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“Genialidade e Superdotação”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel.
A
superdotação é um tema primordial para a sociedade, pois trata de indivíduo com
habilidades raras que podem ser utilizadas para o florescimento da sociedade ou
para a sua degradação. Esta pesquisa busca desvendar esse universo. Analisar
algumas peculiaridades que envolve o seleto grupo de pessoas com altas
habilidades, principalmente, no que se refere à sua educação. O estudo foi
dividido em três partes principais. A primeira analisa a evolução histórica do
tema, assim como os principais conceitos de superdotação. Já a segunda parte
aborda a superdotação no âmbito educacional, ou seja, a educação escolar dos superdotados,
assim como os principais problemas que enfrentam dentro das instituições
educacionais. E a terceira e última parte trata da pedagogia da superdotação,
ou seja, as recomendações e as dicas apresentadas pela literatura científica
para uma eficiente e produtiva educação de superdotados, inclusive as
diretrizes dos programas especializados estabelecidos pelo governo. Enfim, a
construção de uma sociedade justa e de uma nação próspera depende do tratamento
desigual dos desiguais e do investimento em habilidades, talentos e
criatividade.
1.
INTRODUÇÃO
Os
EUA investiram bilhões de dólares na criação de um escudo antimíssil que
tornasse inviável qualquer ataque aéreo às cidades americanas. Porém, no dia 11
de setembro de 2001 aconteceu um dos mais surpreendentes ataques ao território
dos EUA. Grupos terroristas atacaram um dos símbolos mais importantes da
América, bem embaixo das “barbas” do exército mais poderoso do mundo e
justamente de onde não esperavam nenhum ataque. Aviões comerciais foram
transformados em mísseis balísticos e lançados sobre os alvos. Por mais trágico
que tenha sido o fato, a inteligência que o concebeu e planejou é rara e
incomum.
Entre
os grandes gênios da humanidade - como Einstein, Mozart, etc - e os líderes
terroristas do 11 de setembro há um ponto comum: inteligência acima da média.
São pessoas superdotadas ou talentosas. Pessoas que carregam consigo o
germe da revolução, podendo contribuir tanto para a evolução e crescimento da
humanidade quanto para a sua desagregação e degradação.
Esta
pesquisa busca desvendar esse universo, ou seja, analisar algumas
peculiaridades que envolve o seleto grupo de pessoas superdotadas ou que
possuem altas habilidades. Visa também apontar as múltiplas dimensões e
determinantes da questão, destacando, paralelamente, o papel da família, escola
e sociedade no processo de reconhecimento, desenvolvimento e expressão do
potencial criador, do talento e da inteligência desses indivíduos.
É
importante assinalar também que esta pesquisa foi dividida em 3 partes
principais. A primeira analisa a evolução histórica do tema, assim como os
principais conceitos de superdotação. Isso permite a determinação exata do
objeto de pesquisa e os principais tratamentos que recebeu ao longo da
história. Já a segunda parte aborda a superdotação no âmbito educacional, ou
seja, a educação escolar dos superdotados, assim como os principais problemas
que enfrentam dentro das instituições educacionais. A finalidade dessa parte é
descrever as principais dificuldades enfrentadas pelos portadores de altas
habilidades no dia-a-dia da sala de aula, assim como as repercussões de suas
habilidades nos demais atores educacionais. E a terceira e última parte trata
da pedagogia da superdotação, ou seja, as recomendações e as dicas apresentadas
pela literatura científica para uma eficiente e produtiva educação de
superdotados, inclusive as diretrizes dos programas especializados
estabelecidos pelo governo.
Além
disso é importante ressaltar a escassez de bibliografia nacional sobre esta
temática. As poucas obras existentes consistem numa infindável repetição de
estudos estrangeiros, esquecendo-se de avaliar as características e as
peculiaridades da temática na realidade brasileira, ocasionando um vácuo
informacional que repercute diretamente nas políticas e programas sobre
superdotação.
Por
isso, esta pesquisa tomou com base norteadora, o material produzido pelo Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino
Fundamental – Superdotação e Talento – Volume 1 e 2. Material este que foi
editado pelo governo com a finalidade de suprir a ausência de literatura
científica na área, assim como orientar e unificar as práticas educacionais que
envolvem crianças superdotadas.
Enfim, a superdotação é um tema primordial que ocasiona
reflexos em todas as áreas da sociedade e do Estado e deve ser tratada com
seriedade, cuidado e conhecimento.
2.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A SUPERDOTAÇÃO
O tratamento diferenciado a superdotados, talentosos ou
pessoas que possuam indícios de genialidade, tem fundamento no respeito à
dignidade do ser humano e no seu direito ao pleno desenvolvimento e é orientada
pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, constituindo-se em garantia
constitucional no Brasil. Além dos textos legais citados, outras
legislações estabelecem as mesmas garantias, como a Declaração de Salamanca de
1994, a Convenção da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre os Direitos da
Criança de 1989 e a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) de 1996, etc.
É importante lembrar ainda que, na Grécia Antiga, Platão
aconselhava, em sua obra “República”, a atribuição, aos cidadãos, de
papéis segundo suas habilidades, aqueles que detinham maiores responsabilidades
necessitavam de um longo e cuidadoso treinamento. Em outras palavras, é
importante identificar as crianças mais promissoras e iniciar sua educação
precocemente.
Além disso, é essencial promover um ajustamento do
indivíduo superdotado/talentoso com o ambiente social, como também a conquista
de um espaço ou o acesso a um patamar mais amplo de informação e conhecimento.
A ótica não é apenas de um ser humano e uma comunidade, mas de um ser humano,
cujas potencialidades o colocam como agente mais universal de inovações e
transformações.
Contudo, nem todos os alunos com altas habilidades,
superdotados ou talentosos, apresentam as mesmas características e habilidades,
nem todos têm o mesmo potencial, nem todos materializam plenamente seu
potencial. Um são gênios da matemática, outros da literatura e outros das
artes. Cada um tem um perfil próprio e uma trajetória singular de realização,
mas todos necessitam de atendimento especial. Necessitam de educação própria e
individualizada.
Kirk e Gallagher (2002, p.66), estudiosos desta temática,
consideram que a sociedade mostra um interesse especial pelas crianças
superdotadas e talentosas por julgar que, no futuro, estas contribuirão para o
bem-estar social, uma vez que muitos líderes, cientistas e poetas da geração
seguinte tendem a sair do atual grupo de crianças superdotadas e talentosas.
Contudo, para que os superdotados se tornem os esteios da
sociedade ou desempenhem o papel que deles se espera, faz-se necessário
dispensar-lhes cuidados especiais. O problema deste grupo é de tal importância
que só esforços conjugados da sociedade e dos governos poderão resolvê-los
eficientemente.
A direção que os dotes e talentos de um indivíduo
superdotado tomarão depende de muitos fatores, como por exemplo a experiência,
a motivação, o interesse, a estabilidade emocional, a veneração de heróis, a
insistência paterna, e até mesmo as possibilidades. Muitos indivíduos
intelectualmente superdotados também poderiam ter sido bem-sucedidos em outras
áreas se os seus interesses e o treinamento tivessem sido concentrados naquela
direção. Contudo, pessoas com potenciais não plenamente desenvolvidos e
desperdiçados, acabam canalizados e sugados para esferas sociais não
aceitáveis, ou ainda, subrealizados e desviados para a marginalidade - crime
organizado e terrorismo.
A educação, neste referencial, entra como uma barreira de
contenção, inibindo o desenvolvimento de germes nocivos à moralidade e a
integridade do indivíduo, mantendo-o firme na legalidade e como um esteio sadio
da sociedade.
Por isso nos EUA, conforme análise apresentada no
Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental, o
superdotado é considerado um cidadão especial que leva consigo o germe do
futuro e, por isso, as coordenadas principais da educação dos cientistas
do futuro, naquele país, tendem a “desespecializar” a formação profissional,
propiciando maior abertura e desenvolvendo o que denominam de pensamento
futuro-sistemático, ou seja, a capacidade de pensar em perspectiva futura com
os demais, a capacidade imaginativa e o espírito especulativo, sempre em uma
direção transdisciplinar.
Enfim, os parágrafos anteriores resumem as idéias típicas
dos principais autores que abordaram esta temática, incluindo Kirk e Gallagher
(2002), Alencar (1986), Souza (2002) e o material apresentado pelo Programa de
Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental – Superdotação e Talento,
vol.1 e 2 (BRASIL, 1999); que são unânimes na afirmação da importância da
identificação de superdotados/talentosos ainda na infância, pois isso irá
direcionar a formação vindoura e o cuidado na educação e no aproveitamento do
potencial destas pessoas especiais.
2.1 Linha do tempo da
superdotação
De
acordo com Souza (2002) os primeiros registros históricos sobre superdotação
vem da Grécia, uma vez que a cultura grega foi a que deu mais atenção à
inteligência superior, justificando assim o enorme número de filósofos,
matemáticos e astrônomos que deixaram várias contribuições para a humanidade. Platão
defendia a idéia de que tais pessoas deveriam ser identificadas na tenra
infância e preparadas para serem líderes, num grupo ao qual chamou de:
"Crianças de Ouro".
No
século XV e XVI as pessoas proeminentes eram interpretadas como bruxos,
demônios e nocivas à sociedade e durante o Renascimento, todo tipo de desvio,
tanto a insanidade como a genialidade, era considerada uma instabilidade ou
doença mental.
Em
1869 Galton publicou, na Inglaterra, o Gênio Hereditário, no qual
associa a inteligência aos sentidos e considera que o fenômeno da superdotação
é transmitido através das gerações.
Em
1905, na França, Alfred Binet e Theodore Simon utilizam os primeiros testes de
inteligência com aplicação prática em crianças com dificuldade de aprendizagem
- A Escala Binet de Inteligência.
O
Termo QI surge em 1911, quando o alemão William Stern desenvolveu o Quociente
Mental, equação resultante da Idade Mental dividida pela Idade Cronológica
multiplicada por 100.
Levis
Terman, em 1916, propõe a revisão da escala Standford-Binet. No ano de 1921
Terman deu início a mais longa pesquisa longitudinal de que se tem notícia.
Investigou crianças com QI acima de 140 tendo concluido que o QI continuava a
aumentar ao longo da vida.
Os
estudos de Terman contribuiram, também, para desmistificar as idéias
equivocadas sobre o desenvolvimento sócio-afetivo dos superdotados. Seu estudo
longitudinal foi realizado num grupo de 1528 crianças de aproximadamente 12
anos, sendo metade do sexo masculino e metade do feminino. No decorrer de seis
décadas de pesquisa, descobriu-se que a incidência de mortalidade, enfermidade,
delinquência, insanidade e alcoolismo eram inferiores às registradas no grupo
da população em geral. (SOUZA, 2002).
