que se sobressaiam em algumas das inteligências propostas por esse teórico não eram objeto de investigação (Webb, 1993).

Constata-se ainda uma pluralidade de concepções a respeito de quem seriam os alunos superdotados. Isto tem um impacto direto nos instrumentos e estratégias utilizadas no processo de identificação daqueles encaminhados para programas especiais. Robinson (2002) observou, por exemplo, que, nos Estados Unidos, as definições adotadas pelas escolas variam amplamente.

Conseqüentemente, alunos que seriam selecionados para um programa não o são para outros. Este é mais um fator que contribui para resultados díspares de pesquisas a respeito de determinadas facetas da superdotação, uma vez que é freqüente serem utilizadas amostras reduzidas e oriundas, muitas vezes, de uma única escola ou programa.


PROBLEMAS EMOCIONAIS E DE AJUSTAMENTO


Quando se examinam as publicações a respeito do ajustamento sócio-emocional do superdotado, observam-se resultados discrepantes entre as pesquisas e controvérsia a respeito da extensão em que crianças e jovens intelectualmente superdotados teriam maior predisposição para apresentar problemas sociais e emocionais. Uma análise feita, por Webb (1993), indicou, por exemplo, que enquanto há autores que defendem a idéia de que os alunos superdotados apresentam uma predisposição a dificuldades sócioemocionais, outros apontam a direção contrária, ressaltando a inexistência de evidência de maior grau de dificuldades sócio-emocionais. Em um estudo realizado, por exemplo, por Lehman e Erdwins (2004), com uma amostra de 16 crianças superdotadas, foi constatado que essas crianças apresentaram habilidades sociais que as ajudavam em suas relações interpessoais, sentimentos mais positivos a respeito de si mesmas, além de maior maturidade em suas interações com os pares. Também Baker (2004) observou que, embora muitos educadores acreditem que estudantes superdotados tenham maior predisposição à depressão e idéias suicidas, não há evidência empírica que substancie tal posição.

Para Gross (2002), a maior parte dos estudos realizados a respeito do ajustamento sócio-emocional tem utilizado amostras de alunos que não se caracterizam por uma inteligência excepcionalmente elevada, por exemplo, um QI acima de 160. São os alunos excepcionalmente inteligentes aqueles que enfrentam maior número de situações que poderão ter um impacto negativo no seu desenvolvimento sócioemocional.

Isto está em consonância com as observações de Alencar (2001; Alencar & Virgolim, 1999) segundo a qual, dependendo do grau da inteligência, aliado a outras variáveis, como classe social, gênero, possibilidades de contato com colegas de nível similar de inteligência e oportunidades de um atendimento educacional especial, dificuldades de ajustamento poderão ou não ser observadas.

É notório que Terman (1965), que realizou um dos estudos mais conhecidos na área, com uma amostra de 1528 indivíduos superdotados, identificados através de testes de QI durante a sua infância e acompanhados ao longo de várias décadas, chamou a atenção para o fato de que, contrário à idéia prevalente no início do século XX, os superdotados apresentavam, além de uma inteligência superior, um desenvolvimento físico mais acelerado, eram mais ajustados socialmente e mais estáveis do ponto de vista psicológico. Entretanto, a sua amostra tinha um QI médio de 150, sendo todos os participantes da pesquisa de status sócio-econômico médio, e muitos deles também apontados pelos seus professores para compor a referida amostra. O próprio Terman reconheceu, entretanto, que as crianças que tinham um QI extremamente elevado (acima de 170) apresentavam dificuldades de ajustamento social, sendo considerados pelos seus professores como solitários e pouco hábeis no seu relacionamento com pares (Burks, Jensen & Terman, 1930, em Gross, 2002). Outras pesquisas, como o estudo clássico de Hollingworth (1942) e de Gross (1993, 2002), com amostras de alunos com QI extremamente elevado (igual ou superior a 180), têm apontado problemas de ajustamento e dificuldades emocionais, que são menos freqüentes entre superdotados cujo QI esteja na faixa de 130 a 170. Hollingworth, que realizou há mais tempo um estudo com alunos que apresentavam um QI muito elevado (pelo menos de 180) constatou, por exemplo, três problemas principais na amostra por ela estudada. O primeiro dizia respeito a ausência de hábitos adequados de trabalho no ambiente escolar. De modo geral, estes alunos não se empenhavam na escola e passavam considerável tempo alheios e sonhando acordado. Para eles, a freqüência à escola era tida como perda de tempo, dada a distância entre as demandas da escola e as suas competências pessoais.

