Autores: Álaze Gabriel do Breviário (especialista) e Beatriz da Silva Pereira (orientadora mestre).
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Fluxo de Caixa Descontado: valoração de um supermercado
hipotético de capital fechado
RESUMO: O tema do presente trabalho é o Fluxo de Caixa
Descontado (FCD). Tem como objetivo geral mensurar, por meio da técnica do FCD,
o valor econômico-financeiro de um supermercado hipotético de capital fechado. Tem
como objetivos específicos: a) Apresentar os procedimentos técnicos necessários
para se mensurar o valor de uma empresa de capital fechado; b) Discutir sobre
as principais terminologias empregadas na temática em questão. Para tanto,
apresenta-se os principais procedimentos técnicos para a adequada avaliação de
empresas por meio da referida técnica. Utiliza-se a seguinte metodologia: a
observação não participante, do tipo levantamento bibliográfico e documental,
dialogando com autores renomados e atuais da temática; também realiza um estudo
de caso ex loco, como seu eixo técnico de investigação. Conclui-se que
este trabalho foca somente na dimensão financeira da avaliação de uma empresa,
sendo que existem outras dimensões importantes para se avaliar, tais como a
climática e a cultural; em outras palavras, o valor econômico-financeiro de uma
empresa não é o seu valor real.
Palavras-chave: Fluxo de Caixa Descontado (FCD). Fusões e Aquisições
(F&A). Supermercado de capital fechado.
Discounted Cash Flow: valuation of a hypothetical closed capital
supermarket
ABSTRACT: The subject
of the present work is the Discounted Cash Flow (DCF). Its general objective is
to measure, using the DCF technique, the economic-financial value of a
hypothetical privately held supermarket. Its specific objectives are: a) To
present the technical procedures necessary to measure the value of a privately
held company; b) Discuss the main terminologies used in the subject in
question. Therefore, the main technical procedures for the adequate evaluation
of companies using this technique are presented. The following methodology is
used: non-participant observation, of the bibliographic and documentary survey
type, dialoguing with renowned and current authors on the subject; it also
carries out an ex loco case study, as its technical axis of investigation. It
is concluded that this work focuses only on the financial dimension of the
valuation of a company, and there are other important dimensions to be
evaluated, such as the climatic and cultural ones; in other words, the
economic-financial value of a company is not its real value.
Key-words: Discounted
Cash Flow (DCF). Mergers and Acquisitions (M&A). Privately held supermarket.
1 INTRODUÇÃO
A
técnica do Fluxo de Caixa Descontado para Valor Presente (FCD) é aquele que
melhor revela a capacidade efetiva de geração de riqueza de desempenho
determinado. Essa técnica é retomada com entradas e transferências efetivas de
dinheiro ao longo do tempo, representando uma renda econômica gerada pelo
projeto ao longo de sua vida útil. Por essa razão, essa é, atualmente, a
técnica mais utilizada na avaliação de empresas (JUCÁ, 2020a; 2020b; 2020c). Desse
modo, o Fluxo de Caixa Descontado (FCD) é a principal técnica de análise, ou
interpretação, quando se quer avaliar o valor econômico-financeiro de uma
empresa.
A
pergunta norteadora dessa pesquisa é: Como mensurar o valor
econômico-financeiro de uma empresa de capital fechado por meio do Fluxo de
Caixa Descontado?
Este
trabalho tem como objetivo geral mensurar, por meio da técnica do FCD, o valor
econômico-financeiro de um supermercado hipotético de capital fechado. Tem como
objetivos específicos: a) Apresentar os procedimentos técnicos necessários para
se mensurar o valor de uma empresa de capital fechado; b) Discutir sobre as
principais terminologias empregadas na temática em questão.
Esse
tema se justifica devido à necessidade de um arcabouço teórico-metodológico
mais completo, que desmistifique o modo correto de se utilizar a técnica do FCD
para se mensurar o valor econômico-financeiro de uma empresa de capital
fechcado, apresentando sua praticidade e suas limitações.
Este
artigo está estruturado em cinco capítulos. O primeiro se refere à Introdução,
na qual consta a contextualização do tema, a questão-problema, os objetivos, a
justificativa e a estrutura do trabalho. No segundo capítulo, apresenta-se uma
revisão da literatura sobre o Fluxo de Caixa Descontado. No terceiro capítulo,
apresenta-se as metodologias utilizadas para a realização deste trabalho. No quarto
capítulo apresenta-se todos os procedimentos técnicos necessários para a
adequada utilização do FCD. No quinto capítulo, apresenta-se as conclusões. E,
por fim, mas não menos importante, apresenta-se as referências utilizadas no
mesmo.
2 O FLUXO DE CAIXA DESCONTADO
O
método do Fluxo de Caixa Descontado (FCD) já é consagrado, pelas maiores
autoridades na área, na vasta literatura em Finanças Corporativas, como um
conjunto de procedimentos técnicos validados, adequados, consistentes,
reconhecidos, aprovados, para se realizar a avaliação (valuation) de uma
empresa (MARTELANC; PASIN; CAVALCANTE, 2005; ASSAF
NETO, 2020; LIMA, 2020).
Martelanc, Pasin e Cavalcante (2005) fazem questão de ressaltar que,
na escolha do horizonte
de projeção, uma excelente forma de reduzir a arbitrariedade quando
da sua decisão é considerá-lo
pelo menos superior ao período em que o
projeto ainda não está estabilizado.