Helena
Antipoff, entre 1930 a 1940 chama a atenção, no Brasil, para a importância de
desenvolver estratégias que atendessem os superdotados. Leta
Hollingworth, na década de 40 sublinha a necessidade da escola de educar e
treinar crianças com potencial superior com ênfase no seu desenvolvimento
afetivo e sócio - emocional. Em
1962 na Fazenda Rosário (MG) sobre a direção de Helena Antipoff foi criado um
Programa de Atendimento ao aluno superdotado no meio rural e da periferia
urbana.
Em
1975 foi realizada em lsrael a primeira Conferência Mundial sobre Superdotação. Em
1976 a Fundação Educacional do Distrito Federal implantou o Programa para
Atendimento ao Superdotado. Em
1978 foi criada a Associação Brasileira para Superdotados. Em
1983 Gardner revoluciona o meio científico com seu novo conceito de
inteligência apresentada no livro "A teoria das inteligências múltiplas".
De
acordo com Souza (2002), a
visão multidimensional da inteligência de Gardner coloca os testes
psicométricos numa posição coadjuvante no processo de identificação dos
indivíduos superdotados. Ele ampliou a noção do spectrum de talentos,
considerando que o tempo para classificar e rotular indivíduos deveria ser
menor do que o destinado a ajudar e estimular suas competências e habilidades
naturais.
2.2 Definindo a Superdotação
O
primeiro ponto que deve ser assinalado é que não existe uma definição exata de
superdotação, um conceito aceito universalmente ou um método preciso que
identifique um superdotado. O que existe são diretrizes gerais e análise de
evidências e manifestações de genialidade.
A
Secretaria de Educação Especial do MEC adota por base a mesma definição
de superdotado que foi apresentada no relatório de Marland, em 1972, do
Departamento de Saúde, Educação e Bem-Estar dos Estados Unidos, onde são consideradas
crianças portadoras de altas habilidades (superdotadas) as que apresentam
notável desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer dos seguintes
aspectos, isoladamente ou combinados (BRASIL, 1995):
Capacidade intelectual;
Aptidão acadêmica ou específica;
Pensamento criador ou produtivo;
Capacidade de liderança;
Talento especial para artes visuais, artes dramáticas e música;
Capacidade psicomotora.
Para
compreender cada um dos aspectos apresentados é importantes fazer um paralelo
entre a visão predominante na literatura científica (ALENCAR, 1986) e a visão
oficial do governo (BRASIL, 1995) sobre as características mais típicas da
superdotação:
QUADRO SEQ
QUADRO \* ARABIC 1 – CARACTERÍSTICAS DA SUPERDOTAÇÃO
Habilidade intelectual geral
|
inclui
indivíduos que demonstram características tais como: curiosidade intelectual,
poder excepcional de observação, habilidade de abstrair e desenvolver
atitudes de questionamentos.
|
aquele que
apresenta flexibilidade e fluência do pensamento, capacidade de pensamento
abstrato para fazer associações, produção ideativa, rapidez do pensamento,
julgamento crítico, independência do pensamento, elevada compreensão e
memória, capacidade de resolver e lidar com problemas.
|
inclui aqueles
que apresentam um desempenho excepcional na escola, que se saem muito bem em
testes de conhecimento e que demonstram alta habilidade paras as tarefas
acadêmicas.
|
Aquele que
apresenta aptidão acadêmica específica, atenção, concentração, rapidez de
aprendizagem, boa memória, interesse e motivação pelas disciplinas
acadêmicas, habilidade para avaliar, capacidade de produção acadêmica.
|
Habilidade de
pensamento criativo
|
inclui alunos
que apresentam idéias originais e divergentes, que demonstram uma habilidade
para elaborar e desenvolver suas idéias originais e que são capazes de perceber
de muitas formas diferentes um determinado tópico.
|
Aquele que
apresenta originalidade, imaginação, capacidade para resolver problemas de
forma diferente e inovadora, reações e produções diferentes, às vezes
extravagantes, facilidade de auto-expressão, fluência e flexibilidade.
|
inclui os
estudantes que emergem como os líderes sociais ou acadêmicos de um grupo, e
que se destacam pelo uso do poder, autocontrole e habilidade de desenvolver
uma interação produtiva com os demais.
|
apresenta
capacidade de liderança, sensibilidade interpessoal, atitude cooperativa,
sociabilidade expressiva, habilidade de trato com pessoas diversas e grupos
para estabelecer relações sociais, percepção acurada das situações de grupo,
capacidade de resolver situações sociais complexas, alto poder de persuasão e
de influência no grupo.
|
engloba
indivíduos que apresentam habilidades superiores para pintura, escultura,
desenho, filmagem, dança, canto, teatro e para tocar instrumentos musicais.
|
Aquele que se
destaca tanto na área das artes plásticas, musicais, como dramáticas e
literárias, ou técnicas, evidenciando capacidades especiais para essas
atividades e alto desempenho.
|
indivíduos que
apresentam proezas atléticas, incluindo também o uso superior de habilidades
motoras refinadas e habilidades mecânicas.
|
Aquele que
apresenta habilidade e interesse pelas atividades psicomotoras, relativos à
velocidade, agilidade de movimentos, força e resistência, controle e
coordenação motora.
|
Portanto,
observando a tabela anterior, percebe-se que ambos as abordagens aceitam a
mesma base, ou seja, os mesmos tipos de manifestações da superdotação. O que
diferencia são os conteúdos de cada tipo, pois enquanto a literatura é mais
rigorosa e restritiva, a visão do governo é mais ampla e abrangente. Além
disso, é importante assinalar que ambas as perspectivas reconhecem que as
categorias apresentadas podem ser encontrados combinados entre si, além de
haver a possibilidade de aparecimento de outros tipos de talentos e
características.
Não
se pressupõe, portanto, que todos os alunos superdotados apresentem todas essas
características, assim como, quando as têm, não a apresentam necessariamente em
simultaneidade, nem no mesmo nível.
Outra
definição de superdotação foi criada por Ogilvie (1973, p.6 apud SOUZA,
2002): O termo
"superdotado" é usado para indicar qualquer criança que se destaque das
demais, numa habilidade geral ou específica, dentro de um campo de atuação
relativamente largo ou estreito. Quando existirem testes reconhecidos como (por
exemplo) no caso da "inteligência", então a superdotação poderia ser
definida a partir de escores em testes. Onde não exista teste reconhecido,
pode-se presumir que as opiniões subjetivas de "peritos" nas diversas
áreas acerca das qualidades criativas de originalidade e imaginação
demonstradas seriam o critério que temos em mente.
Isto
significa que toda a criança ou, tomando no caso mais geral, toda pessoa
que se destaque significativamente das demais em termos de uma dada atividade
humana relevante pode ser considerada um superdotado. Também significa que o
critério a ser usado para a verificação do "destaque" deve ser um
teste padronizado que resulte num valor numérico, quando possível; senão, devem
ser usadas as opiniões subjetivas de peritos na atividade humana em questão.
A
definição apresentada, de acordo com Souza (2002), apresenta pelo menos três
grandes vantagens com relação às outras definições. A primeira vantagem é o
fato de não apenas caracteriza o superdotado mas também estabelece, em linhas
gerais, os métodos a serem usados para se medir a superdotação.
A
segunda vantagem é a definição do superdotado por comparação com o seu meio e
não através de escalas absolutas, assegurando, com isso, a relevância do
processo de identificação independente de onde ele ocorre. E a terceira e
última vantagem é lidar somente com o fato de certas pessoas se destacarem das
demais em alguma atividade relevante, independente da causa de tal
superioridade, evitando uma conceituação excessivamente comprometida com uma
linha teórica específica.
Com
isso, tem-se um conceito a partir do qual é possível classificar as pessoas
quanto às suas habilidades de uma forma sistemática e relevante, ao mesmo tempo
em que se evita que discussões teóricas tornem-se um obstáculo ao
desenvolvimento prático.
2.3 Superdotação e
Educação Especial
Atualmente,
a legislação brasileira posiciona-se pelo atendimento dos alunos com
necessidades educacionais especiais em classes comuns das escolas, em todos os
níveis, etapas e modalidades de educação e ensino. Vive-se na chamada era das
inclusões.
Contudo,
a inclusão de alunos superdotados, que são considerados portadores de
necessidades especiais pela legislação, nem sempre é benéfica para o educando,
uma vez que os superdotados quando inseridos em classes comuns podem apresentar
rendimento escolar muito superior (fazem as tarefas rapidamente e gastam o
resto do tempo com bagunça) ou inferior (mostram desinteresse pelos estudos e
de motivação para os estudos acadêmicos e para a rotina escolar), de uma forma
ou de outra, podem comprometer todo o desenvolvimento da turma, sem contar a
dificuldade de socialização em classe, o que sempre desencadeia problemas de
aprendizagem e de adaptação escolar. De acordo com
o Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental –
Superdotação e Talento – (BRASIL, 1999, v.1, p.25):
A criança superdotada caracteriza-se por
ser mais rápida do que as outras, com ou sem o professor; por questionar
informações e conceitos, discordando do que foi passado e do nivel da
informação recebida e sempre tendo uma postura crítica e de julgamento, não
aceitando e nem reconhecendo a função da escola e do professor, uma vez que se
coloca no mesmo nivel que ele. Revela extensão de informações nas diversas
áreas. Apresenta independência no trabalho e no estudo. Enfrenta situações
conflituosas em trabalhos de grupo, pois seu conhecimento e visão se encontram
acima dos colegas e isto não é aceito por eles. Provavelmente continuará
opondo-se a ordens, normas, disciplina e diretrizes.
Por
isso os alunos superdotados carecem de educação especial, uma vez que a escola,
para eles, é a área da vida que pode apresentar o melhor ajuste ou o pior
desajuste. Tanto sua capacidade superior pode ajudar-lhe nos estudos e
contribuir para um desempenho excepcionalmente bom, como a mesma capacidade
pode levar ao tédio, aborrecimento ou rebeldia, capazes de provocar desempenho
insatisfatório. Essas dificuldades tendem a surgir devido ao fato do
superdotado ser um indivíduo excepcionalmente inteligente mergulhado num mundo
de pessoas com intelecto mediano; fato este que pode gerar uma série de
dificuldades de adaptação.