Um segundo problema observado foi a dificuldade por parte dos mesmos em suas relações sociais. Embora se empenhassem para ter amigos, o seu grupo de idade não compartilhava de seus interesses, o que dificultava a sua interação, levando-os a se isolar. Um terceiro problema observado foi uma certa vulnerabilidade emocional, explicada por Hollingworth em função da capacidade destes alunos de entender e se envolver com questões éticas e filosóficas, antes de estarem emocionalmente maduros para lidar com tais questões (Hollingworth, 1942).

Hollingworth observou, entretanto, que mudanças radicais ocorriam no comportamento de alunos excepcionalmente inteligentes, quando tinham oportunidade de passar a interagir com pares similares em inteligência. Alunos que, por exemplo, eram retraídos, socialmente distantes, pouco participativos nas atividades escolares, uma vez em contato com grupos de idade mental similar, passavam a atuar de uma forma adequada, dando contribuições significativas nas atividades de grupo e se comportando como um indivíduo socializado e feliz (em O’Shea, 1965).

Também Gross (1993, 2002) constatou, em estudo realizado na Austrália, que a grande maioria dos alunos excepcionalmente inteligentes que não tinham tido oportunidade de serem acelerados, apresentavam níveis mais baixos de motivação e auto-estima e mais freqüentemente eram rejeitados por seus colegas de escola. Com relação aos alunos excepcionalmente inteligentes, a autora (1993) ressalta:

Estudantes excepcionalmente inteligentes diferem de forma radical de outros moderadamente superdotados não apenas em seu desenvolvimento cognitivo, mas em seu crescimento afetivo, desenvolvimento moral, interesses recreativos, interesses de leitura, escolha de amizades, atitudes e valores, além da maneira como vêem o mundo... Esses estudantes correm sério risco de isolamento social e rejeição pelos pares, a menos que o sistema educacional proporcione a eles um grupo de colegas baseado não em idade cronológica, mas em habilidades, interesses comuns e nível desenvolvimental (p. 497).

Observações similares às de Hollingworth e Gross quanto ao isolamento de alunos com inteligência extremamente elevada foram feitas por nós em um estudo de caso com um aluno de inteligência excepcionalmente elevada, cujo QI era de 172 e que obteve no Scholastic Aptitude Test 710 pontos na parte de matemática quando tinha 11 anos e 10 meses, resultado este correspondente ao percentil 96 de amostras universitárias norte-americanas (Alencar & Fleith, 1996). O aluno que, na época em que os dados a seu respeito foram coletados, tinha 12 anos, era, segundo seus professores, reservado, quieto e preferia trabalhar isoladamente. Tinha poucos amigos, o que era explicado por seus professores em função da diferença de idade entre ele e seus colegas de classe.

Muitos dos problemas que se observam entre alunos que se destacam por um potencial superior têm a ver com o desestímulo e frustração sentida por eles diante de um programa acadêmico que prima pela repetição e monotonia e por um clima psicológico em sala de aula pouco favorável à expressão do potencial superior. A escola não atende, de forma adequada, os alunos que apresentam habilidades intelectuais superiores, o que ajuda a explicar a apatia e ressentimento apresentados freqüentemente por estes alunos.

Uma análise do que ocorre com a maior parte dos alunos que apresentam habilidades intelectuais significativamente superiores na escola foi feita por Terrassier (1981), que chama de "efeito pigmalião negativo" o que acontece no ambiente acadêmico.

Nota-se que “efeito pigmalião” foi um termo introduzido por Rosenthal e Jacobson, em 1968, para chamar a atenção para resultados observados por estes autores em estudos nos quais professores, que foram informados a respeito da competência acadêmica e intelectual superiores de alguns alunos escolhidos ao acaso, passaram a agir de forma diferenciada com relação a estes alunos, levando-os efetivamente a apresentar um desempenho que correspondia à avaliação que os seus professores haviam recebido a seu respeito. No caso do aluno que apresenta um potencial superior, aspecto este, porém, desconhecido pelo professor, um fenômeno inverso pode ocorrer.

Como o professor não tem idéia do potencial real de alunos que apresentam habilidades superiores ou uma precocidade intelectual, ele passa a esperar do mesmo um desempenho na faixa da média, encorajando-o a apresentar um desempenho muito aquém de suas reais capacidades. Isto, segundo Terrassier, dificultaria ao superdotado expressar o seu potencial. Acresce-se ainda a influência do grupo de colegas da mesma série e/ou idade, que também têm expectativas sobre os seus colegas mais brilhantes, gerando pressão que podem levá-los a um desempenho muito aquém de suas possibilidades intelectuais, a par de várias dificuldades de natureza emocional.

O descompasso entre o desenvolvimento intelectual e o emocional é também fonte de tensões e origem de desajustamento e quanto maior o grau de assincronia, maior a probabilidade de problemas de ajustamento de ordem social e emocional (Silverman, 2002). Landau (1990) lembra este descompasso e a necessidade de que o superdotado seja compreendido com relação a este aspecto, destacando:

Em algumas situações, vejo a criança superdotada como o atleta que corre longas distâncias. À frente de outras crianças, no entanto, apenas intelectualmente ou em campos específicos. Se não nos mantivermos a seu lado, para ensiná-la a vencer o intervalo entre o desenvolvimento emocional cronológico e o intelectual, mais adiantado, ela se sentirá dividida, solitária e usará toda a sua energia para tentar equilibrar esses extremos de sua personalidade (p. XXIV).

Esta assincronia entre distintas dimensões do desenvolvimento tem sido sistematicamente apontada por distintos autores, como Coleman e Cross (2000), Moon, (2004), Peterson (2003) e Silverman (1993, 2002). Foi talvez Hollingworth a primeira pesquisadora a chamar a atenção para este aspecto, ao destacar que ter a inteligência de um adulto e as emoções de uma criança em um corpo de criança envolve certas dificuldades (Silverman, 1993). É comum, por exemplo a família esperar comportamentos típicos de uma criança mais velha por conta das habilidades intelectuais mais avançadas, o que, entretanto, não ocorre, gerando insatisfação e irritação de ambas as partes. Estas dificuldades são penosas de se lidar, tanto pela criança quanto pela sua família.

Esta última se espanta com as reações da criança superdotada, uma vez que espera dela um comportamento com base unicamente na sua capacidade intelectual mais avançada. O desenvolvimento heterogêneo de diferentes áreas foi também analisado por Terrassier (1979), que propôs o termo “síndrome da dissincronia” para caracterizar a disparidade entre diferentes facetas do desenvolvimento do superdotado. Este autor contrasta dois tipos de dissincronia. Uma, de ordem interna, que ocorre no interior da própria criança e outro entre a criança e seu ambiente, incluindo tanto a escola como a família.

A dissincronia de ordem interna diz respeito aos diferentes ritmos de desenvolvimento que podem ser observados entre as áreas intelectual, psicomotora, lingüística e afetivo-emocional. Terrassier lembra, por exemplo, que é muito freqüente o superdotado aprender a ler facilmente em uma idade precoce, encontrando, porém, dificuldades na área da escrita. A discrepância entre o nível mental e os níveis psicomotor e gráfico, estes últimos muito mais de acordo com a idade cronológica do que a idade mental, é mais freqüentemente observada entre meninos, fazendo com que muitos se sintam frustrados diante de sua inabilidade de usar as mãos na mesma velocidade de seu ritmo mental, levando-os a reagir inicialmente com tentativas de controle, que mal-sucedidas geram ansiedade, o que, por sua vez, leva a uma escrita ainda mais irregular acompanhada de sentimentos de desconforto e frustração.