De
acordo com Jucá (2020a, p. 3), “há dois caminhos para avaliar uma empresa pelo
método do FCD. Embora as duas abordagens descontem fluxos de caixa esperados,
os fluxos de caixa e as taxas de desconto são diferentes”. Esses caminhos se
referem ao FCLE e ao FCLA, sendo cada um deles usado em uma situação específica
diferente: o FCLE é utilizado quando a empresa possui dívidas, isto é, Capital
de Terceiros (CT); já o FCLA é utilizado quando a empresa não possui dívidas,
mas quando ela possui apenas o Capital Próprio (CP), ou seja, apenas o
Patrimônio Líquido. No primeiro caso, quando se usa o FCLE, utiliza-se a taxa
de desconto denominada Weighted Average Cost of Capital (WACC), ou, em
português, o Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC); no segundo caso, quando
se usa o FCLA, utiliza-se a taxa de desconto denominada Capital Asset
Pricing Model (CAPM), ou, em português, Custo de Capital Próprio (CCP)
(JUCÁ, 2020a).
A taxa de crescimento pode ser
histórica (MIYAZAKI, 2009) ou calculada pelo Modelo de Gordon (JUCÁ, 2020a). A
taxa de crescimento calculada pelo Modelo de Gordon (utilizada aqui) é
largamente utilizada pelos principais autores de Finanças Corporativas porque
ela “é formada pelo produto do percentual de reinvestimento dos fluxos
operacionais de caixa e pela taxa de retorno deste capital aplicado” (JUCÁ,
2020a, p. 8; 2020b; 2020c).
Todas as fórmulas
utilizadas nesse trabalho para a adequada aplicação do Fluxo de Caixa
Descontado constam no Quadro 1, ao final desse capítulo. O Custo do Capital Próprio (CCP), denominado em inglês Capital
Asset Pricing Model (CAPM), considera: uma taxa livre de risco (Rf),
que no Brasil é a taxa Selic; um coeficiente beta, que mensura o risco
sistemático do ativo; uma taxa de remuneração do mercado (Rm), que
no Brasil se refere ao Índice Bovespa (Ibovespa); um prêmio de risco (Rm
– Rf); o risco-país (Rc); e um ajuste inflacionário, caso
utilizemos, por exemplo, premissas norte-americanas (JUCÁ, 2020a; MARTELANC;
PASIN; CAVALCANTE, 2005).
Contudo, apesar de se poder
tropicalizar a fórmula, ou seja, adaptá-la para a realidade brasileira, os
autores mais experientes sobre finanças corporativas não utilizam a Selic nem o
Ibovespa para calcular o CCP: eles utilizam o T-bonds como Taxa Livre de Risco,
e o S&P500 como Taxa de Remuneração de Mercado, pelo fato de elas
refletirem mercados mais estáveis e diversificados do que o Brasil. Cada um dos
elementos necessários para se calcular o Custo do Capital Próprio é explanado a
seguir.
A Taxa Livre de Risco
(TLR) é considerada aquela taxa em que um ativo, qualquer que seja ele, não
possui risco mínimo de default, isto é, risco de a instituição emissora
não honrar o compromisso. Em outras palavras, a TLR expressa “o retorno sobre
um título ou uma carteira de títulos livre de risco de inadimplência e
totalmente desligada dos retornos de qualquer outro item encontrado na
economia” (JUCÁ, 2020b, p. 4).
A TLR é aquela taxa
básica de juros da economia, que acompanha o rendimento dos títulos de longo
prazo de um país. Nos EUA, a TLR é a T-bonds; no Reino Unido, a TLR é a Gilts;
na Alemanha, é o Bunds; e no Brasil, é a Selic (JUCÁ, 2020b). Mas como a
utilização da Selic para valuation no Brasil é bastante limitada (ASSAF
NETO, 2003; LIMA 2020), então considera-se para este trabalho a média, de 1928
a 2020, da taxa dos T-bonds, porém devidamente corrigida pelas inflações dos
EUA e do Brasil.
A Taxa de Remuneração do
Mercado (TRM), no Brasil, é definida pelo Índice Bovespa (Ibovespa) acumulado
dos últimos doze meses. Nos EUA, a TRM é o Índice S&P 500, que é composto
pelas 500 ações mais importantes para o mercado norte-americano, sendo
qualificadas pelo tamanho das empresas no mercado, liquidez e sua representação
no grupo industrial (JUCÁ, 2020b). Mas como a utilização do Ibovespa para valuation
no Brasil é bastante limitada (ASSAF NETO, 2003; LIMA, 2020), então
considera-se para este trabalho a média, de 1928 a 2020, do Índice S&P 500,
porém devidamente corrigida pelas inflações dos EUA e do Brasil.
O Coeficiente Beta (B)
exprime “o risco sistemático de um ativo, uma vez que o risco não sistemático
foi todo eliminado pela diversificação da carteira de mercado” (JUCÁ, 2020b, p.
5). Especificamente em se tratando do mercado de ações, o B “possibilita
medir quanto o retorno de uma ação irá variar quando ocorre uma alteração do
mercado, que no caso brasileiro é medido pelo Índice Bovespa.” (JUCÁ, 2020b, p.
5).
De acordo com Jucá
(2020b, p. 5), “no cálculo do beta, há que se considerar as fontes de
financiamento da empresa.” Se as fontes de financiamento da empresa utilizam
apenas o Capital Próprio (CP = E = Equity = PL = Patrimônio Líquido),
então deve-se calcular o beta desalavancado. Se as fontes de financiamento da
empresa utilizam o CP mais o Capital de Terceiros (CT = P = Passivo Oneroso =
PO = D = Debt = Dívidas), então deve-se calcular o beta alavancado
(JUCÁ, 2020b).
Mas, em se tratando de empresas de
capital fechado, isto é, que não tem suas ações negociadas na Bolsa de Valores,
o beta desalavancado auxilia o cálculo do risco de empresas de capital fechado
por meio de empresas de setores similares. Neste caso, calcula-se o beta
desalavancado de empresas similares – ou coleta-se essa informação de sites
confiáveis de consultorias financeiras, tais como o do Damodaran –, depois
calcula-se o novo beta alavancado levando-se em consideração o nível de
endividamento e a taxa líquida do IR/CSLL da empresa em questão (SILVA, 2020;
LIMA, 2020; JUCÁ, 2020b).