São
pertinentes as considerações, publicadas em um artigo sobre o tema, da Revista
Época:
O
superdotado precisa de atenção especial. É, na maior parte das vezes, uma
pessoa com dificuldades no convívio social, carente emocionalmente e, se não
der vazão a suas possibilidades, pode até, no limite, tornar-se um criminoso,
afirma a especialista Marsyl Mettrau, presidente da ABSD. Para ela, pelo menos
dois personagens bastante conhecidos e dotados com tais poderes são tristemente
famosos: os bandidos Lúcio Flávio e, mais recentemente, Leonardo Pareja. Por
outro lado, superdotados pobres que poderiam se perder na multidão acabaram
descobertos. É o caso do ator mirim Vinicius de Oliveira, protagonista do filme
Central do Brasil, de Walter Salles. (Revista Época, n. 14 de 24-08-98).
É essencial, portanto, aplicar tratamento diferenciado a
superdotados, talentosos ou pessoas que possuam indícios de genialidade,
pautando-se no respeito à dignidade do ser humano e no seu direito ao pleno
desenvolvimento. Tal diferenciação faz parte da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, que se constitui em garantia constitucional no Brasil.
Além dos textos legais citados, outras legislações
estabelecem as mesmas garantias, como a Declaração de Salamanca de 1994, a
Convenção da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre os Direitos da Criança
de 1989 e a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) de 1996, etc.
2.4 Características dos
Superdotados
Einstein teve uma infância difícil, não gostava da escola
e entrou na lista dos repetentes. Outro gênio, o pintor holandês Van Gogh
padeceu de desajustes psicológicos, assim como o matemático francês Pascal, que
aos sete anos já fazia cálculos. Os exemplos são extremos, mas servem de alerta
aos pais de crianças com talentos ou aproveitamento escolar excepcionais para
sua idade e dificuldades de adaptação social. Essa combinação de sinais pode
esconder a face de um superdotado, que requer atenção e cuidados especiais,
talvez até eventual acompanhamento terapêutico.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
estima que 1% da população escolar, ou 380 mil crianças, são superdotadas. Para
identificar evidências de esperteza basta reparar nos talentos precoces. Em
geral são dons específicos para a matemática, a música ou os idiomas
estrangeiros. A criança aprende rápido a ler, exibe habilidade para determinado
instrumento musical, ou expressão verbal mais elaborada do que a normal para
sua faixa etária. É o garoto que chama a atenção pela capacidade de
argumentação, pela memória excepcional, a atenção e a curiosidade incomuns, o
raciocínio ágil e a extrema curiosidade. (Revista Época, n. 14 de 24-08-98).
O
programa de atendimento ao aluno superdotado da Secretaria de Estado de
Educação do Distrito Federal (BRASIL, 2002), arrola as características mais
típicas dos superdotados e talentosos:
Vocabulário
avançado e incomum para a idade ou nível escolar, possui riqueza de expressão,
elaboração e fluência verbal.
Grande
depósito de informações sobre variados tópicos.
Rápido domínio
e recordação de informações factuais.
Raciocínio
rápido sobre causa e efeitos, tenta descobrir o como e o porque das coisas, faz
perguntas provocativas, "sugam" as pessoas.
É um
observador entusiasmado e alerta, geralmente vê demais e quer demais dos
outros.
Pronto
entendimento de princípios implícitos, gerando rapidamente generalizações sobre
eventos, pessoas e coisas.
Tem paixão por
leitura, preferindo, geralmente, livros de nível adulto, biografias,
autobiografias, enciclopédias e Atlas.
Tentam
entender materiais complicados, separando-os em suas respectivas partes.
Gosta de
resolver as coisas por si mesmo e vê lógica e senso comum nas respostas.
Torrance
(1971, apud SOUZA, 2002), citado no documento base do programa de
atendimento ao aluno superdotado da secretaria de estado de educação do
distrito federal (BRASILIA, 2002), propôs a seguinte lista de características
das pessoas superdotadas:
Reagem positivamente a elementos novos, estranhos e misteriosos de seu
ambiente.
Persistem em examinar e explorar estímulos com o objetivo de conhecer melhor a
respeito deles.
São curiosos; gostam de investigar, fazem muitas perguntas.
Apresentam uma forma original de resolver problemas, propondo muitas
vezes soluções inusitadas.
São independentes, individualistas e auto-suficientes.
Tem grande imaginação e fantasia.
Vêem relações entre objetos.
Tem sempre muitas idéias.
Preferem idéias complexas; irritam-se com a rotina.
Podem ocupar seu tempo de forma produtiva, sem ser necessária uma estimulação
constante do professor.
Contudo, é importante assinalar que nem todos os alunos com altas
habilidades, superdotados ou talentosos, apresentam as mesmas características e
habilidades, nem todos têm o mesmo potencial, nem todos materializam plenamente
seu potencial. Cada um tem um perfil próprio e uma trajetória singular de
realização, mas todos necessitam de atendimento especial.
3.
SUPERDOTAÇÃO E PROBLEMAS ESCOLARES
3.1 O
superdotado na escola
Analisando
os períodos da história universal encontram-se teorias e práticas sociais
discriminatórias, inclusive quanto ao acesso ao conhecimento e a forma de sua
transmissão. Isso ainda se faz presente em algumas áreas, ou seja, nem todos
podem participar dos espaços sociais nos quais se transmitem e se criam conhecimentos
com a mesma qualidade e acessando aos mesmos dados, uns são mais do que outros.
A pedagogia da exclusão tem origens remotas e raízes profundas na sociedade
humana.
A
essência da democracia e do Estado de Direito pautam-se na capacidade de percepção
das diferenças humanas. Por isso, um dos brocardos jurídicos mais famosos,
estabelecido pelo Jurista Rui Barbosa, diz: “Justo não é tratar igualmente os
desiguais, mas sim tratar desigualmente os desiguais, na exata medida de sua
desigualdade.”
Em
outras palavras, as desigualdades, nas questões humanas, não devem ser
quantificadas em melhores ou piores, mas qualificadas de diferentes e,
portanto, merecedoras de todo respeito. A padronização e a busca de
uniformização sempre resultou no florescimento de grandes injustiças. Enfim, as
maiores formas de violência referem-se à incapacidade de perceber na pessoa sua
identidade, sua história de vida, sua potencialidade, suas dificuldades,
tratando-as como reproduções de modelos uniformes e convencionados por alguns.
Neste
contexto e sofrendo as conseqüências da uniformidade educacional, inserem-se os
superdotados que, dadas as suas particularidades e peculiaridades, carecem de
programas definidos e específicos de assistência e educação.
Mas
isso não significa caminhar contra a corrente da inclusão educacional ? A
resposta deve ser dada com reservas e cuidado, pois nas questões humanas a
uniformização e o pensamento único sempre geram reflexos negativos, tanto para
o indivíduo, quanto para a sociedade. Mais ainda quando a questão envolve o
seleto e sensível grupo de superdotados que, em sua maioria, não conseguem se
adaptar à família e nem à escola.
Além
disso, os superdotados sempre freqüentaram as escolas regulares, ou seja, não
constituem um grupo historicamente afastado do mundo normal. Em outras
palavras, as discriminações aos superdotados reside na uniformização
educacional e no tratamento igual a desiguais e não na exclusão escolar.
3.2 Problemas escolares
mais típicos
Todas
as sociedades, nos mais diferentes contextos históricos, têm ou já tiveram
indivíduos excepcionalmente superiores em produções, aos quais sempre coube a
realização de pequenos e grandes feitos inovadores. Estas produções são
resultantes, usualmente, de alto grau de envolvimento e grande motivação
direcionada para idéias, fatos ou produtos. Tais indivíduos diferem-se dos
demais, não apenas, por possuírem uma capacidade intelectual superior, mas por
conjugarem a esta, dois fatores igualmente importante: uma criatividade mais desenvolvida
e uma constante automotivação para executar projetos desafiadores.
A
diferença gera inveja e discriminações, principalmente quando envolve
características pessoais. Na verdade, não é a inteligência mais desenvolvida
deste grupo que propicia as dificuldades adaptativas, mas sim, a resistência
natural que toda sociedade demonstra para com o não-convencional ou aquilo que
julgam superior.
As
diferenças qualitativamente superiores e mais apuradas destoam da harmonia da
homogeneidade social, que assegura a manutenção das estruturas estabelecidas,
ou seja, alguns indivíduos conseguem enxergar além do horizonte e ultrapassar
as barreiras da mediocridade. Eis aí a razão precípua da exclusão social que
vitimiza todas as minorias - sobretudo aquelas que são por natureza
irreverentes, desafiadoras e criativas tanto em pensamento, ações ou produções.
Segundo
Antipoff (1992, p.45):
Na
filosofia educacional dos superdotados, regras, regulamentos e programas
pré-fabricados não têm vez. É necessário dar-lhes oportunidade para
descobertas, experiências e confrontações, e haverá então o inverso daquilo que
se faz até hoje: serão eles que mostrarão, através de suas manifestações,
aquilo que devemos oferecer-lhes.
Enquanto
a maioria das pessoas consegue, num dado momento, reduzir sua necessidade de
conhecer (o que até parece ajudá-las na escolha profissional), o portador de
altas habilidades é um canal aberto em todas as direções, ávido por apreender o
real na sua totalidade, ainda que também exista nele, uma ou mais área de
interesses específicos, às quais se faça necessário uma dedicação especial.
A
escola, portanto, é a área da vida onde o superdotado pode apresentar o melhor
ajuste ou o pior desajuste. Tanto sua capacidade superior pode ajudar-lhe nos
estudos e contribuir para um desempenho excepcionalmente bom, como a mesma
capacidade pode levar ao tédio, aborrecimento ou rebeldia capazes de provocar
desempenho insatisfatório. Além disso, dificuldades tendem a surgir devido ao
fato do superdotado ser um indivíduo excepcionalmente inteligente mergulhado
num mundo de pessoas com intelecto mediano; fato este que pode gerar uma série
de conflitos e dificuldades de adaptação.
Enfim,
existem uma diversidade de problemas escolares que podem surgir durante o
desenvolvimento educacional de um aluno superdotado. De
acordo com Souza (2002) os problemas mais comuns enfrentados pelos superdotados
na escola são:
1.
desperdiço de tempo;
2.
hostilidade dos colegas;
3.
independência rebelde;
4.
conflitos com os docentes.
Esses
problemas escolares serão analisados mais detalhadamente nos tópicos seguintes,
pois é conhecendo-os que o professor terá elementos e meios para enfrentá-los,
assim como informações para encontrar uma saída justa e equânime para ambas as
partes.
3.2.1 Desperdício de
Tempo
De
acordo com Souza (2002) uma criança que tem QI (Quociente de Inteligência) em
torno de 140 aproveita apenas 50% de uma aula comum, ou seja, o resto do tempo
é utilizado numa espera tediosa de repetição do óbvio. Já uma criança com QI de
170 praticamente nada aproveita das aulas normais.