Outra disparidade comum é o aluno ter uma habilidade matemática excepcional, sendo, porém, medíocre em ortografia e escrita. Como a escola tende a esperar que o aluno progrida de uma maneira homogênea em diferentes disciplinas, isto pode gerar dificuldades para o aluno, sobretudo de natureza emocional.

Também a discrepância entre o desenvolvimento intelectual e a maturidade afetiva é analisada por Terrassier (1979). Este autor considera que o superdotado pode ser, por exemplo, dominado pelo medo e ansiedade oriundos de reflexões que faz a respeito de problemas enfrentados pela humanidade ou a partir de leituras sobre temas geradores de ansiedade, com as quais ele não sabe lidar.

Apesar de ser o desenvolvimento assincrônico bastante discutido pelos especialistas da área, segundo Silverman (2002), o mesmo não foi ainda estudado de forma sistemática, sendo a vasta maioria da literatura, referente a esta faceta do desenvolvimento, baseada em observações clínicas de indivíduos superdotados, com base na análise de sua experiência fenomenológica.

O perfeccionismo, excesso de autocrítica, sensibilidade exacerbada, entre outras características associadas à dimensão emocional, têm sido também apontados com possíveis fontes de stress para crianças e jovens com altas habilidades intelectuais. O perfeccionismo diz respeito a “uma combinação de pensamentos e comportamentos geralmente associados a altos padrões ou expectativas com relação ao próprio desempenho” (Schuler, 2002, p. 71), variando em uma gradação que vai do normal ou saudável ao neurótico ou não-saudável. Estudos realizados por Schuler (2000, 2002; Schuler & cols., 2003) e Moreira (2005) constataram que muitos superdotados apresentam o perfeccionismo que se caracteriza como saudável, constituindo-se em uma influência positiva para a sua realização pessoal. Estes estabelecem altos padrões de desempenho, dedicam-se com afinco e comprometimento na realização das tarefas referentes às metas que almejam alcançar, têm expectativas mais realistas com relação a si mesmos, apresentam sentimentos de prazer ao perceber o resultado positivo de seus esforços, reconhecendo e aceitando tanto os seus pontos fortes quanto as suas limitações. Por outro lado, os perfeccionistas neuróticos são incapazes de se sentirem satisfeitos com o seu próprio desempenho, uma vez que consideram que o que fazem nunca atinge o nível que gostariam. É comum refazerem o mesmo trabalho muitas vezes, investindo uma grande quantidade de tempo e energia para alcançar o nível de qualidade que desejam nas tarefas realizadas. São ainda dominados pelo medo do fracasso, excessivamente autocríticos e altamente sensíveis às críticas externas, além de considerarem os próprios erros, não como uma oportunidade para aprender, mas antes como algo humilhante, a ser evitado a todo custo.

É freqüente apresentarem-se como ansiosos, preocupados e inseguros a respeito de seu desempenho. No Brasil, um estudo realizado por Moreira (2005), com uma amostra de 51 estudantes superdotados, que freqüentavam o programa para alunos com altas habilidades da Secretaria de Educação do Distrito Federal, indicou que 34 (66,67%) se classificaram como perfeccionistas saudáveis e 10 (19,61%) como perfeccionistas não-saudáveis. Um percentual similar de perfeccionistas foi observado em estudo realizado por Schuler (2000), com uma amostra de 112 alunos superdotados, dos quais 98 se identificaram como perfeccionistas. Entretanto, deste total, 65 (58,03%) da amostra total foram classificados como saudáveis e 33 (29,46%) como não-saudáveis.

Tais resultados chamam a atenção para um número significativo de alunos superdotados que necessitam de assistência, no sentido de que possam compreender e lidar melhor com a psicodinâmica de sua conduta, buscando reverter a dimensão disfuncional e destrutiva do perfeccionismo que apresentam.

