segunda-feira, 3 de junho de 2013

CRIANÇAS SUPERDOTADAS: ENTREVISTA COM ADVOGADA MÃE DE SUPERDOTADOS E COM DRA. EM PSICOLOGIA

Blog “Genialidade e Superdotação”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel.

Disponível em http://genialidadeesuperdotacao.blogspot.com.br/

 

 

Autoria:

Claudia Hakim, advogada e mãe de superdotados.



INTRODUÇÃO


Vamos falar hoje de inclusão. Mais especificamente com o viés da experiência de Claudia Hakim, mãe de crianças com altas habilidades/superdotação. Da sua luta pela inclusão dos superdotados, surgiu um blog onde ela relata as “experiências e o cotidiano de uma advogada, mãe de duas crianças superdotadas”, como ela mesma diz no título. O nome do blog é “Mãe de crianças superdotadas”.

Cláudia é especializada em Direito Educacional e, também, consultora jurídica do Núcleo Paulista de Atenção à Superdotação (NPAS). Ela descobriu que seus filhos são superdotados quando sua filha tinha quatro anos e 10 meses, e quando seu filho tinha cinco anos de idade. Atualmente, a filha tem onze anos e seu filho tem nove anos.

Claudia aponta que, conscientes de como lidar com essa situação, pais e filhos só têm a ganhar com os resultados dessa tarefa que requer muito amor e espírito de equipe.


ENTREVISTA DO INSTITUTO BROOKFIELD COM CLÁUDIA HAKIM:


Instituto Brookfield: Como você identificou que tinha dois filhos superdotados?


Claudia: Minha filha sempre apresentou desenvolvimento comportamental e cognitivo acima de seus pares, mas eu nunca achei que se tratasse de superdotação, até por conta dos mitos que giram em torno dos superdotados e os associam aos gênios. Ela começou a falar cedo e sempre teve um bom vocabulário. Logo, a escola indicou que nós conversássemos com uma psicopedagoga. Esta, por sua vez, fez uma avaliação bem completa da minha filha, com vários testes comportamentais e psicológicos, testes de inteligência, onde constatou que ela apresentava um QI realmente muito alto, presente em indivíduos superdotados. Com a experiência que tivemos com minha filha, ficou muito mais fácil de identificar a superdotação do meu filho menor, que se manifesta de formas diferentes em relação à minha filha, mas também são características típicas de um aluno superdotado.


Instituto Brookfield: E qual foi o ponto que te impulsionou a criar o blog?


Claudia: Assim que descobri que minha filha poderia ser superdotada, fui procurar informações a respeito e comecei a estudar muito sobre superdotação.Naquela época (há sete anos), não havia tanta informação a respeito deste tema quanto hoje encontramos na internet. Em um momento, fui convidada para ser moderadora de uma comunidade no Orkut, focada em crianças superdotadas. Nela, os membros da comunidade sugeriram que eu escrevesse um livro contando as minhas experiências sobre o assunto. Foi neste momento, então, que um dos membros sugeriu que eu criasse um blog. Ele surgiu há quase três anos e está, cada dia mais, atingindo mais projeção e visibilidade.


Instituto Brookfield: Como é a sua interação com as mães que têm filhos superdotados?


Claudia: Costumo receber as mães que me procuram – tanto via blog quanto pelo grupo de Facebook que eu criei, “Mãe de Crianças Superdotadas” -, de uma forma paciente, carinhosa, como eu gostaria que tivessem me recebido em vários momentos que precisei de orientação com meus filhos.


Instituto Brookfield: Qual é a principal queixa desses pais?


Claudia: É a falta de identificação da superdotação da criança, por parte da escola. O meu caso (em que a identificação partiu da própria escola) é raro e noto que a grande maioria das escolas brasileiras não conhece a superdotação, o perfil, as características e a forma de se trabalhar com um aluno superdotado. Quando ele não é identificado e não tem as suas necessidades educacionais especiais trabalhadas da forma devida, acaba se desinteressando pela escola, ficando desmotivado, entediado. Pode ficar rebelde e até mesmo querer largar a escola ou ter as suas notas baixadas, correndo o risco de ficar até deprimido. Ela pode, também, ter problemas de socialização, por conta da diferença de interesses que ele apresenta e o ritmo de seu pensamento, em relação aos seus pares etários.


Instituto Brookfield: Quais dicas que você destacaria para mães e pais que têm filhos superdotados?


Claudia: É importante que eles procurem informações sobre a educação destas crianças, seja por meio da internet, de livros, participando de grupos de pais, congressos, assistindo a palestras sobre o tema. Procurar, sempre que possível, atender as necessidades de seus filhos, estimulando-os na medida de seus interesses, mas nunca forçando-os a apresentar resultados. São crianças mais sensíveis e perfeccionistas. Por isso, precisam de uma atenção e um olhar especial, voltado para as altas habilidades, mas sem esquecer que, antes de serem superdotados, são crianças acima de tudo!