Este
autor ainda apresenta uma tabela de comparação entre o valor de QI, a fração da
aula desperdiçada e o tempo que se perdeu em sala de aula. Esta tabela é
importante porque comprova a idéia de que a inserção de superdotados em uma
sala comum implica em um claro nivelamento por baixo, ou seja, ou toda a turma
acompanha a capacidade de aprendizagem do aluno com altas habilidades ou este
caminha na velocidade determinada pela média da turma. Isso, certamente, gera
uma série de conflitos e desavenças, pois as diferenças se tornam cristalina
para todos.
3.2.2 Hostilidade dos
Colegas
De
acordo com Souza (2002) uma criança superdotada é frequentemente encarada como
uma ameaça pelos companheiros, pois ela pode fazer com que os padrões de
trabalho da classe passem a ser mais rigorosos e o professor passe a esperar
mais de seus alunos. Isso decorre diretamente do item anterior, uma vez que os
alunos superdotados possuem atalhos naturais que aumentam sua velocidade de
aprendizagem e a qualidade de seu trabalho. Caso o professor faça um
nivelamento por cima, tomando o alunos com altas habilidades como padrão, toda
a produção do resto da classe será considerada de baixa qualidade.
Além
disso, as crianças com QI médio não se sentem confortáveis quando estão
próximas de uma criança considerada muito "inteligente", pois o
relacionamento de ambas é permeado pela sensação de
superioridade/inferioridade. Isso também ocorre com os professores, que se
sentem incapazes de enfrentar e responder aos questionamentos desse tipo de
aluno, uma vez que o superdotado
[...]
não mede esforços para obter o máximo possível de respostas às suas dúvidas
mais intrínsecas, as quais suscitarão, mais e mais dúvidas, e nenhuma certeza
inquestionável. Por isto dizemos que tal indivíduo possui uma ingenuidade que,
filosoficamente pode ser pensada como um desprovimento de convicções e juízos
diante do real; ou seja, o portador de altas habilidades consegue estabelecer
um diálogo com o próprio objeto do conhecimento, por já estar ele,
naturalmente, aberto à total apreensão do mesmo. Enquanto a maioria dos
indivíduos não se acha na disponibilidade de imergir naquilo que deseja
conhecer, o portador de altas habilidades jamais se contenta com apenas um modo
de apreensão do que lhe interessa; antes sente-se impelido a perquirir com
intensa voracidade, todos os vieses daquilo que lhe ocupa a mente. Esta atitude
natural e necessária transparece, muitas vezes nos grupos, como ironia,
exibição, contestação inútil, etc. (METTRAU e ALMEIDA, 1994, p. 5-13)
3.2.3 Independência
Rebelde
Um
elemento comum entre os superdotados é a independência de aprendizado e a
liberdade de ação, ou seja, a criança criativa rebela-se perante a abordagem
rígida que busca enquadrá-la em um padrão predeterminado ou que busca
uniformizar o seu comportamento, dizendo-lhe o que deve aprender e o que deve
considerar como verdadeiro.
Drews
(1961, apud SOUZA, 2002) desenvolveu um estudo no qual analisou o comportamento
de estudantes divididos em três categorias: líderes sociais, conformistas
estudiosos e intelectuais criativos. Este autor observou que os alunos
criativos não apresentam preocupação com suas notas, ou seja, enquanto os
outros estudantes se preparavam para as provas, os intelectuais criativos
poderiam estar lendo um texto científico universitário, um livro de filosofia
ou mesmo revistas de ficção científica, ou então trabalhando em atividades que
não tivessem qualquer influência no seu rendimento escolar. Como resultado,
eles obtiveram as piores notas, mas, graças à sua leitura ampla, variada e
automotivada, seu desempenho em testes de conhecimento acadêmico foi melhor do
que o dos estudiosos e líderes sociais.
Portanto,
o trabalho com educandos superdotados deve ser realizado por docentes
conhecedores das peculiaridades do grupo. Por exemplo, no caso citado
anteriormente por Drews, um professor leigo pode tomar medidas drásticas contra
o aluno, punindo-o por considerá-lo prejudicial para o desenvolvimento da
turma, quando na verdade, este educando, está apenas buscando outros meios de
informações e dados que são relevantes para a sua formação e que fazem
diferença em sua vida. Uma ação errada do professor pode desencadear um
conjunto de reações negativas, culminando, inclusive, com a desistência escolar
do aluno superdotado.
3.2.4
Professores
De
acordo com Souza (2002) os professores, em geral, apreciam na criança três
características: habilidade acadêmica, alta motivação e conformismo social. Essas
características também são apreciadas pelos pais, ou seja, esse modelo de aluno
é apreciado por todos e na escola terá maior capacidade de tolerância que os
demais educandos. Assim, é de se supor que as crianças que se desviam de tais
modelos estabelecidos (como é o caso da esmagadora maioria dos superdotados)
tornem-se insatisfeitas e frustradas e desapontem, tanto os pais, quanto os
professores.
Além
disso, predomina, entre os docentes, a idéia de que o superdotado tem aptidão e
talento para desenvolver ao máximo suas potencialidades e habilidades sem o
auxílio de terceiros ou submetido aos mesmos tratamento dos demais alunos.
Não
é raro que a criança portadora de altas habilidades seja até hostilizada,
direta ou indiretamente, por professores que constatam que ela já sabe tudo
quanto lhe pretendem ensinar ou que dominam em poucos dias aquilo que os
companheiros de classe levam semanas ou meses.
Em
outras ocasiões, os docentes supõe que a criança superdotada sabe mais, aprende
demais, então entregam-na a própria sorte. Como consequência, o superdotado
muitas vezes acomoda-se, já que os desafios propostos pela escola estão muito
abaixo da sua capacidade, produzindo muito menos do que é capaz, simplesmente
por estar desestimulado.
· Comentários
como "tal aluno deve tirar boas notas porque é inteligente" e outros
do gênero fazem com que o superdotado abdique e desista de seus talentos e
aptidões, uma vez que, por tê-los, tem mais preocupações e obrigações do que os
outros colegas.
|
· Os professores, por constatarem que
tal aluno é mais inteligente ou talentoso do que os seus colegas de classe,
freqüentemente, passam a exibi-lo ou a protegê-lo, distinguindo-o dos demais
e prejudicando suas relações com os colegas, os quais passam a rejeitá-lo.
|
· Por vezes, o professor se identifica
com o superdotado e projeta nele suas aspirações e desejos, sendo a imagem
daquele que gostaria de ter sido, do filho idealizado ou do indivíduo
superior. Entretanto, pode também não aceitá-lo, desenvolvendo atitudes de
antagonismo e oposição permanentes.
|
· Professores que tiveram alunos
brilhantes geralmente tem prazer em contar, mais tarde, sua experiência;
embora no ensino tenham tido dúvidas se tais crianças eram realmente
superdotadas, ou problemáticas, diferentes, estranhas.
|
· Muito raramente o professor é tão
talentoso como seu aluno em sua área específica, e não tem tanta imaginação
nem criatividade quanto ele.
|
· O aluno superdotado é curioso,
inquisidor, instável e, por vezes, irritado e agressivo, exigindo muito da
pessoa do professor. Nem sempre ele (o professor) está psicologicamente
preparado para enfrentá-lo e, portanto, sente-se inseguro, inferiorizado e
perseguido, porquanto aquele é o aluno que sabe mais, que faz perguntas
difíceis e que abala seu status de saber e de autoridade.
|
· Muitos
professores competem com seus alunos superdotados e não admitem que estes
últimos saibam mais do que eles ou que possam ter idéias mais criativas ou
originais.
|
QUADRO
SEQ QUADRO \* ARABIC 3 - ATITUDES FREQUENTES DE PROFESSORES DE
SUPERDOTADOS QUE PREJUDICAM O SEU DESENVOLVIMENTO - NOVAES (1979)
Fonte: SOUZA, B. C.
Informação e Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual. Portal Sapiens.
2002.
Em
meados de 1970, Seagoe, citado por Novaes (1979), elaborou uma lista quase
completa dos traços típicos dos superdotados e dos possíveis problemas
escolares que podem apresentar.
CARACTERÍSTICAS
DOS SUPERDOTADOS E OS PROBLEMAS EDUCACIONAIS CONCOMITANTES SEGUNDO SEAGOE
(1976)
Característica: Poder agudo de observação,
pronta receptividade, senso do significativo, capacidade para estabelecer o
diferente.
Problemas Resultantes:
Possibilidade de rejeição grupal, oposição ao meio, defesa do próprio sistema
de valores, intolerância.
|
Característica: Poder de abstração, de
associação e de síntese, interesse pela aprendizagem indutiva e resolução de
problemas, prazer na atividade intelectual.
Problemas Resultantes: Resistência
ocasional à imposição de tarefas, omissão de detalhes, não aceitação de
atividades de rotina.
|
Característica: Interesse nas relações
causa-e-efeito, habilidade para perceber relações, interesse na aplicação de
conceitos.
Problemas Resultantes: Dificuldade para aceitar o ilógico, o
superficial e conhecimentos mal estruturados e pouco definidos.
|
Característica: Gosto pela estrutura e pela
ordem, pela consistência, seja de valores ou números.
Problemas Resultantes: Invenção dos próprios sistemas, por vezes, em
conflito com os pré-estabelecidos na escola.
|
Característica: Capacidade de retenção, de
reorganização do conhecimento.
Problemas Resultantes: Desinteresse pela rotina, necessidade de
precoce domínio das habilidades fundamentais.
|
Característica: Habilidade verbal, amplo
vocabulário, facilidade de expressão, interesse pela leitura, extensão da
informação às diversas áreas do conhecimento.
Problemas Resultantes: Necessidade precoce de especialização no
vocabulário da leitura, resistência às imposições dos pais e professores,
fuga no verbalismo.
|
Característica: Atitude de indagação,
curiosidade intelectual, espírito inquisidor, motivação.
Problemas Resultantes: Falta de estimulação familiar e escolar
apropriada, desestímulo, indiferença.
|
Fonte: SOUZA, B. C. Informação e
Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual. Portal Sapiens. 2002.
Característica: Espírito
crítico, ceticismo, avaliação e autocrítica.
Problemas Resultantes: Atitude
crítica em relação aos outros, desencorajamento, exigência interna excessiva.
|
Característica: Criatividade e capacidade
inventiva, inclinação para novas maneiras de ver as coisas, interesse pela
livre expressão.
Problemas Resultantes: Rejeição do
conhecido, necessidade de inventar constantemente.
|
Característica: Poder de concentração e
atenção.
Problemas Resultantes: Resistência
à interrupção quando concentrado nas atividades.
|
Característica: Comportamento persistente e
dirigido para metas.