A sensibilidade e intensidade emocionais observadas entre superdotados têm sido examinadas especialmente à luz da teoria de Dabrowski do desenvolvimento emocional (O’Connor, 2002; Piechowski, 1991). Esse psiquiatra polonês, que estudou a saúde mental de superdotados nas áreas intelectuais e artísticas, propôs a teoria da desintegração positiva, identificando altos níveis de excitabilidade, que se manifestariam em distintas dimensões da vida psíquica (psicomotora, sensorial, intelectual, emocional e imaginativa), considerados por ele como catalisadores para um desenvolvimento emocional mais avançado. Distintas escalas foram construídas para avaliar os altos níveis de excitabilidade. Estratégias foram também elaboradas, com base nessa teoria, para ajudar o superdotado a lidar e apreciar essa característica de seu desenvolvimento emocional, que tradicionalmente é pouco compreendida por pais e professores.

Um dos tópicos que vêm sendo objeto de intensa discussão por parte dos estudiosos da superdotação, em especial daqueles interessados nas necessidades sócioemocionais do superdotado, é o fenômeno do subrendimento. Este tem sido, por exemplo, o problema mais focalizado no programa de Aconselhamento Familiar do Centro Internacional Connie Belin & Jacqueline N. Blank para a Educação do Superdotado e Desenvolvimento do Talento da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos (Colangelo & Assouline, 2000). Embora não haja pleno acordo quanto à sua definição, poder-se-ia ressaltar que o que caracteriza o subrendimento é uma elevada discrepância entre o desempenho acadêmico e indicadores de um alto potencial intelectual, como, por exemplo, resultados em testes de inteligência (Butler- Por, 1993; Colangelo & Assouline, 2000; Passow, Mönks & Heller, 1993).

Entre os fatores que contribuem ou estão associados ao subrendimento, poder-se-iam apontar tanto características individuais quanto elementos da família, escola e sociedade. Os distintos fatores relacionam entre si de maneira interdependente e complexa. Entre as características individuais, ressaltam-se, entre outras, uma baixa auto-estima, depressão, ansiedade, perfeccionismo, irritabilidade, não-conformismo, hostilidade e comportamento agressivo, lócus de controle externo, impulsividade e déficit de atenção (Alencar, 2001; Butler-Por, 1993; Colangelo & Assouline, 2000; Peterson, 2003; Reis & McCoach, 2002, Rimm, 1991). Baixas expectativas parentais, atitudes inconsistentes dos pais a respeito das realizações do filho, excessiva pressão dos pais em relação ao desempenho acadêmico, conflitos familiares e clima predominante no lar, refletindo em menor grau de apoio, segurança e compreensão das necessidades da criança ou jovem são características da família que podem também contribuir para o subrendimento do aluno.

Um ambiente acadêmico pouco estimulante, métodos de ensino centrados no professor, excesso de exercícios repetitivos, baixas expectativas do professor com relação ao desempenho do aluno, pressão ao conformismo, procedimentos docentes rígidos, com estandardização do conteúdo, aliado ao pressuposto de que todos os alunos devem aprender no mesmo ritmo e de mesma forma, além de uma cultura antiintelectualista são elementos que também ajudam a explicar o fenômeno do subrendimento.

Ademais a necessidade de ser aceito pelos pares faz com que muitos alunos com altas habilidades, que se encontram na escola regular, optem por disfarçar o seu potencial intelectual superior, apresentando um rendimento acadêmico muito aquém de suas possibilidades.


A NECESSIDADE DE ORIENTAÇÃO E ACONSELHAMENTO AO SUPERDOTADO E À FAMÍLIA


Com o objetivo de ajudar o superdotado que apresenta problemas e dificuldades de ordem psicológica, vários centros e serviços de aconselhamento foram criados, especialmente nos Estados Unidos, país que mais tem investido na educação daqueles alunos que se destacam por um potencial superior. Um destes Serviços, denominado Programa de Apoio às Necessidades Emocionais do Superdotado foi, por exemplo, fundado há mais de 20 anos na Wright State University, após o suicídio de um adolescente intelectualmente brilhante. Alguns destes centros, como o da Universidade de Iowa, vem atuando não apenas no aconselhamento psicológico, mas também na orientação vocacional e aconselhamento familiar (Colangelo, 1991). Entre os problemas, que têm sido apontados entre superdotados que necessitam desses serviços, salientam-se o perfeccionismo e medo do fracasso, ambivalência a respeito de si mesmo, baixa auto-estima, subrendimento, desvio das normas impostas pela família e pelo grupo de mesma idade, além do isolamento social.

