Blog “Genialidade e
Superdotação”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel.
BRILHANTES POR NATUREZA
Eles são
muito mais numerosos do que você pensa. Pode haver um superdotado no seu
prédio, na escola ou até na sua casa.
A paulistana Cynthia Laus se define como uma
pintora abstrata. “Tentei fazer uma coisa mais acadêmica há algum tempo, mas
não gostei do resultado”, diz, enquanto caminha pelo salão de uma conceituada
galeria de arte de São Paulo, onde está expondo 29 obras. É interrompida por
uma voz que ordena: “Vem cá, põe um agasalho!” É sua mãe. Cynthia obedece.
Apesar de tudo, ainda é uma menina de 8 anos.
A jovem artista, que pinta desde os 4 anos, está
entre os 3 milhões de brasileiros superdotados. São crianças que geralmente
começam a ler sozinhas antes de entrar na escola e surpreendem os pais com
perguntas desconcertantes. Mas esses sinais não bastam para identificar um
superdotado. Muitas crianças aprendem mais cedo que as outras e, nem por isso,
tornam-se mais brilhantes na idade adulta. O desafio dos psicólogos é detectar,
entre garotos e garotas precoces, quais possuem inteligência fora do normal. “O superdotado
sempre será brilhante”, diz Marsyl Mettrau, presidente da Associação Brasileira
para Superdotados (ABSD).
Na caça aos pequenos prodígios, não basta olhar
para quem tira as maiores notas. Muitos superdotados são nulidades acadêmicas,
simplesmente porque se entediam com a escola. Foi esse o caso de Álvaro de
Almeida, de 7 anos. “Fui chamada várias vezes pela escola porque ele era
indisciplinado e ia mal nas provas”, diz sua mãe, Tânia, dona de casa. Quando a
família se mudou de Porto Alegre para Brasília, há dois anos, os professores de
Álvaro na escola pública notaram que ele tinha um talento excepcional para o
desenho. Diagnosticado como superdotado, o menino hoje freqüenta aulas
especiais de artes.
O Quociente de Inteligência (QI) foi, durante muito tempo, o
principal instrumento para descobrir prodígios. Enquanto a média da população
teria um QI entre 90 e 110, os superdotados estariam para lá de 130. “O
problema é que o teste de QI só avalia o raciocínio lógico”, observa a
professora Zenita Guenther, que desenvolveu um método novo de identificação de
talentos em Lavras (MG). “O QI não pode ser o único critério”, diz. Hoje, os
especialistas concordam em que há uma característica comum a todos os
superdotados: é o chamado “pensamento divergente”. Eles raciocinam de maneira
diferente da maioria e estão sempre buscando soluções próprias para os
problemas. Os jovens talentos também costumam ser modestos. “Eu sou normal.
Essa história de superdotado é coisa da minha mãe”, diz Cynthia, com
displicência, pulando amarelinha no meio da galeria de arte. Ela pinta como uma
verdadeira artista, mas não deixa de ser uma criança
de 8 anos.
O CARIOCA QUE CONQUISTOU HARVARD
Ricardo Tadeu Cabral de Soares enfrentou sua
primeira batalha judicial quando tinha apenas 12 anos de idade. Enquanto
cursava a 8ª série do Primeiro Grau, ele foi o primeiro colocado no vestibular
para Direito numa faculdade particular do Rio de Janeiro. Mas era jovem demais
para ter a matrícula aceita. Seu pai, o advogado e arquiteto José Paulo de
Soares, precisou recorrer à Justiça para conseguir uma liminar que permitisse
ao garoto freqüentar a universidade à noite e a escola de manhã. A decisão só
saiu depois que ele convenceu o juiz de que o filho era superdotado.
Não foi difícil argumentar. Afinal, um menino que
começou a ler aos 3 anos de idade, escreveu um livro aos 9 e aos 11 desenvolveu
um programa de computador que dava prognósticos de turfe com 90% de acerto não
poderia mesmo ser normal. Assim, em 1988, Ricardo virou o mais jovem
universitário brasileiro. Quatro anos depois, entrou para o Livro Guiness dos
Recordes como o mais jovem advogado do mundo. Aos 18, concluiu o mestrado em
Direito na renomadíssima universidade norte-americana Harvard, uma das maiores
concentrações de superdotados no planeta.
E se tornou o mais jovem mestrando em Ciências
Jurídicas nos 362 anos de história daquela universidade. “Ele sempre foi
precoce em tudo”, disse à SUPER o pai coruja, dias antes de embarcar para os
Estados Unidos, onde a irmã de Ricardo, Marcelle, de 22 anos – que, aliás,
também é superdotada –, acaba de concluir o mestrado em Administração de
Empresas.
Hoje, aos 23 anos, casado e com um filho, Ricardo é
diretor jurídico de uma grande indústria de bebidas no Rio e comanda
funcionários com o dobro da sua idade. “Nunca me senti diferente das outras
pessoas. Só tive um pouco de visão”, minimiza. “Não acho que tenha perdido a
minha infância. Ao contrário. Dá até alívio chegar aonde cheguei, num mercado
tão competitivo.”
O DESAFIO DE EDUCAR OS MINIGÊNIOS
Sexta-feira à tarde. Os alunos da 5ª série se
reúnem no laboratório. A aula: Mecatrônica e Circuitos Eletrônicos. A cena é um
tanto incomum para um Primeiro Grau. Mas essa não é uma 5ª série qualquer. É
uma turma de superdotados, que recebe educação diferenciada numa escola
particular de São Paulo.
“A superdotação é um potencial hereditário, mas que
só se realiza num ambiente propício. A falta de estímulo pode bloqueá-la”,
disse à SUPER a psicóloga Cristina Cupertino, coordenadora do Programa de
Orientação e Identificação do Talento do Colégio Objetivo. Segundo ela, a escola comum é,
muitas vezes, um estorvo para o desenvolvimento do talento. Obrigado a seguir o
mesmo programa dos colegas, o superdotado se frustra. Ou, pior, nem sequer
chega a descobrir para que servem suas habilidades.
Por isso, é vital saber como detectar uma
criança-prodígio e ajudá-la a se desenvolver. É o que aconteceu, numa escola de
Brasília, com o garoto malaio Huat-Chye Lim, que aprendeu a ler aos 2 anos de
idade. Ao perceber que o aluno era diferente dos demais, a diretoria da escola
resolveu criar um programa especial, só para ele. No ano passado, aos 14 anos,
Huat-Chye ingressou no curso de Computação na seleta Universidade de Stanford,
nos Estados Unidos. Mas nem todo mundo tem a mesma sorte. “Na população
infantil brasileira, temos milhões de gênios em potencial”, afirma o
fisiologista Gilberto Xavier, professor da Universidade de São Paulo. “Mas
ninguém vai chegar lá cortando cana no campo.” Segundo a ABSD, apenas 2 470
superdotados têm atendimento especial no Brasil, em sete Estados. Os principais
programas estão em Brasília e em Lavras (MG), onde são atendidas cerca de 700
crianças. Em Lavras, as aulas especiais do Centro para o Desenvolvimento do
Potencial e Talento (Cedet) são voltadas para as habilidades específicas de
cada criança. “A nossa preocupação é criar uma escola desafiadora, onde o aluno
não procure ‘aquela’ resposta certa, mas fique livre para buscar as próprias
soluções”, explica Zenita Guenther, do Cedet. Não é preciso ser superdotado
para perceber que aí está um exemplo que merece ser seguido.
SEU FILHO É SUPERDOTADO?
Este teste foi criado pelo psicólogo francês
Jean-Charles Terrassier para identificar superdotados entre crianças de 6 a 12
anos. Se o seu filho fizer mais do que 20 pontos (num total de 39), ele tem,
provavelmente, uma inteligência acima da média. Para cada resposta
positiva, você deve somar os pontos correspondentes.
NO FOCO DE HOLLYWOOD
O pessimismo dos superdotados em relação ao futuro
da humanidade é tema freqüente de filmes de Hollywood. Em Mentes que Brilham, de 1992,o protagonista Fred Tate tem úlcera aos 7 anos, de tanto ler
sobre guerras e catástrofes. Em Gênio Indomável, de 1997, o prodígio Will
Hunting, interpretado por Matt Damon, se recusa a trabalhar para o governo
norte-americano para não ter de desenvolver armamentos.
MINUTINHO BRILHANTE
Os irmãos Tomás e Gustavo Martins podem não ser
Spielbergs, mas já conseguiram ao menos uma proeza como cineastas. Em 1997, em
São Paulo, eles venceram o Minutinho, categoria do Festival Mundial do Minuto –
que premia filmes com 1 minuto de duração – para menores de 15 anos. “Como não
sabíamos nada sobre cinema, resolvemos fazer um filme sobre como fazer um
filme”, conta Gustavo, 15. Os jurados adoraram. Mas a dupla vai além das telas.
Gustavo é escritor e já tem cinco livros infantis publicados. Tomás, de 16
anos, é desenhista. Este ano eles apontam de novo a câmera para o Festival do
Minuto. Desta vez o de gente grande.