Problemas Resultantes: Obstinação,
certo desligamento do desnecessário e secundário.
|
Característica: Sensibilidade, intuição,
empatia pelos outros, necessidade de suporte emocional.
Problemas Resultantes: Necessidade
de sucesso e reconhecimento, sensibilidade à crítica, vulnerabilidade à
rejeição dos colegas.
|
Característica: Energia, vivacidade,
agilidade, períodos de intenso e voluntário esforço, precedentes aos da
invenção.
Problemas Resultantes: Frustração
com a inatividade e ausência de progresso, impaciência.
|
Característica: Independência no trabalho e
no estudo, preferência pelo trabalho individualizado, necessidade de
liberdade de movimento e ação, necessidade de isolamento.
Problemas Resultantes:
Não-conformismo com as pressões dos pais e grupos de colegas, problemas de rejeição
e de antagonismo, quando pressionado.
|
Característica: Versatilidade e virtuosidade,
diversidade de interesses e habilidades, muitos passatempos, competência em
diferentes aspectos como música ou desenho e assim por diante.
Problemas Resultantes: Falta de
homogeneidade no trabalho de grupo, necessidade de individualização e de
ajuda para explorar e desenvolver interesses, como também de adquirir
competências básicas.
|
Fonte: SOUZA, B. C.
Informação e Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual. Portal Sapiens.
2002.
Portanto,
os alunos superdotados são diferentes dos demais em diversos aspectos. Aprendem
com maior facilidade e rapidez, sentem uma necessidade quase compulsiva de
fazer as coisas à sua própria maneira, são extremamente exigentes com os seus
educadores, tem várias áreas de interesse intelectual e são vistos como
diferentes pelos demais alunos. Logo, apresentam características únicas que
fazem surgir problemas incomuns.
De
acordo com Souza (2002):
Os
alunos superdotados apresentam claros indícios de uma superioridade em relação
aos normais quanto à eficiência dos seus processos de aprendizagem, sendo tal
diferença mais visível no 1° Grau do que no 2° Grau. Entre os mais jovens, essa
discrepância parece estar associada à necessidade de estudar o mínimo possível
(mas não chegando a ficar completamente sem estudar). No caso dos mais velhos,
normais e superdotados precisam ambos de quantidades semelhantes de estudo
(cerca de 15 a 21 horas semanais, ou 2-3 horas por dia), porém os últimos
apresentam um desempenho melhor.
Souza
(2002) afirma ainda que os estudantes superdotados se diferenciam dos normais
por serem mais propensos a adotarem uma estratégia de estudo mais holística, ou
seja, que engloba uma mistura de leitura, testes, anotações e outras
abordagens. Além disso, a estratégia predileta da maior parte dos educandos
normais é a resolução de exercícios, enquanto que a dos superdotados é a
combinação de estratégias.
Enfim,
os alunos superdotados apresentam diferenças quantitativas e qualitativas em
relação aos normais quanto ao estudo. No primeiro aspecto, há uma eficiência
maior na aprendizagem escolar. No segundo, existem peculiaridades quanto às
estratégias adotadas e os ambientes de estudo escolhidos. São discrepâncias
mais do que significativas que certamente merecem uma atenção especial devido
às suas implicações educacionais.
Portanto,
a própria escola com suas padronizações e regras regras imutáveis é a
origem de diveros problemas enfrentados pelos educandos com altas
habilidades e a saída mais comum é tentar mudar o aluno, idiotizando-o, ao
invés de mudar a escola.
4. PEDAGOGIA
DA SUPERDOTAÇÃO
4.1 A educação do
superdotado
Maker
(1982, apud SOUZA, 2002) apresenta cinco aspectos pedagógicos
fundamentais para a educação do superdotado. Aspectos estes que favorecem a
motivação, o interesse e a aprendizagem livres de tensão e conflitos.
PRINCÍPIOS
PEDAGÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SUPERDOTADOS - MAKER (1982)
A aprendizagem deve estar centrada no
aluno e não no professor.
|
Deve ser encorajada a independência, e
não a dependência.
|
Deve ser encorajada uma atmosfera de
"abertura mental" em sala de aula.
|
Deve ser enfatizada a aceitação de
idéias e não o seu julgamento.
|
Deve ser permitida e encorajada a alta
mobilidade do aluno dentro da sala.
|
Fonte:
SOUZA, B. C. Informação e Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual. Portal
Sapiens. 2002.
De
um modo geral, trata-se de princípios que deveriam ser aplicados em toda e
qualquer sala de aula, esteja ela repleta de superdotados, de pessoas normais
ou até mesmo de retardados mentais. O que Maker (1982, apud SOUZA, 2002)
ressalta é o fato de que a ausência desses preceitos é muito mais prejudicial
ao superdotado do que aos demais educandos. Logo, é preciso salientar e
divulgar entre os educadores que o aluno com altas habilidades necessita de uma
variedade de experiências de aprendizagem enriquecedoras, que estimulem seu
potencial.
Acredita-se
que a superdotação é um fenômeno raro e que são poucas as crianças e
jovens educandos que poderiam ser considerados
superdotados. O que pode ser salientado é que se
realmente as condições forem inadequadas, dificilmente o indivíduo com um
potencial maior terá condições de desenvolvê-lo. Assim, da mesma forma que uma
boa semente necessita de condições adequadas
de solo, luz e umidade para desenvolver-se,
também o aluno com altas habilidades
necessita de um ambiente adequado estimulador
e rico em experiências.
No
âmbito das políticas educacionais, inicialmente, as diretrizes básicas da
Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e do Desporto
(BRASIL, 1995) consideravam superdotados (ou portadores de altas habilidades)
aqueles alunos que apresentavam notável desempenho e/ou elevada potencialidade
em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade
intelectual, aptidão acadêmica ou específica (por exemplo, aptidão matemática),
pensamento criativo e produtivo, capacidade de liderança, talento para artes
visuais, artes dramáticas e música e capacidade psicomotora.
Atualmente,
segundo o artigo 5º, parágrafo III, da Resolução CNE/CEB Nº 2, de 2001, que
instituiu as Diretrizes nacionais para a educação especial na
educação básica (BRASIL, 2001), educandos com altas
habilidades/superdotação são aqueles que apresentam grande facilidade de
aprendizagem, levando-os a dominar rapidamente
conceitos, procedimentos e atitudes. Como conseqüência, estes
alunos apresentam condições de aprofundar e enriquecer conteúdos escolares.
Considerando
as políticas educacionais inclusivas, o
aluno deve ser cada vez mais atendido em seus
interesses, necessidades e potencialidades, cabendo à escola ousar, rever
suas concepções e paradigmas educacionais,
lidando com as evidências que o
desenvolvimento humano oferece.
Uma
criança pré-escolar que apresente um desenvolvimento cognitivo, socioafetivo
e/ou psicomotor diferenciado e avançado
para a idade não pode ser
desconsiderada e/ou desqualificada no âmbito
escolar. Nesse sentido, é importante
atender os alunos de altas habilidades/superdotados,
considerando seu desenvolvimento real, evitando contemplar níveis de
desenvolvimento padronizados, conforme os apresentados em escalas de
desenvolvimento.
Cabe,
portanto, à escola definir no projeto pedagógico seu compromisso com uma
educação de qualidade para todos seus
alunos, inclusive o de altas
habilidades/superdotados, respeitando e valorizando essa diversidade, e
definindo sua responsabilidade na criação de novos espaços inclusivos.
Além
disso, é na educação infantil que se aponta para a possibilidade de realização
de novas interações sociais por meio dos
reagrupamentos escolares, conforme preconizam os
artigos 23 e 24 da nova LDB e que buscam, em última instância, não que o aluno
se amolde ou se adapte à escola, mas que a escola se coloque à disposição do
aluno, como um espaço inclusivo.
Para
isso é importante a definição de um projeto pedagógico que inclua a modalidade
de ensino educação especial no cotidiano escolar,
oferecendo aos alunos de altas
habilidades/superdotados alternativas motivadoras e criativas de aprendizagem
que possam garantir o seu sucesso escolar.
4.1.1 Diretrizes Para
Programas Especializados
Freqüentemente
a criança superdotada precisa de trabalho educacional fora dos limites da sala
de aula, em interação direta com outras crianças bem-dotadas. Contudo, tem que
ser integrado ao projeto educacional da escola, e não realizado como algo
isolado, ou à parte dele.
Segundo
as diretrizes básicas traçadas pelo MEC (BRASIL, 1995), os alunos portadores de
altas habilidades, salvo em casos extraordinários, serão atendidos em escolas
comuns, onde receberão atendimento especial, e terão a sua disposição
orientação e materiais adequados. Esse atendimento deverá ser constituído,
conforme o caso e as condições da escola, de uma programação de enriquecimento/aprofundamento
curricular, de uma programação de aceleração de estudos, ou de modalidades
conjugadas.
Ainda
de acordo com o MEC (BRASIL, 1995), não haverá preocupação exclusiva com o
atendimento ao(s) talento(s) que o superdotado possua, mas a busca na formação
harmoniosa de sua personalidade.
Este
documento estabelece ainda que o trabalho com a superdotação deverá ser
norteado pelos seguintes critérios:
definir objetivos para a seleção de programas, tanto no que se refere ao
desenvolvimento e à expansão das habilidades do educando, quanto à ampliação de
seus interesses;
planejar atividades em que se utilizem multimeios numa abordagem integrada das
disciplinas;
promover situações de ensino capazes de favorecer o desenvolvimento das
potencialidades do educando, especialmente nas áreas de tomadas de decisões, de
planejamento, de criatividade e de comunicação;
proporcionar oportunidade de experiências de modo a alargar os horizontes
pessoais do educando, desenvolvendo senso de responsabilidade e independência
intelectual.
É
válido assinalar ainda que os programas para superdotados devem possuir
propostas curriculares que englobem o aprofundamento de conteúdos, a extensão
de conhecimentos e a utilização de novas estratégias e métodos de ensino para
os diversos níveis de escolaridade.
As
administrações educacionais têm também uma grande responsabilidade para tornar
o atendimento possível: devem colocar o desenvolvimento deste projeto entre seus
objetivos prioritários, formar e valorizar os professores envolvidos,
incentivar sua dedicação e garantir os meios necessários para que sua prática
seja possível: elaborar materiais diversos que orientem o trabalho dos
educadores e proporcionar recursos suficientes para garantir uma educação
satisfatória.
A
escolha do tipo de atendimento, de acordo com Novaes (1979), dependerá de
vários fatores que incluem a filosofia da educação, a estrutura do sistema
escolar vigente, o material disponível, os currículos usados e o pessoal
especializado para o trabalho com esse tipo de aluno.
Deve-se
lembrar, porém, que desenvolver um programa de atendimento de forma adequada,
mesmo levando em consideração somente o aspecto cognitivo não é uma tarefa
fácil, já que, existem superdotados com aptidões em diversas áreas e outros, em
áreas específicas, ou seja, os objetivos de um programa de atendimento a
portadores de altas habilidades não podem ser associados apenas ao
desenvolvimento intelectual, mas também devem favorecer o crescimento pessoal e
a interação social.
METAS DE UM
PROGRAMA DE ATENDIMENTO A SUPERDOTADOS SEGUNDO ARN E FRIERSON (1971)
· Melhores condições para o desenvolvimento de
habilidades acadêmicas.
|
· Desenvolver bons hábitos de trabalho e estudo.
|
· Incrementar um clima de aprendizagem que resulte
em maior produtividade.
|
· Incrementar a motivação.
|
· Favorecer o ajustamento pessoal e emocional.
|
· Promover o desenvolvimento social.
|
· Oferecer melhor atendimento ao ritmo individual de
crescimento e aprendizagem.
|
· Possibilitar a expansão de interesses.
|
· Desenvolver valores estéticos.
|
Fonte: SOUZA, B. C. Informação e Conhecimento
sobre a Superdotação Intelectual. Portal Sapiens. 2002.
4.1.2 Programas de Aceleração
Um
exemplo de alternativa usada pelo professor, com certa freqüência, quando se
trata de um aluno superdotado, é acelerar a formação desse aluno, ou seja,
passá-lo para séries mais adiantadas. Essa modalidade de atendimento permite
com que o aluno superdotado conclua seus estudos em tempo inferior ao previsto.
Através
desta modalidade, o aluno poderá, amparado pela legislação (Lei de Diretrizes e
Bases da Educação 9.394/96), iniciar precocemente seus estudos antes da idade
legal, ser promovido à séries mais avançadas antes do término do ano letivo ou
até concluir dois anos de escolaridade em um ano apenas, através da
transposição de séries.
Considera-se
ainda, como aceleração, fazer cursos por correspondência ou obter créditos em universidades
através de exames especiais, que possibilitam ao aluno ser dispensado de
matérias que teria que cursar regularmente.
O
objetivo dessa modalidade é de proporcionar ao aluno maior disponibilidade de
tempo para dedicar-se a outras áreas de seu interesse, dando-lhe oportunidade
de começar sua vida profissional antes do ano previsto. Quando a aceleração se
dá através da admissão precoce na escola, segundo Alencar e Fleith (2001),
deve-se dar atenção especial a maturidade física, social e emocional da
criança, considerando-se seu nível intelectual, as suas motivações e
interesses.
Alguns
autores criticam esse tipo de atendimento, principalmente quando se trata de
passar o aluno para séries mais avançadas, pois acreditam que esse tipo de
procedimento implicaria uma falta de continuidade no programa, ou seja, que o
aluno, em questão, perderia certos conteúdos, que seriam fundamentais nas
séries seguintes.
Outro
problema citado por Alencar e Fleith (2001), é a rejeição por parte dos alunos
mais velhos com relação ao aluno mais novos que são introduzidos na sala,
atitude bastante comum principalmente quando se trata de adolescentes, podendo
causar sérios problemas emocionais à criança superdotada.
VANTAGENS DA ACELERAÇÃO SEGUNDO CLARK
(1979)
|
1) É um método que pode ser usado em praticamente
qualquer escola.
2) Os alunos intelectualmente
superiores tendem a escolher companheiros mais velhos, e a aceleração vai
favorecer este contato.
|
3) A aceleração permite aos estudantes
mais capazes darem início a sua vida profissional mais cedo, o que resulta em
maior produtividade.
|
4) Pelo fato do aluno permanecer menos
tempo na escola, os custos diminuem.
|
5) Observa-se menos tédio e
insatisfação entre os estudantes a quem se permite acelerar nos estudos, os
quais percebem o novo programa como sendo mais estimulante e menos enfadonho.
|
6) O ajustamento emocional e social
tem se mostrado superior nos estudantes que participam de programas de
aceleração.
|
7) A aceleração permite que se exija
do aluno uma produtividade mais de acordo com suas capacidades.
|
8) Se um estudante inusitadamente
brilhante permanece com os seus colegas da mesma idade, ele possivelmente
achará as tarefas propostas pelo professor muito fáceis e desenvolverá hábitos
de estudo inadequados.
|
9) A oportunidade de interagir e
participar de atividades acadêmicas tende a favorecer uma atitude mais
responsável por parte do aluno e o estabelecimento de novos propósitos e
objetivos.
|
Fonte: SOUZA, B. C.
Informação e Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual. Portal Sapiens.
2002.
Entretanto,
apesar de todos os argumentos a favor desse processo, existem autores que
criticam o método da aceleração.
French
(1964, apud SOUZA, 2002) argumenta que é importante para o
desenvolvimento pessoal do aluno que ele seja mantido junto com colegas de
mesma idade e nível social e emocional. Segundo ele, a criança que
"salta" uma determinada série escolar completamente deixa de aprender
toda uma gama de conhecimentos acadêmicos e sociais importantes e necessários,
o que deixa "furos" em sua formação.
Apesar
das opiniões em contrário, no entanto, investigações mais ou menos recentes tem
mostrado os bons resultados da estratégia de aceleração, quando esta é aplicada
com certo grau de bom-senso. Daurio (1979) cita diversas pesquisas as quais
revelam que, quando os alunos são devidamente selecionados e a aceleração se dá
por admissão precoce ou pela utilização dos "cursos de férias", não
apenas os resultados em termos acadêmicos e cognitivos são satisfatórios, como
também o são o desenvolvimento emocional e social do estudante. De acordo com
ele, a resistência de pais e educadores em relação a este tipo de programa
fundamenta-se mais em noções pré-concebidas acerca de desajustes do que em
fatos objetivos.
Alencar
(1986) aponta o exemplo norte-americano onde se permite que os alunos
brilhantes do 2° grau cursem algumas disciplinas universitárias para as quais
já esteja preparado, dispensando a necessidade de cursá-las posteriormente
quando ingressarem na faculdade. Segundo ela, este sistema e os chamados
"cursos de verão" tem apresentado excelentes resultados em termos de
interesse, entusiasmo, aprendizagem e produtividade acadêmica.
4.1.3 Programas de
Enriquecimento
Os
programas de enriquecimento baseiam-se em experiências variadas de estimulação,
e têm como objetivo um maior desenvolvimento das habilidades e dos interesses
dos superdotados, visando aumentar e aprofundar seus conhecimentos. São três as
alternativas propostas pelo MEC (BRASIL, 1995) nesse tipo de atendimento:
na própria sala de aula, com a utilização de técnicas de trabalho diversificado
aplicado pelo professor de turma, orientado, ou não, por um especialista;
em grupos especiais submetidos a um programa de enriquecimento paralelo ao das
atividades comuns, atendidos por um professor especialista ou pelo próprio
professor da turma, orientado por um especialista;
em grupos especiais com programa diferente ao da turma que freqüentam,
realizado por um professor especialista.
Segundo
Alencar e Fleith (2001), não são três, mais muitas, as formas que os programas
de enriquecimento podem tomar. Pode implicar, por exemplo, em terminar em menos
tempo o conteúdo proposto, permitindo a inclusão de novas unidades de estudo. O
enriquecimento também pode ser realizado através do desenvolvimento de projetos
originais, ou através de uma investigação mais ampla em determinada área .
Outras
atividades de enriquecimento seriam, segundo Delou (2001), aprendizagem
suplementar; unidades de aprofundamento em determinada matéria; atividades em
laboratórios; ensino em equipe para estudos especializados em diferentes áreas;
estudo dirigido; conferências e demonstrações; atividades junto a profissionais
no local de trabalho e treino em situações de liderança.
De
acordo com Novaes (1979, p. 51)
Por
meio de um programa de atividades de enriquecimento, envolvendo, entre outras,
redação criativa, dramatização, teatro, histórias, jogos de adivinhação e de
imaginação, atividades de pintura, desenho, música e pesquisa, observa-se que,
progressivamente, esses alunos tornam-se mais desembaraçados, espontâneos,
interessados, abertos para novas experiências, individualizando seus trabalhos
e assumindo suas habilidades e talentos.
A
ênfase maior dos programas de enriquecimento, entretanto, segundo Alencar e
Fleith (2001), tem sido em termos de conteúdo. Dificilmente novas abordagens ou
metodologias são consideradas, subestimando-se a importância de um
enriquecimento voltado ao pensamento crítico ou que tenha um enfoque mais
original e flexível na forma de se abordar um problema.
Renzulli
(1994), citado em Alencar e Fleith (2001), sugere um modelo de enriquecimento
escolar que dá liberdade de escolha, da extensão e da profundidade dos tópicos
a serem estudados aos alunos, e vê o professor como um facilitador desse
processo. São três as atividades de enriquecimento, propostas por Renzulli, que
se destacam: o Enriquecimento do tipo I, II e III.
O
Enriquecimento do tipo I consiste em atividades exploratórias gerais, que
expõem os estudantes a novos e interessantes tópicos, idéias e campos do
conhecimento que não fazem parte do currículo regular. Este tipo de
enriquecimento pode ser fornecido através de palestras, excursões,
demonstrações, exposições, minicursos, visitas e do uso de diversos materiais,
como filmes, programas de televisão, Internet, slides, entre outros.
Já
no Enriquecimento do tipo II, são utilizados métodos, materiais e técnicas que
contribuem no desenvolvimento de níveis superiores de processos de pensamento,
de habilidades criativas e críticas, nas habilidades de pesquisa, de busca de
material bibliográfico e processos relacionados ao desenvolvimento pessoal e
social. Seu objetivo é desenvolver habilidades de “como fazer”, de modo a
instrumentar os alunos a investigar problemas reais usando metodologias
adequadas à área de interesse desses alunos.
O
Enriquecimento do tipo III consiste em atividade nas quais os alunos investigam
problemas reais, ou, então, formulam problemas, e, usando metodologias
apropriadas, desenvolvidas anteriormente, através do Enriquecimento do tipo II,
buscam soluções para resolver o problema. Este tipo de atividade oferece
oportunidade de aprofundamento em determinada área e desenvolvimento de
produtos autênticos. Os estudantes se tornam produtores de conhecimento, não
apenas seus receptores.
Alencar
e Fleith (2001) citam, como exemplo de Enriquecimento do tipo III, a elaboração
de um jogo de guerra simulado, um livro, uma homepage, uma escultura, uma
propaganda, etc. O enriquecimento deste tipo possibilita ainda, ao aluno,
desenvolver habilidades metacognitivas, tais como planejamento, gerenciamento,
tomada de decisões e avaliação, além de características afetivas, como
independência de pensamento e ação, motivação, autoconfiança e habilidades
interpessoais.