Tanto em casa quanto na escola, acho que os pais devem incentivar e prezar o lado social, incentivando seus filhos a brincar com os amigos e perceber que toda criança é boa em uma coisa e apresenta dificuldade em outra. É importante que procurem dar o apoio e o estímulo que estas crianças pedem, colocando-as em atividades extracurriculares voltadas para a sua área de habilidade e interesse.

Caso a criança não consiga dar conta – sozinha ou com o apoio da família – das características específicas é sempre bom poder contar com ajuda especializada de um psicólogo – procurar um profissional que tenha um olhar voltado para as altas habilidades e insistir para que a escola o aceite como superdotado e saiba trabalhar as suas necessidades educacionais, sem nunca esquecer do social e da parte afetiva.


CRIANÇAS SUPERDOTADAS: O QUE FAZER – 1ª ENTREVISTA COM DRA. SUZANA PEREZ


INTRODUÇÃO


A superdotação/alta habilidade ainda é um tema com muito potencial de exploração. Muitas pessoas não sabem como lidar com as crianças que aprendem de forma diferente que as demais. Como pais, família e sociedade devem encarar esse fato? A conscientização é um dos caminhos para diminuir o preconceito e o desperdício de grandes talentos por falta de estímulo e estrutura, entre outros fatores.

Esse problema está entre os principais desafios da superdotação no Brasil, segundo a presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação (ConBraSD). “Os principais são: falta de informação da sociedade; falta de formação dos professores; mitos e crenças equivocadas; preconceito”, afirmou.

Nós, do Instituto Brookfield, sabemos disso e cuidamos com muito carinho dessa realidade. Estamos na luta. É por isso que apoiamos o Programa Estrela Dalva, que também cuida desse assunto da mesma forma e empenho, dando oportunidade para crianças superdotadas moradoras de comunidades de baixa renda.

Para destacar esse assunto no blog e conscientizar cada vez mais, resolvemos detalhá-lo na entrevista, dividida em duas partes, que fizemos com a Drª. Susana Pérez, presidente do Conselho Brasileiro de Superdotação. Hoje apresentaremos um panorama geral. Semana que vem, publicaremos mais detalhes e dicas pedagógicas para quem se interessa sobre o assunto. Confira:


Instituto Brookfield: Conte um pouco sobre o trabalho do Conselho Brasileiro para Superdotação.


Drª. Susana: O Conselho Brasileiro para Superdotação é uma instituição da sociedade civil criada em 2003 e dedicada a defender os direitos das pessoas com AH/SD, incentivar pesquisas e estudos, promover publicações e eventos na área, dar assistência às pessoas que o procuram. Ele é uma instituição reconhecida nacional e internacionalmente pela sua seriedade e dedicação à área.

Temos uma biblioteca virtual no nosso site, que é atualizada permanentemente. Por ser uma ONG, o ConBraSD não tem recursos próprios e todos os membros da Diretoria e Conselhos trabalham de forma voluntária, sem receber qualquer remuneração. Dependemos exclusivamente da contribuição simbólica dos sócios e/ou doações.

A Diretoria atual assumiu em janeiro e, portanto, estamos em processo de atualização do site e início das atividades, mas temos diversos projetos para a nossa gestão (2013-2014).


Instituto Brookfield: É preciso que a criança com altas habilidades/superdotação estude em algum colégio diferente?


Drª. Susana: A escola deve atendê-los de forma diferenciada, sim, conforme está definido na legislação brasileira, mas se essa escola for “somente para crianças com AH/SD”, como se desenvolveria uma criança que somente convive com outras iguais a ela?

Onde essa criança aprenderá a conviver com a diferença? Felizmente, a educação brasileira é inclusiva e, embora hoje em dia ainda não atenda um número nem próximo das estimativas mais conservadoras de alunos com AH/SD, o atendimento educacional especializado na escola (pública ou privada) que a criança frequenta, em escola próxima ou em centro de atendimento especializado é obrigatório.


Instituto Brookfield: Qual é a estimativa de superdotados no Brasil?


Drª. Susana: Não há estimativas oficiais brasileiras. O MEC não informa ao público em geral o número de alunos com AH/SD declarados no Censo, que é ínfimo. Sabe-se que qualquer país terá aproximadamente 3,5 a 5% de pessoas com QI acima de 130, o que foi, durante algum tempo, considerado como uma estimativa de superdotação (aproximadamente 2,5 milhões de crianças na Educação Básica, ou 8 milhões de brasileiros). As pesquisas de Mestrado e Doutorado e alguns estudos realizados na área têm constatado um percentual entre 7,5 e 10% de pessoas com AH/SD. Isso quer dizer que, em média, temos de 2 a 3 pessoas com AH/SD em cada sala de aula de todas as escolas do País.