O Risco-país (Rp)
é utilizado “no caso do uso do CAPM para empresas brasileiras que atuam em
mercados internacionais”, como os países emergentes, os quais “apresentam um
maior nível de incerteza” (JUCÁ, 2020b, p. 9). Neste diapasão, tal como explica
Jucá (2020b, p. 9), “é necessário cobrar-se um prêmio pelos investimentos
nesses mercados, como forma de remunerar o denominado risco-país”.
Se, para o cálculo do
CCP, forem utilizadas a Selic como Taxa Livre de Risco, e o Ibovespa como Taxa
de Remuneração de Mercado, então a fórmula já estará tropicalizada, isto é,
adaptada à realidade brasileira, e, por essa razão, não faz sentido o Ajuste
Inflacionário. Porém, quando se utilizada uma Taxa Livre de Risco, uma Taxa de
Remuneração de Mercado e um Beta estrangeiros, tal como são os casos do T-bonds
e do S&P500 (americanos), então faz-se necessário o ajuste Inflacionário.
Neste estudo, foram
utilizadas premissas americanas (do site do Damodaran) para a construção de
todo o valuation aqui apresentado; por essa razão teve-se que aplicar o
Ajuste Inflacionário ao CMPC. Para o cálculo do Ajuste Inflacionário,
utiliza-se a famosa Equação de Fisher para se converter as taxas nominais em
reais e vice-versa.
O Custo do Capital de Terceiros
(CCT) é calculado levando-se em conta o Custo das dívidas antes dos impostos
(IR e CSLL), multiplicado por (1 – Tr), que significa (1 – Taxa de IR e da
CSLL) (JUCÁ, 2020b). Já a taxa de desconto é conhecida também como Weighted
Average Cost of Capital (WACC), ou, em português, o Custo Médio Ponderado
de Capital (CMPC).
O Valor Residual (VR),
também de nominado Valor Terminal, Valor da Perpetuidade ou Valor de Reposição,
é calculado pela relação entre o fluxo de caixa operacional disponível ao fim
do período explícito de projeção (horizonte de projeção) e o custo total de
capital (JUCÁ, 2020a; 2020b; 2020c).
Existem duas formas para
se calcular o valor da perpetuidade: sem crescimento e com crescimento
(MARTELANC; PASIN; CAVALCANTE, 2005; JUCÁ, 2020a). Mas como, neste artigo,
utiliza-se apenas a perpetuidade com crescimento, então é só ela que se
apresenta aqui (no Quadro 1, abaixo).
Após o cálculo do Valor
Residual (VR) de ambas as empresas, agora deve-se calcular o seu Valor
Presente, descontado pelo seu Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC), ou, em
inglês, WACC (JUCÁ, 2020a; 2020b; 2020c; MARTELANC; PASIN; CAVALCANTE, 2005;
ASSAF NETO, 2020; LIMA, 2020).
Para o cálculo do Valor
da Empresa (VE), soma-se três componentes: o VP dos FCLE, o VP do VR, e o
Disponível (Caixa e equivalentes de caixa) (MARTELANC; PASIN; CAVALCANTE,
2005), embora Jucá (2020a) não some o Disponível.
Fórmulas do Fluxo de Caixa Descontado |
|
Taxa de Crescimento do Lucro Líquido (g) |
g (lucro líquido) = b (lucro líquido) * ROE, onde: g (lucro líquido) = growth (LL) = taxa de crescimento do Lucro
Líquido; b = taxa de reinvestimento do Lucro Líquido = = (1 – payout) = (1 – percentual de caixa distribuído na forma
de dividendos); payout =
DIVIDENDOS/LUCRO LÍQUIDO; ROE = Retorno sobre o Patrimônio Líquido = = LUCRO LÍQUIDO/PATRIMÔNIO LÍQUIDO |
Custo do Capital Próprio (CE) |
CE = Rf + B*(Rm – Rf)
+ Rc + IA, onde: CE = Cost of Equity = Custo do Capital Próprio; Rf = Risc free = Taxa Livre de Risco; B = Beta = Coeficiente
de risco sistemático; Rm =
Risk of Market = Risco de Mercado; (Rm – Rf) = Prêmio de risco do mercado; Rc =
Risk of country = Risco-país; IA = Inflationary Adjustment = Ajuste Inflacionário. |
Beta alavancado (B
alav.) |
B alav. =
B desal. * B alav. = Beta alavancado; B desal. = Beta desalavancado; CT = Capital de
Terceiros = PO; PO = Passivo Oneroso; CP = Capital Próprio
= PL = Patrimônio Líquido; Ti = Taxa do IR e da
CSLL. |
Equação de Fischer |
Taxa real USA =
[(1+cmpc_nominal_usa)/(1+taxa_inflação_usa)] – 1 Taxa nominal Brasil =
[(1+cmpc_real_usa)*(1+taxa_inflação_brasil)] – 1 |
Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) |
WACC = CMPC = Custo Médio Ponderado de Capital (taxa de
desconto); CE = Cost of Equity = Custo do Capital Próprio; E/(D+E) = Proporção de Capital Próprio sobre o financiamento
total da empresa; CD = Cost of Debt = Custo da Dívida efetivo (depois do
IR e da CSLL); D/(D+E) = Proporção de Capital de Terceiros sobre o
financiamento total da empresa. |
Valor Presente dos Fluxo de Caixa Livres para a
Empresa (FCLE) |
FV = Firm Value = Valor da Firma/Empresa; FCFF i = FCLE i = Fluxo de Caixa
Livre para a Empresa na data i; WACC = CMPC = Custo Médio Ponderado de Capital (taxa de
desconto); i = ano da projeção, variando de 1 até n; n = horizonte de projeção, em anos. |
Valor Residual (RV) – com crescimento |
RV = Residual Value = Valor Residual/Terminal/Perpétuo da
empresa; g = growth = taxa de crescimento; WACC = CMPC = Custo Médio Ponderado de Capital (taxa de
desconto); FCFF n = FCLE n = Fluxo de
Caixa Livre para a Empresa na data n. |
Valor Presente da Perpetuidade (VPP) |
VPP = VPP
= Valor Presente da Perpetuidade; VR
= Valor Residual/Terminal/Perpétuo da
empresa; n
= último ano da projeção; WACC
= CMPC = Custo Médio Ponderado de Capital. |
Enterprise Value (EV) |
EV = Enterprise Value = Valor da Empresa; FCFF i = FCLE i = Fluxo de Caixa
Livre para a Empresa na data i; FCFF n = FCLE n = Fluxo de
Caixa Livre para a Empresa na data n; WACC = CMPC = Custo Médio Ponderado de Capital (taxa de
desconto); g = growth = taxa de crescimento; i = ano da projeção, variando de 1 até n; n = horizonte de projeção, em anos; Cash = Caixa e
equivalentes de Caixa. |
Quadro 1. Fórmulas do Fluxo de Caixa Descontado.
Fonte: Martelanc, Pasin e Cavalcante (2005); Assaf Neto (2020); Jucá
(2020a; 2020b; 2020c); Lima (2020).
Endler (2004) constatou
em seu artigo que, ao se utilizar o FCDE, trocar a taxa de desconto WACC pelo
Ke resulta em valores numéricos incorretos, inadequados; o mesmo acontece se,
ao se utilizar o FCDA, trocando o Ke pelo WACC.
3 METODOLOGIA
Essa pesquisa utiliza
abordagem mista, isto é, tanto qualitativa quanto quantitativa, visando
ilustrar os procedimentos técnicos necessários para o cálculo do Enterprise
Value (EV) de um supermercado hipotético de capital fechado.
Para
tanto, foi realizado um levantamento bibliográfico e documental sobre a
literatura crítica de Finanças Corporativas, com base em autores renomados na
temática, tais como Assaf Neto (2003; 2020), Martelanc, Pasin e Cavalcante
(2005), Miyazaki (2009), Jucá (2020a; 2020b; 2020c), Lima (2020). Foi realizado
também um estudo de caso ex loco, como exemplo ilustrativo, no intuito
de se calcular o valor econômico-financeiro de um supermercado hipotético de
capital fechado.
O
levantamento bibliográfico configura-se na técnica de coleta de dados dos
livros e dos trabalhos acadêmicos em geral, tais como monografias,
dissertações, teses, artigos científicos, resenhas científicas, etc. Os seus
instrumentos fundamentais são as bibliografias (RODRIGUES, 2007; SEVERINO, 2007).
Foi aplicado neste trabalho o seguinte roteiro: a) explorou-se as fontes
bibliográficas; b) leu-se atentamente o material coletado; c) elaborou-se
fichamentos; d) ordenou-se e analisou-se os dados dos fichamentos; e) redigiu-se
as conclusões.
O
levantamento documental, técnica também denominada documentação, visa à coleta
de dados, a priori, primários, ou seja, aqueles que ainda não foram
submetidos a algum tipo de manipulação, e, a posteriori, secundários.
Configura-se na técnica de coleta de dados de documentos pessoais, registros
institucionais, registros estatísticos e da comunicação de massa em geral, isto
é, TV, rádio, jornais, revistas, internet (GIL, 1999).
O
estudo de caso evidencia-se como um tipo de pesquisa que tem sempre um forte
cunho descritivo (RODRIGO, 2008; YIN, 2010). O estudo de caso ex loco,
tal como utilizado neste trabalho, é aquele que visa coletar dados primários
sem se deslocar ao campo; pois, por exemplo, dados contábeis das empresas são
disponibilizados nos seus sites institucionais, ou no Banco Central, como no
caso das Instituições Financeiras (BREVIÁRIO, 2020).
4 A VALORAÇÃO DO SUPERMERCADO HIPOTÉTICO
4.1 Apresentação do Caso
O caso ilustrativo é o
seguinte: os gerentes de um supermercado hipotético, denominado de X, desejam
mensurar o seu valor econômico-financeiro para avaliarem uma possível situação
em que um supermercado maior deseja adquiri-lo.
4.2 Determinação do Horizonte de Projeção
Com
base nesses pressupostos, definiu-se como sendo de 10 anos o horizonte
de projeção do Supermercado X, adotado hipoteticamente (ou ilustrativamente)
para esse trabalho. Portanto, segue-se especificamente nas tabelas nº 1, 2 e 3,
o Balanço Patrimonial (BP), resumido e ajustado, dos valores médios dos últimos
dois exercícios financeiros, e a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE),
resumida e ajustada, dos dez últimos exercícios financeiros do Supermercado X.
BALANÇO PATRIMONIAL DO SUPERMERCADO X (em R$milhares) |
|||
ATIVO |
PASSIVO
+ PL |
||
1.
Ativo Circulante |
199,00 |
51,00 |
1.
Passivo Circulante (Oneroso) |
a) Disponível |
10,00 |
|
|
b) Realizável a Longo Prazo |
11,00 |
45,07 |
2.
Passivo Não Circulante (Oneroso) |
c) Estoques |
130,00 |
|
|
d) Despesas Antecipadas |
48,00 |
96,07 |
TOTAL
DO PASSIVO |
|
|
|
|
2. Ativo Não Circulante |
58,00 |
160,93 |
3.
Patrimônio Líquido (PL) |
a) Realizável a Longo Prazo |
7,00 |
|
|
b) Investimentos |
10,00 |
160,93 |
TOTAL
PL |
c) Imobilizado |
36,00 |
|
|
d) Intangível |
5,00 |
|
|
|
|
|
|
TOTAL DO ATIVO |
257,00 |
257,00 |
TOTAL
DO PASSIVO + PL |
Tabela nº 1. Balanço Patrimonial do Supermercado X.
Elaborado pelo autor. Dados da pesquisa.
DRE DO SUPERMERCADO X (em R$milhares) |
|||||||||||
|
|
2012 |
2013 |
2014 |
2015 |
2016 |
2017 |
2018 |
2019 |
2020 |
2021 |
|
FBVS |
200 |
210 |
220 |
230 |
240 |
250 |
260 |
270 |
280 |
290 |
(-) |
IPI |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
(=) |
RBVS |
200 |
210 |
220 |
230 |
240 |
250 |
260 |
270 |
280 |
290 |
(-) |
Ded |
17 |
22 |
26 |
30 |
34 |
38 |
41 |
44 |
48 |
50 |
(=) |
RLVS |
183 |
188 |
194 |
200 |
206 |
212 |
219 |
226 |
232 |
240 |
(-) |
CMV |
98 |
90 |
95 |
88 |
100 |
97 |
100 |
99 |
102 |
100 |
(=) |
LBO |
85 |
98 |
99 |
112 |
106 |
115 |
119 |
127 |
130 |
140 |
(-) |
DOp |
4 |
3 |
4 |
5 |
6 |
7 |
5 |
8 |
4 |
9 |
(=) |
LLO |
81 |
95 |
95 |
107 |
100 |
108 |
114 |
119 |
126 |
131 |
(+/-) |
RDNOp |
(3) |
2 |
(2) |
4 |
(3) |
3 |
5 |
(5) |
4 |
(4) |
(=) |
EBITDA |
78 |
97 |
93 |
111 |
97 |
111 |
119 |
114 |
130 |
127 |
(-) |
DAac |
6 |
7 |
8 |
9 |
10 |
11 |
12 |
13 |
14 |
15 |
(=) |
EBIT |
72 |
90 |
85 |
102 |
87 |
100 |
107 |
101 |
116 |
112 |
(-) |
IR/CSLL |
8 |
9 |
10 |
11 |
12 |
13 |
14 |
15 |
16 |
29 |
(=) |
NOPAT |
64 |
81 |
75 |
91 |
75 |
87 |
93 |
86 |
100 |
83 |
(-) |
RCT |
9 |
10 |
11 |
12 |
13 |
14 |
15 |
16 |
9 |
6 |
(=) |
LLE |
55 |
71 |
64 |
79 |
62 |
73 |
78 |
70 |
91 |
77 |
Tabela nº 2. Demonstração do Resultado do Exercício do
Supermercado X.
Elaborado pelo autor. Dados da pesquisa.
SIGNIFICADO DAS SIGLAS UTILIZADAS NA DRE DO
SUPERMERCADO X |
||
|
FBVS |
Faturamento
Bruto de Vendas e Serviços |
(-) |
IPI |
Imposto
de Produtos Industrializados (calculado por fora) |
(=) |
RBVS |
Receita
Bruta de Vendas e Serviços |
(-) |
Ded |
Deduções (Σ das vendas canceladas,
dos abatimentos e dos tributos indiretos – ICMS ou
ISS, PIS e COFINS) |
(=) |
RLVS |
Receita Líquida de
Vendas e Serviços (RLVS) |
(-) |
CMV |
CMV/CPV/CSP |
(=) |
LBO |
Lucro Bruto Operacional (LBO) |
(-) |
DOp |
Despesas Operacionais (Σ das despesas com vendas, administrativas e gerais) |
(=) |
LLO |
Lucro Líquido
Operacional (LLO) |
(+/-) |
RDNOp |
Receitas/Despesas
Não Operacionais |
(=) |
EBITDA |
EBITDA = LAJIDA = Lucro Antes dos Juros,
Impostos, Depreciação e Amortização |
(-) |
DAac |
Depreciação
e Amortização acumuladas |
(=) |
EBIT |
EBIT
= LAJIR = Lucro Antes dos Juros e do Imposto de Renda e da CSLL |
(-) |
IR/CSLL |
Tributos
diretos (Σ IR e CSLL) |
(=) |
NOPAT |
NOPAT = Lucro Líquido Operacional depois da tributação |
(-) |
RCT |
Remuneração
do Capital de Terceiros |
(=) |
LLE |
Lucro Líquido
do Exercício (LLE) =
Lucro contábil |
Tabela nº 3. Significado das siglas utilizadas na DRE
do supermercado X.
Elaborado pelo autor. Dados da pesquisa.
4.3 Apuração do FCLE e do FCLA
Nas tabelas nº 4 e 5, apresenta-se
uma forma de se calcular o FCLE e o FCLA. E, na tabela nº 6, apresenta-se o
cálculo do FCLE para o Supermercado X, referentes aos seus dez últimos
exercícios financeiros.
APURAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA LIVRE PARA A EMPRESA
(FCLE) |
|
(=) |
Lucro Líquido do Exercício – resultado apurado no DRE – (LLE) |
(+) |
Depreciação
(Dep) |
(-) |
Investimentos – valor total dos itens depreciáveis – (Inv) |
(-) |
Variação
da Necessidade de
Capital de Giro
(VNCG) |
(=) |
FCLE =
Fluxo de Caixa Livre
para a Empresa |
Tabela
nº 4. Apuração do Fluxo de Caixa Livre para a Empresa (FCLE) (1).
Fonte:
Martelanc, Pasin e Cavalcante (2005, p. 75). Elaborado pelo autor.
APURAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA LIVRE PARA O ACIONISTA
(FCLA) |
|
(=) |
Fluxo
de Caixa Livre para a Empresa (FCLE) |
(-) |
Pagamento
de Juros (PJ) |
(+) |
IR
sobre os Juros - Benefício Fiscal – (IRJ) |
(-) |
Amortização
de Empréstimos (AE) |
(+) |
Novos
Empréstimos Contraídos (NEC) |
(=) |
Fluxo
de Caixa Livre para o Acionista (FCLA) |
Tabela
nº 5. Apuração do Fluxo de Caixa Livre para o Acionista (FCLA).
Fonte:
Pasin (2004, p. 72). Elaborado pelo autor.
APURAÇÃO DO FCLE PARA O SUPERMERCADO X (em
R$milhares) - Histórico |
|||||||||||
|
|
2012 |
2013 |
2014 |
2015 |
2016 |
2017 |
2018 |
2019 |
2020 |
2021 |
(=) |
LLE |
55 |
71 |
64 |
79 |
62 |
73 |
78 |
70 |
83 |
77 |
(+) |
Dep |
6 |
7 |
8 |
9 |
10 |
11 |
12 |
13 |
14 |
15 |
(-) |
Inv |
3 |
4 |
5 |
6 |
7 |
8 |
9 |
10 |
11 |
12 |
(-) |
VNCG |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
7 |
8 |
9 |
10 |
11 |
(=) |
FCLE |
56 |
71 |
63 |
77 |
59 |
69 |
73 |
64 |
76 |
69 |
Tabela nº 6. Apuração do FCLE para o Supermercado X.
Dados da pesquisa.
4.4 Cálculo da Taxa de Crescimento (Modelo Gordon)
Pressupõe-se que o
percentual de caixa distribuído na forma de dividendos (payout) seja de
85% para o Supermercado X. Calculando-se o ROE com base nos valores contábeis,
temos que o seu ROE é de 47,85% (77/160,93), muito elevado. Nesse caso,
calculamos a taxa de crescimento, do período explícito, para o Supermercado X,
do seguinte modo: g (Sup. X) = (1 – 0,85) * 0,4785 = 7,18%.
E, na perpetuidade, a taxa de crescimento (do LL) do
Supermercado X cai para 2,5% a.a., convergindo-se a valores de mercado.
4.5 Projeção do FCLE e do FCLA
Neste subtópico
utiliza-se o FCLE (Tabela nº 7) apurado no subtópico 4.3 e as taxas de
crescimento (g) calculadas no subtópico 4.4. Para se projetar o FCLE do
Supermercado X, são levadas em consideração as premissas do Quadro 2.
- Taxas de crescimento do Lucro Líquido (LLE): 7,18% para o
período explícito, e 2,5% para o período contínuo (perpetuidade); - O Investimento em Giro deve se manter em 15% a.a. sobre o
faturamento bruto, tanto no período explícito quanto na perpetuidade; - O crescimento esperado das receitas de vendas
(faturamento bruto) deve ser de 9% a.a., tanto no período explícito quanto na
perpetuidade; - A Depreciação cresce a uma taxa constante anual de 8,5%
tanto no período explícito quanto na perpetuidade; - O valor total dos itens depreciáveis (Inv) cresce a uma
taxa constante anual de 7%, no período explícito, e cresce a uma taxa
constante anual de 2% na perpetuidade. |
Quadro 2. Premissas para projeções do Supermercado X.
Dados da pesquisa.
Com base nessas
premissas, projeta-se, nas tabelas nº 7 e 8, os FCLE do Supermercado X, tanto
do período explícito quanto na perpetuidade, respectivamente, conforme se
apresenta a seguir.
- FCLE previstos para
o período explícito:
PROJEÇÃO
DO FCLE DO SUPERMERCADO X (em R$milhares) |
||||||||||
|
2022E |
2023E |
2024E |
2025E |
2026E |
2027E |
2028E |
2029E |
2030E |
2031E |
LLE = 7,18% |
82,5 |
88,5 |
94,8 |
101,6 |
108,9 |
116,7 |
125,1 |
134,1 |
143,7 |
154,0 |
Dep = 8,5% |
16,3 |
17,7 |
19,2 |
20,8 |
22,6 |
24,5 |
26,6 |
28,8 |
31,3 |
33,9 |
Inv = 7% |
12,8 |
13,7 |
14,7 |
15,7 |
16,8 |
18,0 |
19,3 |
20,6 |
22,1 |
23,6 |
VNCG = 15% |
3,9 |
4,6 |
5,0 |
5,5 |
6,0 |
6,5 |
7,1 |
7,7 |
8,4 |
9,2 |
FCLE |
82,0 |
87,8 |
94,2 |
101,2 |
108,6 |
116,7 |
125,3 |
134,5 |
144,5 |
155,1 |
Giro |
2022E |
2023E |
2024E |
2025E |
2026E |
2027E |
2028E |
2029E |
2030E |
2031E |
Fat. Bruto = 9% |
342,2 |
373,0 |
406,6 |
443,2 |
483,0 |
526,5 |
573,9 |
625,6 |
681,9 |
743,2 |
Inv. em Giro = 15% s/ Fat. Bruto |
51,3 |
55,9 |
61,0 |
66,5 |
72,5 |
79,0 |
86,1 |
93,8 |
102,3 |
111,5 |
VNCG |
3,9 |
4,6 |
5,0 |
5,5 |
6,0 |
6,5 |
7,1 |
7,7 |
8,4 |
9,2 |
Tabela nº 7. Projeção do FCLE do Supermercado X para o Período
Explícito.
Dados da pesquisa.
*FCLE = LLE + Dep – Inv
– VNCG
**VNCG (2022E) = FBVS
(2021)*0,09*0,15 = 290*0,09*0,15 = 3,915
- FCLE previsto para
o período contínuo:
PROJEÇÃO DO FCLE SUP. X (em R$milhares) – Período
Contínuo – 2032E |
||
(=) |
Lucro
Líquido do Exercício (LLE) = 2,5% |
157,85 |
(+) |
Depreciação (Dep) = 8,5% |
36,78 |
(-) |
Valor total dos itens depreciáveis (Inv) = 2% |
24,07 |
(-) |
Variação da Necessidade de Capital de Giro (VNCG) |
10,0 |
(=) |
Fluxo de Caixa Livre para a Empresa (FCLE) |
160,56 |
Tabela nº 8. Projeção do FCLE do Supermercado X para o Período
Contínuo.
Dados da pesquisa.
4.6 Cálculo da Taxa de Desconto (CMPC = WACC)
O cálculo da Taxa de
Desconto, também denominada na literatura de Custo de Oportunidade Total, é o
segundo mais complexo dentre todos os procedimentos técnicos necessários para
se calcular o valor econômico-financeiro de uma empresa, porque “expressa o custo
de oportunidade das várias fontes de capital ponderado pela participação de
cada uma delas na estrutura de financiamento” (JUCÁ, 2020a, p. 6).
4.6.1 Custo do Capital Próprio (CAPM)
Como nesse trabalho foi
realizado um benchmarking (avaliação comparativa), foi utilizado a
T-Bonds (norte-americana) como Taxa Livre de Risco, e a S&P500 como Taxa de
Remuneração de Mercado.
4.6.1.1 Taxa Livre de Risco
Consultou-se,
portanto, no site do Damodaran, a referida taxa livre de risco, que se mostrou
ser 5,11% a.a., que é a média da US T.Bond de 1928 a 2021. Essa técnica de
coleta de dados se denomina benchmarking (avaliação comparativa).
4.6.1.2
Taxa de Remuneração do Mercado
Consultou-se, portanto,
no site do Damodaran, a referida taxa de remuneração do mercado, que se mostrou
ser 11,82% a.a., que é a média da S&P 500 de 1928 a 2021. Essa técnica de
coleta de dados se denomina benchmarking.
4.6.1.3 Beta
Para este trabalho, como
o Supermercado X é de capital fechado, e é composto tanto de Capital Próprio
quanto de Capital de Terceiros, utilizou-se a metodologia do benchmarking (avaliação
comparativa) para coletar o beta desalavancado do setor varejista de
alimentos, do site do Damodaran. O beta desalavancado encontrado foi de 1,04.
Depois, calculou-se o novo beta alavancado, levando-se em consideração o nível
de endividamento do Supermercado X, e a taxa líquida de IR/CSLL de 34%,
obtendo-se:
B alav. = B desal. *
1,04
*
1,04
* 1,3939986 = 1,4497585
4.6.1.4 Risco-país
Para este trabalho,
utilizou-se a técnica do benchmarking para coletar uma taxa de
risco-país condizente com a análise em questão. Então, coletou-se o EMBI+ do
último exercício financeiro, disponível no site do IPEADATA. Obteve-ve, pois, o
risco-país de 3,26%, considerando-se a data 31/12/2021.
Com base nesses
pressupostos, levando-se em consideração uma TLR de 5,11%, uma TRM de 11,82%,
tem-se que o prêmio de risco (TRM – TLR) é igual a 0,1182 – 0,0511 = 0,0671.
Considerando o beta do Supermercado X de 1,4497585 e o risco-país de 3,26%, então o CCP do Supermercado X
é assim calculado: CCP = 5,11% + 1,4497585*0,0651 + 3,26% = 8,4643792%.
4.6.1.5 Ajuste Inflacionário
Neste trabalho,
utilizou-se a Equação de Fisher para o cálculo do Ajuste Inflacionário, tal
como explanado na revisão de literatura.
4.6.2 Custo do Capital de Terceiros
Para o cálculo do CCT
deste trabalho utilizou-se a técnica do benchmarking, coletando-se o
Custo das Dívidas, antes do impostos, no site do Damodaran, e, após isso,
calculando-se o Custo das Dívidas após os impostos, levando-se em consideração
uma alíquota de IR/CSLL igual a 34%. Obteve-se do referido site o CCT, antes dos
impostos, para supermercados, de 3,58%. Então, o CCT, depois dos impostos, foi
calculado do seguinte modo: CCT = 3,58% * (1 – 0,34) = 2,3628%.
4.6.3 Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC)
Levando-se em
consideração um CCP de 8,4643792% (para o Supermercado X), e um CCT
de 2,3628%; além disso, considerando-se um CP/(PL+PO) de 62,62%, e um
CT/(PL+PO) de 37,37%; então, daí, consegue-se calcular o CMPC para ele, tal
como apresentado a seguir:
CMPC
(Supermercado X) = 8,4643792%*0,6262 +
2,3628%*0,3738 =
5,3003942%
+ 0,8832146% = 6,18360425%
Considerando-se, com
base numa consulta feita no site IPEADATA, uma taxa de inflação americana, para
o ano de 2021, de 6,8%, e uma taxa de inflação brasileira, para o ano de 2021,
de 10,06%, tem-se o seguinte ajuste inflacionário, para o CCP do Supermercado X
(calculando-se de acordo com a Equação de Fisher apresentada no subtópico
4.6.1.5):
CMPC (Sup. X)
=> Taxa real USA = [(1+0,0618360425)/(1+0,068)] – 1 = -0,57714958%
CMPC (Sup. X)
=> Taxa nominal Brasil = [(1-0,0057714958)*(1+0,1006)] – 1 =
9,42478917%
4.7 Cálculo do VP dos FCLE e dos FCLA
Sendo os FCLE os
apurados no subtópico 4.5, o CMPC o calculado para cada supermercado no
subtópico 4.6, então calcula-se, para o Supermercado X, o Valor Presente dos
seus FCLE, do seguinte modo:
VP dos
FCLE (Supermercado X) =
Mas como os FCLE do Supermercado X
estavam expressos em milhares, então o VP dos seus FCLE é de R$687.380,00
(seiscentos e oitenta e sete mil, trezentos e oitenta reais).