Grupos
de enriquecimento proporcionam, a todos os alunos, experiências de aprendizagem
desafiadoras, auto-seletivas e baseadas em problemas reais, além de favorecer o
conhecimento avançado em uma área específica, estimular o desenvolvimento de
habilidades superiores de pensamento e encorajar a aplicação destas em
situações criativas e produtivas. (ALENCAR & FLEITH, 2001, p.137)
Enfim,
um programa de enriquecimento escolar é uma estratégia pedagógica onde se
oferece ao aluno capaz a oportunidade de ampliar e aumentar os seus
conhecimentos por meio da participação de cursos extracurriculares, projetos
especiais ou conteúdos curriculares específicos mais adiantados. A idéia parte
do princípio que o aluno superdotado precisa de pouco tempo para desenvolver as
atividades acadêmicas habituais para a sua idade e/ou série escolar, e que
necessita de um complemento para estas atividades de modo a ocupar
produtivamente o seu tempo ocioso. Também espera-se que o fato do aluno ter
atividades intelectualmente estimulantes oferecidas pela escola contribua para
que ele não sucumba ao tédio e, conseqüentemente, desperdice o seu tempo livre.
Gowan
e Torrance (1971, apud SOUZA, 2002) alertam para certas dificuldades
inerentes à aplicação de um programa de enriquecimento, afirmando que é pouco
realista esperar que um professor de uma turma de tamanho médio, desprovido de
treinamento especial e sem tempo extra, possa ter condições de desenvolver com
sucesso um programa desse tipo, voltado somente para os seus alunos
superdotados que estão misturados ao restante da turma. O mais provável é que
ele ou ela, quando muito, exija que tal ou qual aluno responda mais exercícios
ou que domine maior parte do conteúdo programático do que os demais; dando
pouca ou nenhuma ênfase ao uso de novas abordagens ou metodologias para ensinar
o pensamento crítico, a originalidade ou a flexibilidade de idéias.
4.1.4 Programas de
Segregação
A
segregação consiste em separar, temporária ou permanentemente, os estudantes
superdotados dos demais alunos. O objetivo é criar turmas especiais homogêneas
para as quais se possa dar um tratamento especial adequado sem prejuízo para os
alunos normais.
Barbe
(1965, apud SOUZA, 2002) defende a segregação argumentando que este é o
melhor método pelo qual a escola pode levar a criança a se dedicar, com
entusiasmo, a tarefas simultaneamente interessantes e desafiadoras. De acordo
com ele, facilita também o trabalho dos professores, os quais poderão trabalhar
com um grupo menor e mais homogêneo no qual é mais fácil desenvolver atividades
de enriquecimento.
No
entanto, French (1964, apud SOUZA, 2002), avisa que segregar um grupo de
alunos e rotulá-los de "superdotados" pode fazer com que desenvolvam
uma atitude esnobe e presunçosa, sendo necessária uma boa orientação por parte
de pais, professores e orientadores educacionais para que tal tipo de postura
perniciosa não se instale.
McWililliams
(1965, apud SOUZA, 2002) afirma que os superdotados variam muito quanto
a sua esfera de talentos, o que torna sua completa segregação difícil ou mesmo
impossível. Além disso, ele levanta o argumento de que os superdotados
precisam, cedo ou tarde, aprender a conviverem com os indivíduos menos
habilidosos, coisa que se adquire mais facilmente num grupo heterogêneo.
Clark
(1979, apud SOUZA, 2002) considera todos argumentos acima quando sugere
alguns princípios básicos a serem respeitados na utilização do método da
segregação para que haja um bom resultado.
PRINCÍPIOS QUE DEVEM REGER A SEGREGAÇÃO
SEGUNDO CLARK (1979)
1) Reconhecer que as diferenças
individuais sempre existem, de modo que os superdotados não constituem um
grupo perfeitamente homogêneo. Alguma instrução individualizada deve sempre
existir.
|
2) Deve-se evitar a completa
segregação, já que os alunos selecionados devem também ter oportunidade de
contato com os demais alunos.
|
3) Deve-se selecionar professores bem
qualificados.
|
4) Deve-se encorajar o desenvolvimento
em várias áreas, e não apenas na intelectual.
|
5) Deve haver sempre comunicação entre
os professores desse alunos e entre professores e pais.
|
6) Os professores desses programas
devem estar continuamente se informando acerca de pesquisas, formas de
avaliação e propostas de currículo para esta população.
|
Fonte: SOUZA, B. C. Informação e Conhecimento
sobre a Superdotação Intelectual. Portal Sapiens. 2002.
4.1.5 Escolas Especializadas
Outra
medida quase sempre considerada é a de encaminhar a criança superdotada para
uma escola especializada. Com certeza, nos casos em que a criança superdotada
possua habilidades atléticas ou talento nas áreas artísticas, como música,
dança, o papel dessas instituições é inegável. Quanto as demais, talvez, a
melhor maneira de promover seu desenvolvimento seja mesmo através de um
trabalho paralelo em sala de aula, através de programas de enriquecimento,
desde que sejam bem estruturados e orientados por profissionais especializados.
Aqui,
encaixam-se também alternativas como seminários especiais, aproveitamento de
recursos humanos da comunidade, monitorias, visitas e excursões, viagens,
atividades diversificadas em programas de férias, entre outras, que dão uma
ampla variedade de vivências e experiências pedagógicas ao aluno superdotado.
De
acordo com Prista (1992, p.17).
Vários
estudos comprovam a riqueza de experiências com grupos heterogêneos. Por outro
lado, o superdotado deve viver socialmente e isto implica relacionar-se com as
mais diversas diferenças, pessoas comparáveis a ele em termos de capacidade
intelectual e criativa, pessoas com capacidade inferior e também superior. Como
prepará-lo para a convivência, para a relação com seres humanos, se já
tendenciosamente é excluído? Se só estamos levando em análise um dos lados da
questão?
Segundo
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação/MEC (no 9394/96), é
recomendado que esses alunos permaneçam em classes e escolas comuns,
considerando que o professor tenha condições de trabalhar com atividades diversificadas
e disponha de orientação e de materiais pedagógicos adequados. Caberá as
escolas a opção dos programas visíveis a serem implantados, considerando seus
limites institucionais, os recursos humanos disponíveis e as características
locais e regionais.
Enfim,
a superdotação exige a construção de uma pedagogia específica, metodologias de
ensino peculiares, etc. Ignorar esse fato implica em comprometer e inibir o
desenvolvimentos de pessoas com tais características, sem contar que pode
contribuir para o seu desajustamento social e uso indevido, talvez até
criminoso, de suas habilidades.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
criança superdotada é um dos principais problemas dos educadores. Suas aptidões
e inteligências são energias de forte potencial, que se forem aplicadas à obra
socialmente útil enriquecem o país e contribuem para a harmonia e a paz. Porém,
se forem mal utilizadas favorecem a vitória do mal e a exploração do fraco,
pois a eclosão deste egoísmo no meio social gera desigualdade, agitação e
revolta. Em outras palavras, a questão do Superdotado constitui um problema de
ordem social que afeta a sociedade como um todo e pode interferir, inclusive,
no desenvolvimento econômico da nação.
Por isso, é primordial promover um ajustamento do
indivíduo superdotado no ambiente social, assim como garantir a sua conquista
de espaço e o seu acesso a um patamar mais amplo de informação e conhecimento.
A direção que as habilidades de um indivíduo superdotado
tomarão depende de diversos fatores, como por exemplo a experiência, a
motivação, o interesse, a estabilidade emocional, a veneração de heróis, a
insistência paterna e até mesmo as possibilidades materiais. Certamente, as
qualidades de ser bom ou mau variam de acordo com o local em que se está e se
vive. Um superdotado Palestino da faixa de Gaza tem muito mais chance de ser um
terrorista perigosos do que um superdotado palestino vivendo no Brasil, por
exemplo.
Entretanto, a educação é determinante, pois entra como
uma barreira de contenção, inibindo o desenvolvimento nocivo, para sociedade,
desses indivíduos e mantendo-os firme na legalidade e como um esteio sadio da
coletividade. Contudo, isso somente é possível se os atores educacionais
tiverem conhecimento dos principais problemas escolares que afligem os
superdotados no dia-a-dia da sala de aula, pois só assim conseguirão mantê-los
na escola.
Problemas como desperdício de tempo, hostilidades dos
colegas, independência rebelde e conflitos com os professores são os principais
responsáveis pela inibição de alunos superdotados, assim como razões para que
desistam dos estudos e busquem caminhos perigosos, como por exemplo, a
criminalidade.
Além disso, esta pesquisa detectou que a inserção de
alunos com altas habilidades em salas comuns e regulares (inclusão) gera mais
problemas que soluções, ou seja, estes educandos carecem de um atendimento
personalizado, específico e, muitas vezes, individual. Agrupar alunos
superdotados com alunos comuns é problemático, assim como deixar os superdotados
em uma única sala é pior ainda, pois cada um tem habilidades específicas e
necessidades únicas.
Portanto, neste caso, o mais recomendado são as salas
especiais que agrupam os educandos com habilidades e gostos parecidos, assim
como é importante deixá-los escolher quais os grupos de estudos e disciplinas
que mais lhes interessam e que desejam participar, ou seja, implantar um
sistema que possibilite ao aluno a construção de seu próprio conhecimento.
Outro fator importante é o acompanhamento constante do superdotado
por um orientador ou tutor, um especialista em superdotação que possa auxiliar
o discente no desenvolvimento de suas habilidades e criatividade, assim como
nos estudos específicos que lhe interessam. Nas séries iniciais a presença do
orientador ou tutor é ainda mais importante, pois a criança superdotada tem
maior dependência dos adultos do que o adolescente.
Além da orientação específica são importantes também as
demais metodologias, por exemplo, os programas de acelerações, de
enriquecimento, de segregação e as escolas especializadas. Entretanto, é sempre
importante considerar as indicações do orientador do educando superdotado.
O Brasil, nesta área e neste tema, ainda é incipiente.
Milhares de cérebros, nascidos nestas terras brasileiras, perdem-se anualmente,
sejam sugados por outros países ou simplesmente aniquilados aqui mesmo. Essa
ignorância ocasiona perdas econômicas, tecnológicas e culturais sem
precedentes, uma vez que são os cidadãos com altas habilidades que sustentam e
garantem a inovação, o desenvolvimento de uma nova cultura, educação, ciência e
tecnologia. Não está em jogo apenas estratégias e técnicas, mas também novos
caminhos, novos modelos, novas fontes, novos conhecimentos, enfim, o poder
humano de criação e renovação.