Instituto Brookfield: Você indica lugares para que os pais possam buscar ajuda e informação sobre o tema?


Drª. Susana: Procurem informações em lugares idôneos, como o site do Conselho Brasileiro para Superdotação (ConBraSD) ou de associações nos diferentes estados. Há muitas informações equivocadas, e muitas pessoas que não estão qualificadas para oferecer qualquer tipo de informação ou ajuda, mas que tiram proveito da grande desinformação que há sobre o tema.


CRIANÇAS SUPERDOTADAS: O QUE FAZER – 2ª ENTREVISTA COM DRA. SUZANA PEREZ


Como prometemos na semana passada, hoje é dia da segunda parte da entrevista que fizemos com a Drª. Susana Pérez, presidente do Conselho Brasileiro de Superdotação, com dicas e orientações sobre crianças com altas habilidades/superdotação. Veja:


Instituto Brookfield: Como identificar que uma criança é superdotada? Quais são as características?


Drª. Susana: As pessoas com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) geralmente apresentam algumas características próprias e indicadores. Os três grandes grupamentos de traços que apresentam são uma habilidade acima da média em alguma ou algumas áreas ou inteligências, um elevado comprometimento com a tarefa e elevada criatividade, sempre na área ou inteligência na qual apresentam habilidade acima da média.

São pessoas muito curiosas, perfeccionistas na área em que apresentam AH/SD, têm um senso de humor refinado e diferenciado, aprendem de forma diferente que as demais pessoas. Frequentemente, são precoces na leitura e na escrita, têm interesses bem diferenciados das demais pessoas e, às vezes, podem desmotivar-se facilmente quando o assunto não é de seu interesse.

Não há uma lista de características estrita; às vezes, apresentam algumas das características e outras não, mas o que, sim, podemos observar é que, se receberem oportunidades adequadas e puderem se desenvolver corretamente, a habilidade acima da média, a elevada criatividade e o elevado comprometimento com a tarefa serão claros e diferenciados em relação às demais pessoas.


Instituto Brookfield: Como estimulá-la em casa?


Drª. Susana: Como deveríamos estimular qualquer criança, de acordo com as suas necessidades e sem esquecer que crianças também precisam brincar, correr, pular etc. Isso quer dizer: não encha a vida dessa criança de atividades se ela não pedir isso.


Instituto Brookfield: Existem níveis diferentes de superdotação?


Drª. Susana: Alguns autores definem diferentes níveis de superdotação, como Françoys Gagné. Essa ideia deriva de uma concepção de inteligência já ultrapassada (fator g), segundo a qual poderíamos medir essa inteligência de acordo com testes padronizados aplicados a essa pessoa. Então, segundo o coeficiente de inteligência (QI), teríamos níveis de superdotação uma vez superado o escore de 130. As pesquisas sobre inteligência têm evoluído muito e hoje são muito poucos os pesquisadores que continuam acreditando que a inteligência pode ser medida por um simples resultado de um teste. Se considerarmos as teorias mais modernas (por ex, Gardner e Sternberg), veremos que seria muito difícil associar um teste de QI a um músico ou um atleta destacado, e que esses testes nada nos dizem quanto aos aspectos qualitativos de avaliação da inteligência.


Instituto Brookfield: O que os pais precisam ter em mente?


Drª. Susana: Os pais precisam conhecer as características das AH/SD e entender que seus filhos com AH/SD são pessoas que aprendem de forma diferente e, muitas vezes, terão comportamentos diferenciados, mas que também precisam de limites, de carinho.

As crianças com AH/SD precisam aprender a escovar os dentes, a amarrar os tênis e a brincar, como as demais crianças. Elas têm direito de saber que são pessoas com AH/SD e os pais devem ter clareza quanto a isso, porque, muitas vezes, diz-se a eles que “é melhor que os filhos não saibam disso”. É bom que eles se aproximem das associações ou do Conselho e que conheçam os direitos que seus filhos têm ao atendimento educacional especializado, à aceleração ou avanço, quando for o caso, da Educação Infantil até o Ensino Superior, em escolas públicas ou privadas, e sem cobrança adicional por esse atendimento. É importante que eles saibam que a escola não pode negar o atendimento educacional especializado “porque não está preparada”, como costumamos ouvir. Se ela não está preparada, tem que se preparar. É a escola que tem que se adaptar às necessidades do aluno e não o contrário.


Fontes: