sábado, 12 de janeiro de 2013

A RELEVÂNCIA DA SUPERDOTAÇÃO E DA GENIALIDADE PARA A HUMANIDADE

Blog “Genialidade e Superdotação”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel.


RESUMO


A superdotação é um tema primordial para a sociedade, pois trata de indivíduo com habilidades raras que podem ser utilizadas para o florescimento da sociedade ou para a sua degradação. Esta pesquisa busca desvendar esse universo. Analisar algumas peculiaridades que envolve o seleto grupo de pessoas com altas habilidades, principalmente, no que se refere à sua educação. O estudo foi dividido em três partes principais. A primeira analisa a evolução histórica do tema, assim como os principais conceitos de superdotação. Já a segunda parte aborda a superdotação no âmbito educacional, ou seja, a educação escolar dos superdotados, assim como os principais problemas que enfrentam dentro das instituições educacionais. E a terceira e última parte trata da pedagogia da superdotação, ou seja, as recomendações e as dicas apresentadas pela literatura científica para uma eficiente e produtiva educação de superdotados, inclusive as diretrizes dos programas especializados estabelecidos pelo governo. Enfim, a construção de uma sociedade justa e de uma nação próspera depende do tratamento desigual dos desiguais e do investimento em habilidades, talentos e criatividade.


 1.    INTRODUÇÃO



Os EUA investiram bilhões de dólares na criação de um escudo antimíssil que tornasse inviável qualquer ataque aéreo às cidades americanas. Porém, no dia 11 de setembro de 2001 aconteceu um dos mais surpreendentes ataques ao território dos EUA. Grupos terroristas atacaram um dos símbolos mais importantes da América, bem embaixo das “barbas” do exército mais poderoso do mundo e justamente de onde não esperavam nenhum ataque. Aviões comerciais foram transformados em mísseis balísticos e lançados sobre os alvos. Por mais trágico que tenha sido o fato, a inteligência que o concebeu e planejou é rara e incomum.

Entre os grandes gênios da humanidade - como Einstein, Mozart, etc - e os líderes terroristas do 11 de setembro há um ponto comum: inteligência acima da média. São pessoas superdotadas ou talentosas.  Pessoas que carregam consigo o germe da revolução, podendo contribuir tanto para a evolução e crescimento da humanidade quanto para a sua desagregação e degradação.

Esta pesquisa busca desvendar esse universo, ou seja, analisar algumas peculiaridades que envolve o seleto grupo de pessoas superdotadas ou que possuem altas habilidades. Visa também apontar as múltiplas dimensões e determinantes da questão, destacando, paralelamente, o papel da família, escola e sociedade no processo de reconhecimento, desenvolvimento e expressão do potencial criador, do talento e da inteligência desses indivíduos.

É importante assinalar também que esta pesquisa foi dividida em 3 partes principais. A primeira analisa a evolução histórica do tema, assim como os principais conceitos de superdotação. Isso permite a determinação exata do objeto de pesquisa e os principais tratamentos que recebeu ao longo da história. Já a segunda parte aborda a superdotação no âmbito educacional, ou seja, a educação escolar dos superdotados, assim como os principais problemas que enfrentam dentro das instituições educacionais. A finalidade dessa parte é descrever as principais dificuldades enfrentadas pelos portadores de altas habilidades no dia-a-dia da sala de aula, assim como as repercussões de suas habilidades nos demais atores educacionais. E a terceira e última parte trata da pedagogia da superdotação, ou seja, as recomendações e as dicas apresentadas pela literatura científica para uma eficiente e produtiva educação de superdotados, inclusive as diretrizes dos programas especializados estabelecidos pelo governo.

Além disso é importante ressaltar a escassez de bibliografia nacional sobre esta temática. As poucas obras existentes consistem numa infindável repetição de estudos estrangeiros, esquecendo-se de avaliar as características e as peculiaridades da temática na realidade brasileira, ocasionando um vácuo informacional que repercute diretamente nas políticas e programas sobre superdotação.

Por isso, esta pesquisa tomou com base norteadora, o material produzido pelo Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental – Superdotação e Talento – Volume 1 e 2. Material este que foi editado pelo governo com a finalidade de suprir a ausência de literatura científica na área, assim como orientar e unificar as práticas educacionais que envolvem crianças superdotadas.

Enfim, a superdotação é um tema primordial que ocasiona reflexos em todas as áreas da sociedade e do Estado e deve ser tratada com seriedade, cuidado e conhecimento.

 

2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A SUPERDOTAÇÃO


O tratamento diferenciado a superdotados, talentosos ou pessoas que possuam indícios de genialidade, tem fundamento no respeito à dignidade do ser humano e no seu direito ao pleno desenvolvimento e é orientada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, constituindo-se em garantia constitucional no Brasil.  Além dos textos legais citados, outras legislações estabelecem as mesmas garantias, como a Declaração de Salamanca de 1994, a Convenção da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre os Direitos da Criança de 1989 e a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) de 1996, etc.

É importante lembrar ainda que, na Grécia Antiga, Platão aconselhava, em sua obra “República”, a atribuição, aos cidadãos, de papéis segundo suas habilidades, aqueles que detinham maiores responsabilidades necessitavam de um longo e cuidadoso treinamento. Em outras palavras, é importante identificar as crianças mais promissoras e iniciar sua educação precocemente.

Além disso, é essencial promover um ajustamento do indivíduo superdotado/talentoso com o ambiente social, como também a conquista de um espaço ou o acesso a um patamar mais amplo de informação e conhecimento. A ótica não é apenas de um ser humano e uma comunidade, mas de um ser humano, cujas potencialidades o colocam como agente mais universal de inovações e transformações.

Contudo, nem todos os alunos com altas habilidades, superdotados ou talentosos, apresentam as mesmas características e habilidades, nem todos têm o mesmo potencial, nem todos materializam plenamente seu potencial. Um são gênios da matemática, outros da literatura e outros das artes. Cada um tem um perfil próprio e uma trajetória singular de realização, mas todos necessitam de atendimento especial. Necessitam de educação própria e individualizada.

Kirk e Gallagher (2002, p.66), estudiosos desta temática, consideram que a sociedade mostra um interesse especial pelas crianças superdotadas e talentosas por julgar que, no futuro, estas contribuirão para o bem-estar social, uma vez que muitos líderes, cientistas e poetas da geração seguinte tendem a sair do atual grupo de crianças superdotadas e talentosas.

Contudo, para que os superdotados se tornem os esteios da sociedade ou desempenhem o papel que deles se espera, faz-se necessário dispensar-lhes cuidados especiais. O problema deste grupo é de tal importância que só esforços conjugados da sociedade e dos governos poderão resolvê-los eficientemente.

A direção que os dotes e talentos de um indivíduo superdotado tomarão depende de muitos fatores, como por exemplo a experiência, a motivação, o interesse, a estabilidade emocional, a veneração de heróis, a insistência paterna, e até mesmo as possibilidades. Muitos indivíduos intelectualmente superdotados também poderiam ter sido bem-sucedidos em outras áreas se os seus interesses e o treinamento tivessem sido concentrados naquela direção. Contudo, pessoas com potenciais não plenamente desenvolvidos e desperdiçados, acabam canalizados e sugados para esferas sociais não aceitáveis, ou ainda, subrealizados e desviados para a marginalidade - crime organizado e terrorismo.

A educação, neste referencial, entra como uma barreira de contenção, inibindo o desenvolvimento de germes nocivos à moralidade e a integridade do indivíduo, mantendo-o firme na legalidade e como um esteio sadio da sociedade.

Por isso nos EUA, conforme análise apresentada no Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental, o superdotado é considerado um cidadão especial que leva consigo o germe do futuro e, por isso,  as coordenadas principais da educação dos cientistas do futuro, naquele país, tendem a “desespecializar” a formação profissional, propiciando maior abertura e desenvolvendo o que denominam de pensamento futuro-sistemático, ou seja, a capacidade de pensar em perspectiva futura com os demais, a capacidade imaginativa e o espírito especulativo, sempre em uma direção transdisciplinar.

Enfim, os parágrafos anteriores resumem as idéias típicas dos principais autores que abordaram esta temática, incluindo Kirk e Gallagher (2002), Alencar (1986), Souza (2002) e o material apresentado pelo Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental – Superdotação e Talento, vol.1 e 2 (BRASIL, 1999); que são unânimes na afirmação da importância da identificação de superdotados/talentosos ainda na infância, pois isso irá direcionar a formação vindoura e o cuidado na educação e no aproveitamento do potencial destas pessoas especiais. 

 

2.1 Linha do tempo da superdotação


De acordo com Souza (2002) os primeiros registros históricos sobre superdotação vem da Grécia, uma vez que a cultura grega foi a que deu mais atenção à inteligência superior, justificando assim o enorme número de filósofos, matemáticos e astrônomos que deixaram várias contribuições para a humanidade. Platão defendia a idéia de que tais pessoas deveriam ser identificadas na tenra infância e preparadas para serem líderes, num grupo ao qual chamou de: "Crianças de Ouro".

No século XV e XVI as pessoas proeminentes eram interpretadas como bruxos, demônios e nocivas à sociedade e durante o Renascimento, todo tipo de desvio, tanto a insanidade como a genialidade, era considerada uma instabilidade ou doença mental.

Em 1869 Galton publicou, na Inglaterra, o Gênio Hereditário, no qual associa a inteligência aos sentidos e considera que o fenômeno da superdotação é transmitido através das gerações.

Em 1905, na França, Alfred Binet e Theodore Simon utilizam os primeiros testes de inteligência com aplicação prática em crianças com dificuldade de aprendizagem - A Escala Binet de Inteligência.

O Termo QI surge em 1911, quando o alemão William Stern desenvolveu o Quociente Mental, equação resultante da Idade Mental dividida pela Idade Cronológica multiplicada por 100.

Levis Terman, em 1916, propõe a revisão da escala Standford-Binet. No ano de 1921 Terman deu início a mais longa pesquisa longitudinal de que se tem notícia. Investigou crianças com QI acima de 140 tendo concluido que o QI continuava a aumentar ao longo da vida.

Os estudos de Terman contribuiram, também, para desmistificar as idéias equivocadas sobre o desenvolvimento sócio-afetivo dos superdotados. Seu estudo longitudinal foi realizado num grupo de 1528 crianças de aproximadamente 12 anos, sendo metade do sexo masculino e metade do feminino. No decorrer de seis décadas de pesquisa, descobriu-se que a incidência de mortalidade, enfermidade, delinquência, insanidade e alcoolismo eram inferiores às registradas no grupo da população em geral. (SOUZA, 2002).

Helena Antipoff, entre 1930 a 1940 chama a atenção, no Brasil, para a importância de desenvolver estratégias que atendessem os superdotados. Leta Hollingworth, na década de 40 sublinha a necessidade da escola de educar e treinar crianças com potencial superior com ênfase no seu desenvolvimento afetivo e sócio - emocional. Em 1962 na Fazenda Rosário (MG) sobre a direção de Helena Antipoff foi criado um Programa de Atendimento ao aluno superdotado no meio rural e da periferia urbana.

Em 1975 foi realizada em lsrael a primeira Conferência Mundial sobre Superdotação. Em 1976 a Fundação Educacional do Distrito Federal implantou o Programa para Atendimento ao Superdotado. Em 1978 foi criada a Associação Brasileira para Superdotados. Em 1983 Gardner revoluciona o meio científico com seu novo conceito de inteligência apresentada no livro "A teoria das inteligências múltiplas".

De acordo com Souza (2002), a visão multidimensional da inteligência de Gardner coloca os testes psicométricos numa posição coadjuvante no processo de identificação dos indivíduos superdotados. Ele ampliou a noção do spectrum de talentos, considerando que o tempo para classificar e rotular indivíduos deveria ser menor do que o destinado a ajudar e estimular suas competências e habilidades naturais.

 

2.2 Definindo a Superdotação


O primeiro ponto que deve ser assinalado é que não existe uma definição exata de superdotação, um conceito aceito universalmente ou um método preciso que identifique um superdotado. O que existe são diretrizes gerais e análise de evidências e manifestações de genialidade.

A Secretaria de Educação Especial do MEC  adota por base a mesma definição de superdotado que foi apresentada no relatório de Marland, em 1972, do Departamento de Saúde, Educação e Bem-Estar dos Estados Unidos, onde são consideradas crianças portadoras de altas habilidades (superdotadas) as que apresentam notável desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isoladamente ou combinados (BRASIL, 1995):


       Capacidade intelectual;

       Aptidão acadêmica ou específica;

       Pensamento criador ou produtivo;

       Capacidade de liderança;

      Talento especial para artes visuais, artes dramáticas e música;

       Capacidade psicomotora.


Para compreender cada um dos aspectos apresentados é importantes fazer um paralelo entre a visão predominante na literatura científica (ALENCAR, 1986) e a visão oficial do governo (BRASIL, 1995) sobre as características mais típicas da superdotação:


QUADRO  SEQ QUADRO \* ARABIC 1 – CARACTERÍSTICAS DA SUPERDOTAÇÃO


Característica

Alencar (1986)

Mec (1995)


Habilidade intelectual geral

inclui indivíduos que demonstram características tais como: curiosidade intelectual, poder excepcional de observação, habilidade de abstrair e desenvolver atitudes de questionamentos.

aquele que apresenta flexibilidade e fluência do pensamento, capacidade de pensamento abstrato para fazer associações, produção ideativa, rapidez do pensamento, julgamento crítico, independência do pensamento, elevada compreensão e memória, capacidade de resolver e lidar com problemas.

Talento acadêmico

inclui aqueles que apresentam um desempenho excepcional na escola, que se saem muito bem em testes de conhecimento e que demonstram alta habilidade paras as tarefas acadêmicas.

Aquele que apresenta aptidão acadêmica específica, atenção, concentração, rapidez de aprendizagem, boa memória, interesse e motivação pelas disciplinas acadêmicas, habilidade para avaliar, capacidade de produção acadêmica.

Habilidade de pensamento criativo

inclui alunos que apresentam idéias originais e divergentes, que demonstram uma habilidade para elaborar e desenvolver suas idéias originais e que são capazes de perceber de muitas formas diferentes um determinado tópico.

Aquele que apresenta originalidade, imaginação, capacidade para resolver problemas de forma diferente e inovadora, reações e produções diferentes, às vezes extravagantes, facilidade de auto-expressão, fluência e flexibilidade.


Liderança

inclui os estudantes que emergem como os líderes sociais ou acadêmicos de um grupo, e que se destacam pelo uso do poder, autocontrole e habilidade de desenvolver uma interação produtiva com os demais.

apresenta capacidade de liderança, sensibilidade interpessoal, atitude cooperativa, sociabilidade expressiva, habilidade de trato com pessoas diversas e grupos para estabelecer relações sociais, percepção acurada das situações de grupo, capacidade de resolver situações sociais complexas, alto poder de persuasão e de influência no grupo.

Artes visuais e cênicas

engloba indivíduos que apresentam habilidades superiores para pintura, escultura, desenho, filmagem, dança, canto, teatro e para tocar instrumentos musicais.

Aquele que se destaca tanto na área das artes plásticas, musicais, como dramáticas e literárias, ou técnicas, evidenciando capacidades especiais para essas atividades e alto desempenho.

Habilidades psicomotoras

indivíduos que apresentam proezas atléticas, incluindo também o uso superior de habilidades motoras refinadas e habilidades mecânicas.

Aquele que apresenta habilidade e interesse pelas atividades psicomotoras, relativos à velocidade, agilidade de movimentos, força e resistência, controle e coordenação motora.


Portanto, observando a tabela anterior, percebe-se que ambos as abordagens aceitam a mesma base, ou seja, os mesmos tipos de manifestações da superdotação. O que diferencia são os conteúdos de cada tipo, pois enquanto a literatura é mais rigorosa e restritiva, a visão do governo é mais ampla e abrangente. Além disso, é importante assinalar que ambas as perspectivas reconhecem que as categorias apresentadas podem ser encontrados combinados entre si, além de haver a possibilidade de aparecimento de outros tipos de talentos e características.

Não se pressupõe, portanto, que todos os alunos superdotados apresentem todas essas características, assim como, quando as têm, não a apresentam necessariamente em simultaneidade, nem no mesmo nível.

Outra definição de superdotação foi criada por Ogilvie (1973, p.6 apud SOUZA, 2002): O termo "superdotado" é usado para indicar qualquer criança que se destaque das demais, numa habilidade geral ou específica, dentro de um campo de atuação relativamente largo ou estreito. Quando existirem testes reconhecidos como (por exemplo) no caso da "inteligência", então a superdotação poderia ser definida a partir de escores em testes. Onde não exista teste reconhecido, pode-se presumir que as opiniões subjetivas de "peritos" nas diversas áreas acerca das qualidades criativas de originalidade e imaginação demonstradas seriam o critério que temos em mente.

 Isto  significa que toda a criança ou, tomando no caso mais geral, toda pessoa que se destaque significativamente das demais em termos de uma dada atividade humana relevante pode ser considerada um superdotado. Também significa que o critério a ser usado para a verificação do "destaque" deve ser um teste padronizado que resulte num valor numérico, quando possível; senão, devem ser usadas as opiniões subjetivas de peritos na atividade humana em questão.

A definição apresentada, de acordo com Souza (2002), apresenta pelo menos três grandes vantagens com relação às outras definições. A primeira vantagem é o fato de não apenas caracteriza o superdotado mas também estabelece, em linhas gerais, os métodos a serem usados para se medir a superdotação.

A segunda vantagem é a definição do superdotado por comparação com o seu meio e não através de escalas absolutas, assegurando, com isso, a relevância do processo de identificação independente de onde ele ocorre. E a terceira e última vantagem é lidar somente com o fato de certas pessoas se destacarem das demais em alguma atividade relevante, independente da causa de tal superioridade, evitando uma conceituação excessivamente comprometida com uma linha teórica específica.

Com isso, tem-se um conceito a partir do qual é possível classificar as pessoas quanto às suas habilidades de uma forma sistemática e relevante, ao mesmo tempo em que se evita que discussões teóricas tornem-se um obstáculo ao desenvolvimento prático.

 

2.3 Superdotação e Educação Especial


Atualmente, a legislação brasileira posiciona-se pelo atendimento dos alunos com necessidades educacionais especiais em classes comuns das escolas, em todos os níveis, etapas e modalidades de educação e ensino. Vive-se na chamada era das inclusões.

Contudo, a inclusão de alunos superdotados, que são considerados portadores de necessidades especiais pela legislação, nem sempre é benéfica para o educando, uma vez que os superdotados quando inseridos em classes comuns podem apresentar rendimento escolar muito superior (fazem as tarefas rapidamente e gastam o resto do tempo com bagunça) ou inferior (mostram desinteresse pelos estudos e de motivação para os estudos acadêmicos e para a rotina escolar), de uma forma ou de outra, podem comprometer todo o desenvolvimento da turma, sem contar a dificuldade de socialização em classe, o que sempre desencadeia problemas de aprendizagem e de adaptação escolar. De acordo com o Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental – Superdotação e Talento – (BRASIL, 1999, v.1, p.25):

A criança superdotada caracteriza-se por ser mais rápida do que as outras, com ou sem o professor; por questionar informações e conceitos, discordando do que foi passado e do nivel da informação recebida e sempre tendo uma postura crítica e de julgamento, não aceitando e nem reconhecendo a função da escola e do professor, uma vez que se coloca no mesmo nivel que ele. Revela extensão de informações nas diversas áreas. Apresenta independência no trabalho e no estudo. Enfrenta situações conflituosas em trabalhos de grupo, pois seu conhecimento e visão se encontram acima dos colegas e isto não é aceito por eles. Provavelmente continuará opondo-se a ordens, normas, disciplina e diretrizes. 

Por isso os alunos superdotados carecem de educação especial, uma vez que a escola, para eles,  é a área da vida que pode apresentar o melhor ajuste ou o pior desajuste. Tanto sua capacidade superior pode ajudar-lhe nos estudos e contribuir para um desempenho excepcionalmente bom, como a mesma capacidade pode levar ao tédio, aborrecimento ou rebeldia, capazes de provocar desempenho insatisfatório. Essas dificuldades tendem a surgir devido ao fato do superdotado ser um indivíduo excepcionalmente inteligente mergulhado num mundo de pessoas com intelecto mediano; fato este que pode gerar uma série de dificuldades de adaptação.

São pertinentes as considerações, publicadas em um artigo sobre o tema, da Revista Época:

       O superdotado precisa de atenção especial. É, na maior parte das vezes, uma pessoa com dificuldades no convívio social, carente emocionalmente e, se não der vazão a suas possibilidades, pode até, no limite, tornar-se um criminoso, afirma a especialista Marsyl Mettrau, presidente da ABSD. Para ela, pelo menos dois personagens bastante conhecidos e dotados com tais poderes são tristemente famosos: os bandidos Lúcio Flávio e, mais recentemente, Leonardo Pareja. Por outro lado, superdotados pobres que poderiam se perder na multidão acabaram descobertos. É o caso do ator mirim Vinicius de Oliveira, protagonista do filme Central do Brasil, de Walter Salles. (Revista Época, n. 14 de 24-08-98). 

É essencial, portanto, aplicar tratamento diferenciado a superdotados, talentosos ou pessoas que possuam indícios de genialidade, pautando-se no respeito à dignidade do ser humano e no seu direito ao pleno desenvolvimento. Tal diferenciação faz parte da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que se constitui em garantia constitucional no Brasil.  

Além dos textos legais citados, outras legislações estabelecem as mesmas garantias, como a Declaração de Salamanca de 1994, a Convenção da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre os Direitos da Criança de 1989 e a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) de 1996, etc.

 

2.4 Características dos Superdotados


Einstein teve uma infância difícil, não gostava da escola e entrou na lista dos repetentes. Outro gênio, o pintor holandês Van Gogh padeceu de desajustes psicológicos, assim como o matemático francês Pascal, que aos sete anos já fazia cálculos. Os exemplos são extremos, mas servem de alerta aos pais de crianças com talentos ou aproveitamento escolar excepcionais para sua idade e dificuldades de adaptação social. Essa combinação de sinais pode esconder a face de um superdotado, que requer atenção e cuidados especiais, talvez até eventual acompanhamento terapêutico.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que 1% da população escolar, ou 380 mil crianças, são superdotadas. Para identificar evidências de esperteza basta reparar nos talentos precoces. Em geral são dons específicos para a matemática, a música ou os idiomas estrangeiros. A criança aprende rápido a ler, exibe habilidade para determinado instrumento musical, ou expressão verbal mais elaborada do que a normal para sua faixa etária. É o garoto que chama a atenção pela capacidade de argumentação, pela memória excepcional, a atenção e a curiosidade incomuns, o raciocínio ágil e a extrema curiosidade. (Revista Época, n. 14 de 24-08-98).

O programa de atendimento ao aluno superdotado da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (BRASIL, 2002), arrola as características mais típicas  dos superdotados e talentosos:


 Vocabulário avançado e incomum para a idade ou nível escolar, possui riqueza de expressão, elaboração e fluência verbal.

 Grande depósito de informações sobre variados tópicos.

  Rápido domínio e recordação de informações factuais.

 Raciocínio rápido sobre causa e efeitos, tenta descobrir o como e o porque das coisas, faz perguntas provocativas, "sugam" as pessoas.

 É um observador entusiasmado e alerta, geralmente vê demais e quer demais dos outros.

 Pronto entendimento de princípios implícitos, gerando rapidamente generalizações sobre eventos, pessoas e coisas.

 Tem paixão por leitura, preferindo, geralmente, livros de nível adulto, biografias, autobiografias, enciclopédias e Atlas.

 Tentam entender materiais complicados, separando-os em suas respectivas partes.

  Gosta de resolver as coisas por si mesmo e vê lógica e senso comum nas respostas.


Torrance (1971, apud SOUZA, 2002), citado no documento base do programa de atendimento ao aluno superdotado da secretaria de estado de educação do distrito federal (BRASILIA, 2002), propôs a seguinte lista de características das pessoas superdotadas:


 Reagem positivamente a elementos novos, estranhos e misteriosos de seu ambiente.

 Persistem em examinar e explorar estímulos com o objetivo de conhecer melhor a respeito deles.

 São curiosos; gostam de investigar, fazem muitas perguntas.

 Apresentam uma forma original de resolver problemas, propondo muitas

  vezes soluções inusitadas.

 São independentes, individualistas e auto-suficientes.

  Tem grande imaginação e fantasia.

 Vêem relações entre objetos.

 Tem sempre muitas idéias.

 Preferem idéias complexas; irritam-se com a rotina.

 Podem ocupar seu tempo de forma produtiva, sem ser necessária uma estimulação constante do professor.


Contudo, é importante assinalar que nem todos os alunos com altas habilidades, superdotados ou talentosos, apresentam as mesmas características e habilidades, nem todos têm o mesmo potencial, nem todos materializam plenamente seu potencial. Cada um tem um perfil próprio e uma trajetória singular de realização, mas todos necessitam de atendimento especial.

 

3. SUPERDOTAÇÃO E PROBLEMAS ESCOLARES

 

3.1 O superdotado na escola


Analisando os períodos da história universal encontram-se teorias e práticas sociais discriminatórias, inclusive quanto ao acesso ao conhecimento e a forma de sua transmissão. Isso ainda se faz presente em algumas áreas, ou seja, nem todos podem participar dos espaços sociais nos quais se transmitem e se criam conhecimentos com a mesma qualidade e acessando aos mesmos dados, uns são mais do que outros. A pedagogia da exclusão tem origens remotas e raízes profundas na sociedade  humana.

A essência da democracia e do Estado de Direito pautam-se na capacidade de percepção das diferenças humanas. Por isso, um dos brocardos jurídicos mais famosos, estabelecido pelo Jurista Rui Barbosa, diz: “Justo não é tratar igualmente os desiguais, mas sim tratar desigualmente os desiguais, na exata medida de sua desigualdade.”

Em outras palavras,  as desigualdades, nas questões humanas, não devem ser quantificadas em melhores ou piores, mas qualificadas de diferentes e, portanto, merecedoras de todo respeito. A padronização e a busca de uniformização sempre resultou no florescimento de grandes injustiças. Enfim, as maiores formas de violência referem-se à incapacidade de perceber na pessoa sua identidade, sua história de vida, sua potencialidade, suas dificuldades, tratando-as como reproduções de modelos uniformes e convencionados por alguns.

Neste contexto e sofrendo as conseqüências da uniformidade educacional, inserem-se os superdotados que, dadas as suas particularidades e peculiaridades, carecem de programas definidos e específicos de assistência e educação.

Mas isso não significa caminhar contra a corrente da inclusão educacional ? A resposta deve ser dada com reservas e cuidado, pois nas questões humanas a uniformização e o pensamento único sempre geram reflexos negativos, tanto para o indivíduo, quanto para a sociedade. Mais ainda quando a questão envolve o seleto e sensível grupo de superdotados que, em sua maioria, não conseguem se adaptar à família e nem à escola.

Além disso, os superdotados sempre freqüentaram as escolas regulares, ou seja, não constituem um grupo historicamente afastado do mundo normal. Em outras palavras, as discriminações aos superdotados  reside na uniformização educacional e no tratamento igual a desiguais e não na exclusão escolar.

 

3.2 Problemas escolares mais típicos


Todas as sociedades, nos mais diferentes contextos históricos, têm ou já tiveram indivíduos excepcionalmente superiores em produções, aos quais sempre coube a realização de pequenos e grandes feitos inovadores. Estas produções são resultantes, usualmente, de alto grau de envolvimento e grande motivação direcionada para idéias, fatos ou produtos. Tais indivíduos diferem-se dos demais, não apenas, por possuírem uma capacidade intelectual superior, mas por conjugarem a esta, dois fatores igualmente importante: uma criatividade mais desenvolvida e uma constante automotivação para executar projetos desafiadores.

A diferença gera inveja e discriminações, principalmente quando envolve características pessoais. Na verdade, não é a inteligência mais desenvolvida deste grupo que propicia as dificuldades adaptativas, mas sim, a resistência natural que toda sociedade demonstra para com o não-convencional ou aquilo que julgam superior.

As diferenças qualitativamente superiores e mais apuradas destoam da harmonia da homogeneidade social, que assegura a manutenção das estruturas estabelecidas, ou seja, alguns indivíduos conseguem enxergar além do horizonte e ultrapassar as barreiras da mediocridade. Eis aí a razão precípua da exclusão social que vitimiza todas as minorias - sobretudo aquelas que são por natureza irreverentes, desafiadoras e criativas tanto em pensamento, ações ou produções.

Segundo Antipoff (1992, p.45):

Na filosofia educacional dos superdotados, regras, regulamentos e programas pré-fabricados não têm vez. É necessário dar-lhes oportunidade para descobertas, experiências e confrontações, e haverá então o inverso daquilo que se faz até hoje: serão eles que mostrarão, através de suas manifestações, aquilo que devemos oferecer-lhes.

 Enquanto a maioria das pessoas consegue, num dado momento, reduzir sua necessidade de conhecer (o que até parece ajudá-las na escolha profissional), o portador de altas habilidades é um canal aberto em todas as direções, ávido por apreender o real na sua totalidade, ainda que também exista nele, uma ou mais área de interesses específicos, às quais se faça necessário uma dedicação especial.

A escola, portanto, é a área da vida onde o superdotado pode apresentar o melhor ajuste ou o pior desajuste. Tanto sua capacidade superior pode ajudar-lhe nos estudos e contribuir para um desempenho excepcionalmente bom, como a mesma capacidade pode levar ao tédio, aborrecimento ou rebeldia capazes de provocar desempenho insatisfatório. Além disso, dificuldades tendem a surgir devido ao fato do superdotado ser um indivíduo excepcionalmente inteligente mergulhado num mundo de pessoas com intelecto mediano; fato este que pode gerar uma série de conflitos e dificuldades de adaptação.

Enfim, existem uma diversidade de problemas escolares que podem surgir durante o desenvolvimento educacional de um aluno superdotado. De acordo com Souza (2002) os problemas mais comuns enfrentados pelos superdotados na escola são:

 

1.    desperdiço de tempo;

2.    hostilidade dos colegas;

3.    independência rebelde;

4.    conflitos com os docentes.

 

Esses problemas escolares serão analisados mais detalhadamente nos tópicos seguintes, pois é conhecendo-os que o professor terá elementos e meios para enfrentá-los, assim como informações para encontrar uma saída justa e equânime para ambas as partes.

 

3.2.1 Desperdício de Tempo


De acordo com Souza (2002) uma criança que tem QI (Quociente de Inteligência) em torno de 140 aproveita apenas 50% de uma aula comum, ou seja, o resto do tempo é utilizado numa espera tediosa de repetição do óbvio. Já uma criança com QI de 170 praticamente nada aproveita das aulas normais.

Este autor ainda apresenta uma tabela de comparação entre o valor de QI, a fração da aula desperdiçada e o tempo que se perdeu em sala de aula. Esta tabela é importante porque comprova a idéia de que a inserção de superdotados em uma sala comum implica em um claro nivelamento por baixo, ou seja, ou toda a turma acompanha a capacidade de aprendizagem do aluno com altas habilidades ou este caminha na velocidade determinada pela média da turma. Isso, certamente, gera uma série de conflitos e desavenças, pois as diferenças se tornam cristalina para todos.

 

3.2.2 Hostilidade dos Colegas


De acordo com Souza (2002) uma criança superdotada é frequentemente encarada como uma ameaça pelos companheiros, pois ela pode fazer com que os padrões de trabalho da classe passem a ser mais rigorosos e o professor passe a esperar mais de seus alunos. Isso decorre diretamente do item anterior, uma vez que os alunos superdotados possuem atalhos naturais que aumentam sua velocidade de aprendizagem e a qualidade de seu trabalho. Caso o professor faça um nivelamento por cima, tomando o alunos com altas habilidades como padrão, toda a produção do resto da classe será considerada de baixa qualidade.