O mundo necessita de respostas às crescentes necessidades
das mais variadas àreas e cabe ao potencial humano desenvolver técnicas de
superação de crises, de reorganizações de estruturas e a criação de elementos adaptativos.
Porém a evolução e a revolução são mais fáceis para aqueles que possuem a chave
da mudança e conseguem ver além do horizonte. A educação para o superdotado,
portanto, é um investimento social, com alto retorno para a economia, para o
bem-estar e para a cultura da humanidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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contribuição de superdotados para o mundo. Revista Época. n. 14 de 24/08/1998.
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Pedagógica e Universitária Ltda., 1986.
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__________.
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C. M. C. O Psicólogo escolar e a família do superdotado. Trabalho
apresentado no V Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional.
Itajaí, SC. Abril de 2000. In: ALENCAR, Eunice M. L. S.; FLEITH, Denise de
Souza. Superdotados: Determinantes, Educação e Ajustamento. São Paulo: EPU,
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ESPERANÇA
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para o mundo. Revista Época. Rio de Janeiro. n. 14. Agosto. 1998.
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de um atendimento diferenciado. Revista Portuguesa de Educação, Braga, n. 1 e
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NOVAES,
M. H. Desenvolvimento Psicológico do Superdotado. São Paulo: Atlas,
1979.
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de Janeiro: Vozes, 1992.
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traduzido. In: NOVAES, Maria Helena. Desenvolvimento Psicológico do
Superdotado. São Paulo: Atlas, 1979.
SOUZA,
B. C. Informação e Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual: Portal
Sapiens. 2002. Disponível em:<http://www.vademecum.com.br/sapiens>
Acessado em 24 de agosto de 2003.
ANEXO: PROVA
SELECIONA PRODÍGIOS PARA O BEM DA HUMANIDADE
Associação Internacional Mensa aplica teste de QI
para identificar superdotados
O teste de mensuração do quoeficiente de
inteligência (QI) da Mensa contém 60 questões de raciocínio lógico espacial
(múltipla escolha) que devem ser resolvidas em até 40 minutos, sem exigir
preparo prévio ou conhecimento específico.
Para participar do processo, o candidato deve ser
maior de 16 anos e portar documento de identidade. A inscrição pode ser feita pelo portal da Mensa Brasil http://www.mensa.com.br/agendamento_de_teste.php
e custa R$50, taxa que poderá ser dispensada caso o interessado não
possa pagar. Quem perder o teste pode se agendar para um momento
posterior. É que a
Associação Internacional Mensa, entidade que congrega pessoas
superdotadas em
todo o mundo, promove o teste de inteligência toda primeira quinta-feira
de
cada mês em universidades federais e nas terças, quartas e quintas em
locais próprios, espalhados por todo o território nacional brasileiro.
Sendo constatado o QI elevado, o candidato será
convidado, através de uma correspondência sigilosa enviada pelos Correios, a se
associar a essa seleta comunidade. A Mensa é uma entidade sem fins lucrativos
que identifica superdotados – pessoas que figuram entre os 2% da população
mundial com QI acima de 150. Número expressivo, já que o QI comum é 100.
MAIS POBRES – A Mensa tem no Brasil uma filial com coordenações
em alguns estados. Na Bahia, a entidade reúne mais de 40 mensans (nome dado aos
associados da Mensa) identificados. Um dos objetivos é detectar o superdotado
nas classes mais baixas, em especial crianças, para dar-lhe o encaminhamento
educacional necessário. Além disso, busca identificar e estimular o uso da inteligência
humana para beneficiar a humanidade, disseminar conhecimentos e promover
oportunidades intelectuais e sociais entre seus membros.
Bem-humorados, irrequietos, interessantes,
ecléticos, impacientes e polivalentes, os superdotados são pessoas entusiastas
de sua condição especial, mas detestam ser chamados de gênios. Identificar um
superdotado não é difícil. Normalmente, têm facilidade para solucionar
problemas, refinado gosto pela leitura e muita perspicácia. Considerados gênios
na sociedade moderna, têm grande capacidade de concentração, multiplicidade de
interesses e habilidades, primam pelo perfeccionismo, são detalhistas e têm boa
memória.
Na infância, os superdotados costumam se destacar
por apresentarem desenvolvimento avançado, sendo considerados excelentes
alunos. Ou, ao contrário, mostram-se desinteressados e pouco motivados por
falta de estímulo intelectual, creditando ao ensino um ritmo lento. Nos dois
casos acabam sofrendo discriminação. Por tabela, a adolescência dos
superdotados também não é uma fase fácil.
INTELIGENTES SIM, GÊNIOS NÃO
"Aristóteles comentava que o homem inteligente
era aquele que tinha habilidade para fazer cálculos. Mas nem por isso a
calculadora é considerada inteligente", brinca o médico psiquiatra Ricardo
Chemas, 50 anos, membro da Mensa internacional e baiana. Com essa afirmação,
ele quer explicar que não existe um detalhe específico que defina a
inteligência. "Do ponto de vista científico, a inteligência é a capacidade
de se adaptar a situações novas e apreender a realidade, especialmente as
percepções fragmentadas da experiência na totalidade de campo", diz.
Indagados sobre o que acham da definição
"gênios", utilizada na mídia para defini-los, os mensans Chemas e
João Glicério Filho, 23 anos, advogado e professor universitário, são unânimes:
não gostam. "Nada temos a ver com os chatos nerdes americanos. Somos
indivíduos extremamente bem-humorados", explicam, frisando que o humor
fino é denunciador de inteligência.
Os chavões e frases feitas, utilizados pelo homem
comum, são abominados pelos superdotados. Daí muitas vezes serem discriminados
e, em algumas fases da vida, sofrerem com a solidão, a depressão ou a
melancolia. "Cometemos a heresia por pensar e tirar conclusões", diz
Chemas. Se sobrevive a tudo isso, assumiu sua condição. "Ou então,
conformou-se ao sistema e abriu mão de sua singularidade, ganhando tiques
nervosos ou fobias".
UM MENINO DIFERENTE
Luciano Carneiro de Campos Costa, 35 anos, é um dos
mensans baianos. Ele trabalha como administrador, é contador e analista de
sistemas. Agora se prepara para cursar matemática na Faculdade de Tecnologia e
Ciência. Daqui a uns cinco anos pretende estudar direito. Essa inquietação e
polivalência são características que carrega desde menino.
Apesar de fazer parte do grupo seleto da Mensa há
três anos, somente há quatro meses descobriu qual era seu problema, ou melhor,
sua solução. "Tive uma infância sofrida. Eu era diferente dos demais e não
sabia por quê", desabafou Carneiro. Ao ingressar na Mensa, conheceu
Chemas, que chamou a sua atenção. Tinha TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção com
Hiperatividade. Quando pesquisou na internet e encontrou uma explicação, não se
conteve e chorou. Havia redescoberto sua vida.
O multiprofissional revelou que, pelas
características que carrega, acaba sendo complicado trabalhar no dia-a-dia.
"Processamos a informação de forma mais rápida e as pessoas à nossa volta
acabam não acompanhando", explica. Ele gosta de frisar que ser inteligente
não é sinônimo de ser bem-sucedido. "Quando começamos a ganhar dinheiro
com alguma coisa, mudamos de carreira", conta. Ao fazer parte da Mensa,
Carneiro conheceu pessoas com características semelhantes e descobriu que não
era mais um peixe fora d’água. "Adorei", revela.
O QUE É A MENSA
A Mensa é uma sociedade formada por
pessoas de alto QI. Foi fundada em 1946 na Inglaterra e é hoje
internacionalmente conhecida, com cerca de 100.000 membros em mais de 100
países. A idéia original era, e ainda é, criar uma sociedade apolítica e livre
de distinções raciais ou religiosas, com o objetivo de fomentar a inteligência
e promover o convívio com pessoas intelectualmente estimulantes. Para filiar-se
à Mensa, a única exigência é ter um QI na faixa dos 2% superiores da população,
comprovado por testes aplicados pela própria Mensa, ou reconhecidos por ela.
OBJETIVOS DA MENSA
Identificar e cultivar a inteligência
para o benefício da Humanidade, proporcionar um ambiente social e
intelectualmente estimulante para seus membros e encorajar pesquisas sobre a
natureza, características e usos da inteligência.
BENEFÍCIOS DE FILIAR-SE À MENSA
Uma das maiores vantagens é a
possibilidade de interação (real e virtual) com pessoas intelectualmente
estimulantes. A forma como as conversas e discussões sobre temas diversos fluem
é sempre interessante, tanto para teorias complexas e assuntos sérios, como
para temas cotidianos ou brincadeiras. A Mensa conta com uma grande variedade
de pessoas com interesses diversos, o que enriquece muito o contato pessoal e
até mesmo pode funcionar como rede de contatos profissionais.
AMIZADE E SOCIALIZAÇÃO
Encontros freqüentes e contatos via
internet são organizados em níveis local e nacional. Todos os associados têm
acesso livre ao cadastro de membros, através do site e podem fazer buscas por
localização, idade, profissão e outros critérios, o que facilita muito o
contato. Isso possibilita encontros informais entre membros com interesses
similares, bastando buscar no cadastro e organizar o encontro. Também através
do site pode-se acessar o jornal da Mensa Internacional, com periodicidade
mensal, além de diversas outras informações sobre a associação.
Existem Grupos de Interesse Especial
(chamados SIGs, Special Interest Groups) sobre assuntos os mais variados, desde
científicos até os mais leves, como história em quadrinhos, por exemplo. Para
fazer parte da maioria dos SIGs é necessário ser associado. Há também listas de
discussão, através das quais debatem-se assuntos diversos, uma comunidade
brasileira no Orkut e uma internacional no Facebook, com acesso restrito aos
associados.
CONTATOS EM VIAGENS
A Mensa é verdadeiramente uma
organização internacional, além de possuir associados em muitos Estados
Brasileiros, e membros no mundo todo podem ajudá-lo com o itinerário e
acomodações quando você viajar, através do SIGHT (Service of International
Guidance and Hospitality to Travellers). Não há melhor maneira de se viajar,
conhecer o mundo e conhecer novas pessoas do que através da rede mundial de
membros da Mensa.
ANNUAL GATHERING
Uma vez por ano a Mensa Brasil realiza
um encontro nacional, evento restrito aos associados e convidados. É uma
excelente oportunidade para conhecer pessoas com características semelhantes às
suas, e ampliar sua rede de contatos pessoais ou profissionais. Nos AGs há uma
ampla e convidativa programação de palestras e eventos sociais.
Aproveite o estímulo intelectual que a
sociedade promove. Você verá que os benefícios da filiação são numerosos.
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