4.8 Cálculo do Valor da Perpetuidade (Valor
Residual/Terminal)
Para este trabalho, considerou-se uma
taxa de crescimento, na perpetuidade, de 3,52%, conforme resultados
apresentados no subtópico 4.5. Sendo assim, seguem os cálculos do Valor
Residual (VR) do Supermercado X:
Então, o VR do
Supermercado X foi de R$2.719.050,00 (dois milhões, setecentos e dezenove mil,
e cinquenta reais).
4.9 Cálculo do VP da Perpetuidade
Consoante procedimentos
apresentados no tópico 2 deste trabalho, calcula-se aqui o Valor Presente da
Perpetuidade (VPP) do Supermercado X, do seguinte modo:
VPP
(Supermercado X) =
=
Então, o VP do VR do
Supermercado X foi de R$1.104.740,00 (um milhão, cento e quatro mil, setecentos
e quarenta reais).
4.10 Cálculo do valor econômico-financeiro da empresa
Agora, calcula-se o
valor econômico-financeiro para o Supermercado X, tal como segue:
VE (Supermercado X) = VP dos
seus FCLE + VP do seu VR + Disponível
VE (Supermercado X) =
R$687.380,00 + R$1.104.740,00 + R$10.000,00
VE (Supermercado X) = R$1.802.120,00
Sendo assim, o Valor do Supermercado
X, é de R$1.802.120,00, ou seja, de um milhão, oitocentos e dois mil, cento e
vinte reais. Esse é o seu Enterprise Value (EV). Já o seu Goodwill,
ou Valor Agregado, é justamente a diferença entre o seu EV e o valor total dos
seus ativos, isto é, de R$1.545.120,00, ou seja, de um milhão, quinhentos e
quarenta e cinco mil, cento e vinte reais.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelos cálculos realizados neste artigo, verificou-se que o
valor econômico-financeiro apurado (de mais de 1,8 milhão de reais), do
Supermercado X, é maior do que o seu valor de liquidação (257 mil reais). Ou
seja, o Goodwill, ou Valor Agregado dessa operação, é justamente a
diferença entre o Enterprise Value, de R$1.802.120,00 e o Valor Contábil
dos Investimentos, de R$257.000,00; isto é, o goodwill é de R$1.545.120,00.
Por essa razão, verifica-se que esse valor apurado é o valor justo caso ele
seja colocado à venda.
Como o Teorema Fundamental de Finanças diz que o valor de um
ativo qualquer é o somatório de todos os seus fluxos de caixa – diretos ou
indiretos, como, por exemplo, em situações de sinergias –, dali ad aeternum
trazidos a valor presente, então concluí-se que o método do Fluxo de Caixa
Descontado deve ser a base de qualquer valuation.
Vale ressaltar que este trabalho foca somente na dimensão
financeira da avaliação de uma empresa, sendo que existem outras dimensões
importantes para se avaliar, tais como a climática e a cultural, por exemplo.
Em outras palavras, o valor econômico-financeiro de uma empresa não é o seu
valor real, razão pela qual estudos científicos mais recentes estão buscando
mensurar as Sinergias Climáticas e Culturais para melhorar a avaliação de
empresas atualmente realizada. Além disso, mesmo se fosse inviável a transação
de fusão do presente trabalho, ela poderia ser viável do ponto de vista
climático ou cultural; por isso, é preciso avaliar as empresas como um todo, e
não somente o seu aspecto econômico-financeiro.
Percebe-se, por meio desse estudo, que os objetivos gerais e
específicos do mesmo foram alcançados. Como sugestão para pesquisas futuras,
pode-se realizar uma modelagem financeira mais sofisticada para supermercados, criando
diferentes cenários para se calcular o seu Enterprise Value. Além disso,
a literatura crítica de valuation carece de pesquisas sobre como se
calcular o valor real de uma empresa, ou seja, não somente o seu valor
econômico-financeiro, mas também o valor do seu capital intelectual, o valor
das marcas, patentes, clima e cultura organizacionais.
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edição. Porto Alegre: Bookman, 2010. 248 p.
Dados dos autores:
Álaze Gabriel do Breviário. Especializando em Finanças e Controladoria pela
USP-ESALQ. Especialista em Gestão Financeira (UNINTER-2022). Especialista em
Docência e Pesquisa para o Ensino Superior (UNIMES-2015). Especialista em
Finanças e Controladoria (UBC-2014). Bacharel em Ciências Contábeis
(UNIMES-2019). Tecnólogo em Gestão de Negócios (UBC-2012). Escritor. Endereço:
Rua M, nº 10, Cohab, Nossa Senhora de Lourdes, São Lourenço, CEP 37.470-000,
MG. Telefone: (35) 98812-3258. E-mail: alaze_p7sd8sin5@yahoo.com.br.
Beatriz da Silva
Pereira. Mestre em Contabilidade (2017) pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) graduação em Ciências Contábeis (2014) pela Universidade do
Extremo Sul de Santa Catarina (UNESC) e técnico em Gestão em Empreendedora
(2010) pela Associação Beneficente de Trabalhadores do Carvão (SATC).
Professora técnico na SATC e orientadora de TCC do cento universitário Uninter.
E-mail: beatriz.silva.p@gmail.com.