 Além disso, as crianças com QI médio não se sentem confortáveis quando estão próximas de uma criança considerada muito "inteligente", pois o relacionamento de ambas é permeado pela sensação de superioridade/inferioridade. Isso também ocorre com os professores, que se sentem incapazes de enfrentar e responder aos questionamentos desse tipo de aluno, uma vez que o superdotado

[...] não mede esforços para obter o máximo possível de respostas às suas dúvidas mais intrínsecas, as quais suscitarão, mais e mais dúvidas, e nenhuma certeza inquestionável. Por isto dizemos que tal indivíduo possui uma ingenuidade que, filosoficamente pode ser pensada como um desprovimento de convicções e juízos diante do real; ou seja, o portador de altas habilidades consegue estabelecer um diálogo com o próprio objeto do conhecimento, por já estar ele, naturalmente, aberto à total apreensão do mesmo. Enquanto a maioria dos indivíduos não se acha na disponibilidade de imergir naquilo que deseja conhecer, o portador de altas habilidades jamais se contenta com apenas um modo de apreensão do que lhe interessa; antes sente-se impelido a perquirir com intensa voracidade, todos os vieses daquilo que lhe ocupa a mente. Esta atitude natural e necessária transparece, muitas vezes nos grupos, como ironia, exibição, contestação inútil, etc. (METTRAU e ALMEIDA, 1994, p. 5-13)

 

3.2.3 Independência Rebelde


Um elemento comum entre os superdotados é a independência de aprendizado e a liberdade de ação, ou seja, a criança criativa rebela-se perante a abordagem rígida que busca enquadrá-la em um padrão predeterminado ou que busca uniformizar o seu comportamento, dizendo-lhe o que deve aprender e o que deve considerar como verdadeiro.

Drews (1961, apud SOUZA, 2002) desenvolveu um estudo no qual analisou o comportamento de estudantes divididos em três categorias: líderes sociais, conformistas estudiosos e intelectuais criativos. Este autor observou que os alunos criativos não apresentam preocupação com suas notas, ou seja, enquanto os outros estudantes se preparavam para as provas, os intelectuais criativos poderiam estar lendo um texto científico universitário, um livro de filosofia ou mesmo revistas de ficção científica, ou então trabalhando em atividades que não tivessem qualquer influência no seu rendimento escolar. Como resultado, eles obtiveram as piores notas, mas, graças à sua leitura ampla, variada e automotivada, seu desempenho em testes de conhecimento acadêmico foi melhor do que o dos estudiosos e líderes sociais.

Portanto, o trabalho com educandos superdotados deve ser realizado por docentes conhecedores das peculiaridades do grupo. Por exemplo, no caso citado anteriormente por Drews, um professor leigo pode tomar medidas drásticas contra o aluno, punindo-o por considerá-lo prejudicial para o desenvolvimento da turma, quando na verdade, este educando, está apenas buscando outros meios de informações e dados que são relevantes para a sua formação e que fazem diferença em sua vida. Uma ação errada do professor pode desencadear um conjunto de reações negativas, culminando, inclusive, com a desistência escolar do aluno superdotado.

 

3.2.4 Professores


De acordo com Souza (2002) os professores, em geral, apreciam na criança três características: habilidade acadêmica, alta motivação e conformismo social. Essas características também são apreciadas pelos pais, ou seja, esse modelo de aluno é apreciado por todos e na escola terá maior capacidade de tolerância que os demais educandos. Assim, é de se supor que as crianças que se desviam de tais modelos estabelecidos (como é o caso da esmagadora maioria dos superdotados) tornem-se insatisfeitas e frustradas e desapontem, tanto os pais, quanto os professores.

Além disso, predomina, entre os docentes, a idéia de que o superdotado tem aptidão e talento para desenvolver ao máximo suas potencialidades e habilidades sem o auxílio de terceiros ou submetido aos mesmos tratamento dos demais alunos.

Não é raro que a criança portadora de altas habilidades seja até hostilizada, direta ou indiretamente, por professores que constatam que ela já sabe tudo quanto lhe pretendem ensinar ou que dominam em poucos dias aquilo que os companheiros de classe levam semanas ou meses.

Em outras ocasiões, os docentes supõe que a criança superdotada sabe mais, aprende demais, então entregam-na a própria sorte. Como consequência, o superdotado muitas vezes acomoda-se, já que os desafios propostos pela escola estão muito abaixo da sua capacidade, produzindo muito menos do que é capaz, simplesmente por estar desestimulado.


· Comentários como "tal aluno deve tirar boas notas porque é inteligente" e outros do gênero fazem com que o superdotado abdique e desista de seus talentos e aptidões, uma vez que, por tê-los, tem mais preocupações e obrigações do que os outros colegas.

· Os professores, por constatarem que tal aluno é mais inteligente ou talentoso do que os seus colegas de classe, freqüentemente, passam a exibi-lo ou a protegê-lo, distinguindo-o dos demais e prejudicando suas relações com os colegas, os quais passam a rejeitá-lo.

· Por vezes, o professor se identifica com o superdotado e projeta nele suas aspirações e desejos, sendo a imagem daquele que gostaria de ter sido, do filho idealizado ou do indivíduo superior. Entretanto, pode também não aceitá-lo, desenvolvendo atitudes de antagonismo e oposição permanentes.

· Professores que tiveram alunos brilhantes geralmente tem prazer em contar, mais tarde, sua experiência; embora no ensino tenham tido dúvidas se tais crianças eram realmente superdotadas, ou problemáticas, diferentes, estranhas.

· Muito raramente o professor é tão talentoso como seu aluno em sua área específica, e não tem tanta imaginação nem criatividade quanto ele.

· O aluno superdotado é curioso, inquisidor, instável e, por vezes, irritado e agressivo, exigindo muito da pessoa do professor. Nem sempre ele (o professor) está psicologicamente preparado para enfrentá-lo e, portanto, sente-se inseguro, inferiorizado e perseguido, porquanto aquele é o aluno que sabe mais, que faz perguntas difíceis e que abala seu status de saber e de autoridade.

· Muitos professores competem com seus alunos superdotados e não admitem que estes últimos saibam mais do que eles ou que possam ter idéias mais criativas ou originais.


QUADRO  SEQ QUADRO \* ARABIC 3 - ATITUDES FREQUENTES DE PROFESSORES DE SUPERDOTADOS QUE PREJUDICAM O SEU DESENVOLVIMENTO -  NOVAES (1979)

Fonte: SOUZA, B. C. Informação e Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual. Portal Sapiens. 2002.


 Em meados de 1970, Seagoe, citado por Novaes (1979), elaborou uma lista quase completa dos traços típicos dos superdotados e dos possíveis problemas escolares que podem apresentar.

CARACTERÍSTICAS DOS SUPERDOTADOS E OS PROBLEMAS EDUCACIONAIS CONCOMITANTES SEGUNDO SEAGOE (1976)


Característica: Poder agudo de observação, pronta receptividade, senso do significativo, capacidade para estabelecer o diferente.

Problemas Resultantes: Possibilidade de rejeição grupal, oposição ao meio, defesa do próprio sistema de valores, intolerância.

Característica: Poder de abstração, de associação e de síntese, interesse pela aprendizagem indutiva e resolução de problemas, prazer na atividade intelectual.

Problemas Resultantes: Resistência ocasional à imposição de tarefas, omissão de detalhes, não aceitação de atividades de rotina.

Característica: Interesse nas relações causa-e-efeito, habilidade para perceber relações, interesse na aplicação de conceitos. 

Problemas Resultantes: Dificuldade para aceitar o ilógico, o superficial e conhecimentos mal estruturados e pouco definidos.

Característica: Gosto pela estrutura e pela ordem, pela consistência, seja de valores ou números.

Problemas Resultantes: Invenção dos próprios sistemas, por vezes, em conflito com os pré-estabelecidos na escola.

Característica: Capacidade de retenção, de reorganização do conhecimento. 

Problemas Resultantes: Desinteresse pela rotina, necessidade de precoce domínio das habilidades fundamentais.

Característica: Habilidade verbal, amplo vocabulário, facilidade de expressão, interesse pela leitura, extensão da informação às diversas áreas do conhecimento.

Problemas Resultantes: Necessidade precoce de especialização no vocabulário da leitura, resistência às imposições dos pais e professores, fuga no verbalismo.

Característica: Atitude de indagação, curiosidade intelectual, espírito inquisidor, motivação.

Problemas Resultantes: Falta de estimulação familiar e escolar apropriada, desestímulo, indiferença.

Fonte: SOUZA, B. C. Informação e Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual. Portal Sapiens. 2002.



Característica: Espírito crítico, ceticismo, avaliação e autocrítica.

Problemas Resultantes: Atitude crítica em relação aos outros, desencorajamento, exigência interna excessiva.

Característica: Criatividade e capacidade inventiva, inclinação para novas maneiras de ver as coisas, interesse pela livre expressão.

Problemas Resultantes: Rejeição do conhecido, necessidade de inventar constantemente.

Característica: Poder de concentração e atenção.