Por outro lado, um dos problemas críticos enfrentados por muitos superdotados na escolha profissional diz respeito às pressões para que sigam determinadas carreiras mais valorizadas socialmente e que são tidas como mais adequadas àqueles alunos que se destacam por suas habilidades superiores. Segundo Colangelo (1991), estas pressões podem dificultar a este aluno "seguir o seu coração" na escolha profissional, diante da oposição encontrada na própria família, que não deseja ver o filho desperdiçar o talento em áreas tidas como de menor prestígio.

Outras dificuldades podem ser vividas também pelo superdotado no meio da família em função de pais superambiciosos, que pressionam permanentemente o filho para que ele se destaque cada vez mais, vendo neste um caminho para a sua própria realização e satisfação de desejos frustrados de sucesso e projeção.

Também a família do superdotado, muitas vezes, necessita de aconselhamento. Algumas têm dificuldade em lidar com a discrepância entre o desenvolvimento intelectual e emocional do superdotado, sendo esta, inclusive, a maior dificuldade apontada pelos pais nas suas relações com filhos que se destacam por uma inteligência superior, conforme observado por Landau (1990). Muitos pais sentem-se perdidos sobre a melhor maneira de lidar e orientar o seu filho com altas habilidades. Esta dificuldade é sentida com freqüência em nosso meio, dado o reduzido número de programas de ordem acadêmica voltados para o superdotado, que venham a atender às suas necessidades de aprendizagem e possibilitar-lhes o contato com colegas que também se sobressaem por um potencial superior.

O problema se agrava diante dos preconceitos e idéias errôneas sobre o superdotado, comuns em nosso meio, dificultando a sua adaptação na escola, podendo levar a um enorme desperdício de potencial e de talento, conforme temos apontado em várias publicações (Alencar, 1986, 1994, 2001; Alencar & Fleith, 2001).

Muitas das dificuldades que o superdotado enfrenta em nosso meio se devem também ao rótulo. Como destacamos anteriormente (Alencar, 1986, 1994, 2001; Alencar & Fleith, 2001), o problema do rótulo é sério, especialmente devido ao prefixo "super", que sugere a idéia de um desempenho invariavelmente elevado, e o fenômeno da superdotação como algo muito raro, e, portanto, com poucos alunos podendo serem classificados como tal. Observa-se ainda uma ênfase no genótipo, ou seja, a idéia da superdotação como um dote que o indivíduo já traria ao nascimento, e que se realizaria, independentemente das condições ambientais.

A fim de prevenir ou minorar o desajuste emocional de crianças e jovens superdotados, seria desejável que pais e professores fossem orientados a respeito das características pessoais, desenvolvimento cognitivo, necessidades sociais e emocionais e habilidades desses indivíduos. Infelizmente isto vem ocorrendo de forma muitíssimo limitada em grande número de países, permanecendo a família desamparada, além de ser a escola pouco equipada para propiciar experiências educacionais de qualidade aos superdotados. Ajudá-los a desenvolver seu potencial, a se sentirem compreendidos e aceitos é tarefa que todos nós, estudiosos da superdotação, necessitamos abraçar, empenhando-nos na construção de um sistema educativo que reconheça e atenda as necessidades do superdotado em suas distintas esferas – intelectual, social e emocional.

Espera-se que o presente texto contribua para chamar a atenção, do público em geral e dos psicólogos e estudantes de Psicologia em especial, para as características emocionais do superdotado, aspecto este pouco discutido na grande maioria dos cursos de Psicologia. Este é um tema de grande relevância, especialmente pela necessidade de medidas de apoio àqueles alunos que se destacam por um potencial superior, de tal forma que possam lidar melhor com a sua dimensão sócio-emocional.


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