Problemas Resultantes: Resistência à interrupção quando concentrado nas atividades.

Característica: Comportamento persistente e dirigido para metas.

Problemas Resultantes: Obstinação, certo desligamento do desnecessário e secundário.

Característica: Sensibilidade, intuição, empatia pelos outros, necessidade de suporte emocional.

Problemas Resultantes: Necessidade de sucesso e reconhecimento, sensibilidade à crítica, vulnerabilidade à rejeição dos colegas.

Característica: Energia, vivacidade, agilidade, períodos de intenso e voluntário esforço, precedentes aos da invenção.

Problemas Resultantes: Frustração com a inatividade e ausência de progresso, impaciência.

Característica: Independência no trabalho e no estudo, preferência pelo trabalho individualizado, necessidade de liberdade de movimento e ação, necessidade de isolamento.

Problemas Resultantes: Não-conformismo com as pressões dos pais e grupos de colegas, problemas de rejeição e de antagonismo, quando pressionado.

Característica: Versatilidade e virtuosidade, diversidade de interesses e habilidades, muitos passatempos, competência em diferentes aspectos como música ou desenho e assim por diante.

Problemas Resultantes: Falta de homogeneidade no trabalho de grupo, necessidade de individualização e de ajuda para explorar e desenvolver interesses, como também de adquirir competências básicas.

Fonte: SOUZA, B. C. Informação e Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual. Portal Sapiens. 2002.

 

Portanto, os alunos superdotados são diferentes dos demais em diversos aspectos. Aprendem com maior facilidade e rapidez, sentem uma necessidade quase compulsiva de fazer as coisas à sua própria maneira, são extremamente exigentes com os seus educadores, tem várias áreas de interesse intelectual e são vistos como diferentes pelos demais alunos. Logo, apresentam características únicas que fazem surgir problemas incomuns.

De acordo com Souza (2002):

Os alunos superdotados apresentam claros indícios de uma superioridade em relação aos normais quanto à eficiência dos seus processos de aprendizagem, sendo tal diferença mais visível no 1° Grau do que no 2° Grau. Entre os mais jovens, essa discrepância parece estar associada à necessidade de estudar o mínimo possível (mas não chegando a ficar completamente sem estudar). No caso dos mais velhos, normais e superdotados precisam ambos de quantidades semelhantes de estudo (cerca de 15 a 21 horas semanais, ou 2-3 horas por dia), porém os últimos apresentam um desempenho melhor.

 Souza (2002) afirma ainda que os estudantes superdotados se diferenciam dos normais por serem mais propensos a adotarem uma estratégia de estudo mais holística, ou seja, que engloba uma mistura de leitura, testes, anotações e outras abordagens. Além disso, a estratégia predileta da maior parte dos educandos normais é a resolução de exercícios, enquanto que a dos superdotados é a combinação de estratégias.

Enfim, os alunos superdotados apresentam diferenças quantitativas e qualitativas em relação aos normais quanto ao estudo. No primeiro aspecto, há uma eficiência maior na aprendizagem escolar. No segundo, existem peculiaridades quanto às estratégias adotadas e os ambientes de estudo escolhidos. São discrepâncias mais do que significativas que certamente merecem uma atenção especial devido às suas implicações educacionais.

Portanto, a própria escola com suas padronizações e regras regras imutáveis é a origem  de diveros problemas enfrentados pelos educandos com altas habilidades e a saída mais comum é tentar mudar o aluno, idiotizando-o, ao invés de mudar a escola.

 

4. PEDAGOGIA DA SUPERDOTAÇÃO

 

4.1 A educação do superdotado


Maker (1982, apud SOUZA, 2002) apresenta cinco aspectos pedagógicos fundamentais para a educação do superdotado. Aspectos estes que favorecem a motivação, o interesse e a aprendizagem livres de tensão e conflitos. 

 

PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SUPERDOTADOS - MAKER (1982)


A aprendizagem deve estar centrada no aluno e não no professor.

Deve ser encorajada a independência, e não a dependência.

Deve ser encorajada uma atmosfera de "abertura mental" em sala de aula.

Deve ser enfatizada a aceitação de idéias e não o seu julgamento.

Deve ser permitida e encorajada a alta mobilidade do aluno dentro da sala.

 Fonte: SOUZA, B. C. Informação e Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual. Portal Sapiens. 2002. 


De um modo geral, trata-se de princípios que deveriam ser aplicados em toda e qualquer sala de aula, esteja ela repleta de superdotados, de pessoas normais ou até mesmo de retardados mentais. O que Maker (1982, apud SOUZA, 2002) ressalta é o fato de que a ausência desses preceitos é muito mais prejudicial ao superdotado do que aos demais educandos. Logo, é preciso salientar e divulgar entre os educadores que o aluno com altas habilidades necessita de uma variedade de experiências de aprendizagem enriquecedoras, que estimulem seu potencial.

Acredita-se que a superdotação é um fenômeno raro e que são poucas as crianças e  jovens  educandos que  poderiam  ser  considerados  superdotados.  O  que  pode  ser salientado é que se realmente as condições forem inadequadas, dificilmente o indivíduo com um potencial maior terá condições de desenvolvê-lo. Assim, da mesma forma que uma boa semente  necessita  de  condições  adequadas  de  solo,  luz  e  umidade  para  desenvolver-se, também  o  aluno  com  altas  habilidades  necessita  de  um  ambiente  adequado estimulador  e  rico  em  experiências. 

No âmbito das políticas educacionais, inicialmente, as diretrizes básicas da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e do Desporto (BRASIL, 1995) consideravam superdotados (ou portadores de altas habilidades) aqueles alunos que apresentavam notável desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual, aptidão acadêmica ou específica (por exemplo, aptidão matemática), pensamento criativo e produtivo, capacidade de liderança, talento para artes visuais, artes dramáticas e música e capacidade psicomotora.

Atualmente, segundo o artigo 5º, parágrafo III, da Resolução CNE/CEB Nº 2, de 2001, que instituiu as   Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica (BRASIL, 2001), educandos com altas habilidades/superdotação são aqueles que apresentam grande facilidade de  aprendizagem,  levando-os  a  dominar  rapidamente  conceitos,  procedimentos  e  atitudes. Como conseqüência, estes alunos apresentam condições de aprofundar e enriquecer conteúdos escolares.

Considerando  as  políticas  educacionais  inclusivas,  o  aluno  deve  ser  cada  vez  mais atendido em seus interesses, necessidades e potencialidades, cabendo à escola ousar, rever suas  concepções  e  paradigmas  educacionais,  lidando  com  as  evidências  que  o desenvolvimento  humano  oferece.

Uma criança pré-escolar que apresente um desenvolvimento cognitivo, socioafetivo e/ou  psicomotor  diferenciado  e  avançado  para  a  idade  não  pode  ser  desconsiderada  e/ou desqualificada  no  âmbito  escolar.  Nesse  sentido,  é  importante  atender  os  alunos  de  altas habilidades/superdotados, considerando seu desenvolvimento real, evitando contemplar níveis de desenvolvimento padronizados, conforme os apresentados em escalas de desenvolvimento.

Cabe, portanto, à escola definir no projeto pedagógico seu compromisso com uma educação de  qualidade  para  todos  seus  alunos,  inclusive  o  de  altas  habilidades/superdotados, respeitando e valorizando essa diversidade, e definindo sua responsabilidade na criação de novos espaços inclusivos.

Além disso, é na educação infantil que se aponta para a possibilidade de realização de novas  interações  sociais  por  meio  dos  reagrupamentos  escolares,  conforme  preconizam  os artigos 23 e 24 da nova LDB e que buscam, em última instância, não que o aluno se amolde ou se adapte à escola, mas que a escola se coloque à disposição do aluno, como um espaço inclusivo.

Para isso é importante a definição de um projeto pedagógico que inclua a modalidade de ensino educação  especial  no  cotidiano  escolar,  oferecendo  aos  alunos  de  altas  habilidades/superdotados alternativas motivadoras e criativas de aprendizagem que possam garantir o seu sucesso escolar.

 

4.1.1 Diretrizes Para Programas Especializados


Freqüentemente a criança superdotada precisa de trabalho educacional fora dos limites da sala de aula, em interação direta com outras crianças bem-dotadas. Contudo, tem que ser integrado ao projeto educacional da escola, e não realizado como algo isolado, ou à parte dele.

Segundo as diretrizes básicas traçadas pelo MEC (BRASIL, 1995), os alunos portadores de altas habilidades, salvo em casos extraordinários, serão atendidos em escolas comuns, onde receberão atendimento especial, e terão a sua disposição orientação e materiais adequados. Esse atendimento deverá ser constituído, conforme o caso e as condições da escola, de uma programação de enriquecimento/aprofundamento curricular, de uma programação de aceleração de estudos, ou de modalidades conjugadas.

Ainda de acordo com o MEC (BRASIL, 1995), não haverá preocupação exclusiva com o atendimento ao(s) talento(s) que o superdotado possua, mas a busca na formação harmoniosa de sua personalidade.

Este documento estabelece ainda que o trabalho com a superdotação deverá ser norteado pelos seguintes critérios:


 definir objetivos para a seleção de programas, tanto no que se refere ao desenvolvimento e à expansão das habilidades do educando, quanto à ampliação de seus interesses;

 planejar atividades em que se utilizem multimeios numa abordagem integrada das disciplinas;

  promover situações de ensino capazes de favorecer o desenvolvimento das potencialidades do educando, especialmente nas áreas de tomadas de decisões, de planejamento, de criatividade e de comunicação;

 proporcionar oportunidade de experiências de modo a alargar os horizontes pessoais do educando, desenvolvendo senso de responsabilidade e independência intelectual.


É válido assinalar ainda que os programas para superdotados devem possuir propostas curriculares que englobem o aprofundamento de conteúdos, a extensão de conhecimentos e a utilização de novas estratégias e métodos de ensino para os diversos níveis de escolaridade.

 As administrações educacionais têm também uma grande responsabilidade para tornar o atendimento possível: devem colocar o desenvolvimento deste projeto entre seus objetivos prioritários, formar e valorizar os professores envolvidos, incentivar sua dedicação e garantir os meios necessários para que sua prática seja possível: elaborar materiais diversos que orientem o trabalho dos educadores e proporcionar recursos suficientes para garantir uma educação satisfatória.

A escolha do tipo de atendimento, de acordo com Novaes (1979), dependerá de vários fatores que incluem a filosofia da educação, a estrutura do sistema escolar vigente, o material disponível, os currículos usados e o pessoal especializado para o trabalho com esse tipo de aluno.

Deve-se lembrar, porém, que desenvolver um programa de atendimento de forma adequada, mesmo levando em consideração somente o aspecto cognitivo não é uma tarefa fácil, já que, existem superdotados com aptidões em diversas áreas e outros, em áreas específicas, ou seja, os objetivos de um programa de atendimento a portadores de altas habilidades não podem ser associados apenas ao desenvolvimento intelectual, mas também devem favorecer o crescimento pessoal e a interação social.


METAS DE UM PROGRAMA DE ATENDIMENTO A SUPERDOTADOS SEGUNDO ARN E FRIERSON (1971)


· Melhores condições para o desenvolvimento de habilidades acadêmicas.

· Desenvolver bons hábitos de trabalho e estudo.

· Incrementar um clima de aprendizagem que resulte em maior produtividade.

· Incrementar a motivação.

·  Favorecer o ajustamento pessoal e emocional.

·  Promover o desenvolvimento social.

·  Oferecer melhor atendimento ao ritmo individual de crescimento e aprendizagem.

·   Possibilitar a expansão de interesses.

·  Desenvolver valores estéticos.

Fonte: SOUZA, B. C. Informação e Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual. Portal Sapiens. 2002.

 

4.1.2 Programas de Aceleração


Um exemplo de alternativa usada pelo professor, com certa freqüência, quando se trata de um aluno superdotado, é acelerar a formação desse aluno, ou seja, passá-lo para séries mais adiantadas. Essa modalidade de atendimento permite com que o aluno superdotado conclua seus estudos em tempo inferior ao previsto.

Através desta modalidade, o aluno poderá, amparado pela legislação (Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96), iniciar precocemente seus estudos antes da idade legal, ser promovido à séries mais avançadas antes do término do ano letivo ou até concluir dois anos de escolaridade em um ano apenas, através da transposição de séries.

Considera-se ainda, como aceleração, fazer cursos por correspondência ou obter créditos em universidades através de exames especiais, que possibilitam ao aluno ser dispensado de matérias que teria que cursar regularmente.

O objetivo dessa modalidade é de proporcionar ao aluno maior disponibilidade de tempo para dedicar-se a outras áreas de seu interesse, dando-lhe oportunidade de começar sua vida profissional antes do ano previsto. Quando a aceleração se dá através da admissão precoce na escola, segundo Alencar e Fleith (2001), deve-se dar atenção especial a maturidade física, social e emocional da criança, considerando-se seu nível intelectual, as suas motivações e interesses.

Alguns autores criticam esse tipo de atendimento, principalmente quando se trata de passar o aluno para séries mais avançadas, pois acreditam que esse tipo de procedimento implicaria uma falta de continuidade no programa, ou seja, que o aluno, em questão, perderia certos conteúdos, que seriam fundamentais nas séries seguintes.

Outro problema citado por Alencar e Fleith (2001), é a rejeição por parte dos alunos mais velhos com relação ao aluno mais novos que são introduzidos na sala, atitude bastante comum principalmente quando se trata de adolescentes, podendo causar sérios problemas emocionais à criança superdotada.


 VANTAGENS DA ACELERAÇÃO SEGUNDO CLARK (1979)


1) É um método que pode ser usado em praticamente qualquer escola.

2) Os alunos intelectualmente superiores tendem a escolher companheiros mais velhos, e a aceleração vai favorecer este contato.

3) A aceleração permite aos estudantes mais capazes darem início a sua vida profissional mais cedo, o que resulta em maior produtividade. 

4) Pelo fato do aluno permanecer menos tempo na escola, os custos diminuem.

5) Observa-se menos tédio e insatisfação entre os estudantes a quem se permite acelerar nos estudos, os quais percebem o novo programa como sendo mais estimulante e menos enfadonho. 

6) O ajustamento emocional e social tem se mostrado superior nos estudantes que participam de programas de aceleração. 

7) A aceleração permite que se exija do aluno uma produtividade mais de acordo com suas capacidades.

8) Se um estudante inusitadamente brilhante permanece com os seus colegas da mesma idade, ele possivelmente achará as tarefas propostas pelo professor muito fáceis e desenvolverá hábitos de estudo inadequados. 

9) A oportunidade de interagir e participar de atividades acadêmicas tende a favorecer uma atitude mais responsável por parte do aluno e o estabelecimento de novos propósitos e objetivos.

Fonte: SOUZA, B. C. Informação e Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual. Portal Sapiens. 2002.


Entretanto, apesar de todos os argumentos a favor desse processo, existem autores que criticam o método da aceleração.

French (1964, apud SOUZA, 2002) argumenta que é importante para o desenvolvimento pessoal do aluno que ele seja mantido junto com colegas de mesma idade e nível social e emocional. Segundo ele, a criança que "salta" uma determinada série escolar completamente deixa de aprender toda uma gama de conhecimentos acadêmicos e sociais importantes e necessários, o que deixa "furos" em sua formação.

Apesar das opiniões em contrário, no entanto, investigações mais ou menos recentes tem mostrado os bons resultados da estratégia de aceleração, quando esta é aplicada com certo grau de bom-senso. Daurio (1979) cita diversas pesquisas as quais revelam que, quando os alunos são devidamente selecionados e a aceleração se dá por admissão precoce ou pela utilização dos "cursos de férias", não apenas os resultados em termos acadêmicos e cognitivos são satisfatórios, como também o são o desenvolvimento emocional e social do estudante. De acordo com ele, a resistência de pais e educadores em relação a este tipo de programa fundamenta-se mais em noções pré-concebidas acerca de desajustes do que em fatos objetivos.

Alencar (1986) aponta o exemplo norte-americano onde se permite que os alunos brilhantes do 2° grau cursem algumas disciplinas universitárias para as quais já esteja preparado, dispensando a necessidade de cursá-las posteriormente quando ingressarem na faculdade. Segundo ela, este sistema e os chamados "cursos de verão" tem apresentado excelentes resultados em termos de interesse, entusiasmo, aprendizagem e produtividade acadêmica.

 

4.1.3 Programas de Enriquecimento


Os programas de enriquecimento baseiam-se em experiências variadas de estimulação, e têm como objetivo um maior desenvolvimento das habilidades e dos interesses dos superdotados, visando aumentar e aprofundar seus conhecimentos. São três as alternativas propostas pelo MEC (BRASIL, 1995) nesse tipo de atendimento:


      na própria sala de aula, com a utilização de técnicas de trabalho diversificado aplicado pelo professor de turma, orientado, ou não, por um especialista;

      em grupos especiais submetidos a um programa de enriquecimento paralelo ao das atividades comuns, atendidos por um professor especialista ou pelo próprio professor da turma, orientado por um especialista;

      em grupos especiais com programa diferente ao da turma que freqüentam, realizado por um professor especialista. 


Segundo Alencar e Fleith (2001), não são três, mais muitas, as formas que os programas de enriquecimento podem tomar. Pode implicar, por exemplo, em terminar em menos tempo o conteúdo proposto, permitindo a inclusão de novas unidades de estudo. O enriquecimento também pode ser realizado através do desenvolvimento de projetos originais, ou através de uma investigação mais ampla em determinada área .

Outras atividades de enriquecimento seriam, segundo Delou (2001), aprendizagem suplementar; unidades de aprofundamento em determinada matéria; atividades em laboratórios; ensino em equipe para estudos especializados em diferentes áreas; estudo dirigido; conferências e demonstrações; atividades junto a profissionais no local de trabalho e treino em situações de liderança.

De acordo com Novaes (1979, p. 51)

Por meio de um programa de atividades de enriquecimento, envolvendo, entre outras, redação criativa, dramatização, teatro, histórias, jogos de adivinhação e de imaginação, atividades de pintura, desenho, música e pesquisa, observa-se que, progressivamente, esses alunos tornam-se mais desembaraçados, espontâneos, interessados, abertos para novas experiências, individualizando seus trabalhos e assumindo suas habilidades e talentos.  

A ênfase maior dos programas de enriquecimento, entretanto, segundo Alencar e Fleith (2001), tem sido em termos de conteúdo. Dificilmente novas abordagens ou metodologias são consideradas, subestimando-se a importância de um enriquecimento voltado ao pensamento crítico ou que tenha um enfoque mais original e flexível na forma de se abordar um problema.

Renzulli (1994), citado em Alencar e Fleith (2001), sugere um modelo de enriquecimento escolar que dá liberdade de escolha, da extensão e da profundidade dos tópicos a serem estudados aos alunos, e vê o professor como um facilitador desse processo. São três as atividades de enriquecimento, propostas por Renzulli, que se destacam: o Enriquecimento do tipo I, II e III.

O Enriquecimento do tipo I consiste em atividades exploratórias gerais, que expõem os estudantes a novos e interessantes tópicos, idéias e campos do conhecimento que não fazem parte do currículo regular. Este tipo de enriquecimento pode ser fornecido através de palestras, excursões, demonstrações, exposições, minicursos, visitas e do uso de diversos materiais, como filmes, programas de televisão, Internet, slides, entre outros.

Já no Enriquecimento do tipo II, são utilizados métodos, materiais e técnicas que contribuem no desenvolvimento de níveis superiores de processos de pensamento, de habilidades criativas e críticas, nas habilidades de pesquisa, de busca de material bibliográfico e processos relacionados ao desenvolvimento pessoal e social. Seu objetivo é desenvolver habilidades de “como fazer”, de modo a instrumentar os alunos a investigar problemas reais usando metodologias adequadas à área de interesse desses alunos.

O Enriquecimento do tipo III consiste em atividade nas quais os alunos investigam problemas reais, ou, então, formulam problemas, e, usando metodologias apropriadas, desenvolvidas anteriormente, através do Enriquecimento do tipo II, buscam soluções para resolver o problema. Este tipo de atividade oferece oportunidade de aprofundamento em determinada área e desenvolvimento de produtos autênticos. Os estudantes se tornam produtores de conhecimento, não apenas seus receptores.

Alencar e Fleith (2001) citam, como exemplo de Enriquecimento do tipo III, a elaboração de um jogo de guerra simulado, um livro, uma homepage, uma escultura, uma propaganda, etc. O enriquecimento deste tipo possibilita ainda, ao aluno, desenvolver habilidades metacognitivas, tais como planejamento, gerenciamento, tomada de decisões e avaliação, além de características afetivas, como independência de pensamento e ação, motivação, autoconfiança e habilidades interpessoais.

Grupos de enriquecimento proporcionam, a todos os alunos, experiências de aprendizagem desafiadoras, auto-seletivas e baseadas em problemas reais, além de favorecer o conhecimento avançado em uma área específica, estimular o desenvolvimento de habilidades superiores de pensamento e encorajar a aplicação destas em situações criativas e produtivas. (ALENCAR & FLEITH, 2001, p.137)

 Enfim, um programa de enriquecimento escolar é uma estratégia pedagógica onde se oferece ao aluno capaz a oportunidade de ampliar e aumentar os seus conhecimentos por meio da participação de cursos extracurriculares, projetos especiais ou conteúdos curriculares específicos mais adiantados. A idéia parte do princípio que o aluno superdotado precisa de pouco tempo para desenvolver as atividades acadêmicas habituais para a sua idade e/ou série escolar, e que necessita de um complemento para estas atividades de modo a ocupar produtivamente o seu tempo ocioso. Também espera-se que o fato do aluno ter atividades intelectualmente estimulantes oferecidas pela escola contribua para que ele não sucumba ao tédio e, conseqüentemente, desperdice o seu tempo livre.

Gowan e Torrance (1971, apud SOUZA, 2002) alertam para certas dificuldades inerentes à aplicação de um programa de enriquecimento, afirmando que é pouco realista esperar que um professor de uma turma de tamanho médio, desprovido de treinamento especial e sem tempo extra, possa ter condições de desenvolver com sucesso um programa desse tipo, voltado somente para os seus alunos superdotados que estão misturados ao restante da turma. O mais provável é que ele ou ela, quando muito, exija que tal ou qual aluno responda mais exercícios ou que domine maior parte do conteúdo programático do que os demais; dando pouca ou nenhuma ênfase ao uso de novas abordagens ou metodologias para ensinar o pensamento crítico, a originalidade ou a flexibilidade de idéias.

 

4.1.4 Programas de Segregação


A segregação consiste em separar, temporária ou permanentemente, os estudantes superdotados dos demais alunos. O objetivo é criar turmas especiais homogêneas para as quais se possa dar um tratamento especial adequado sem prejuízo para os alunos normais.

Barbe (1965, apud SOUZA, 2002) defende a segregação argumentando que este é o melhor método pelo qual a escola pode levar a criança a se dedicar, com entusiasmo, a tarefas simultaneamente interessantes e desafiadoras. De acordo com ele, facilita também o trabalho dos professores, os quais poderão trabalhar com um grupo menor e mais homogêneo no qual é mais fácil desenvolver atividades de enriquecimento.

No entanto, French (1964, apud SOUZA, 2002), avisa que segregar um grupo de alunos e rotulá-los de "superdotados" pode fazer com que desenvolvam uma atitude esnobe e presunçosa, sendo necessária uma boa orientação por parte de pais, professores e orientadores educacionais para que tal tipo de postura perniciosa não se instale.

McWililliams (1965, apud SOUZA, 2002) afirma que os superdotados variam muito quanto a sua esfera de talentos, o que torna sua completa segregação difícil ou mesmo impossível. Além disso, ele levanta o argumento de que os superdotados precisam, cedo ou tarde, aprender a conviverem com os indivíduos menos habilidosos, coisa que se adquire mais facilmente num grupo heterogêneo.

Clark (1979, apud SOUZA, 2002) considera todos argumentos acima quando sugere alguns princípios básicos a serem respeitados na utilização do método da segregação para que haja um bom resultado.


PRINCÍPIOS QUE DEVEM REGER A SEGREGAÇÃO SEGUNDO CLARK (1979)


1) Reconhecer que as diferenças individuais sempre existem, de modo que os superdotados não constituem um grupo perfeitamente homogêneo. Alguma instrução individualizada deve sempre existir.

2) Deve-se evitar a completa segregação, já que os alunos selecionados devem também ter oportunidade de contato com os demais alunos.

3) Deve-se selecionar professores bem qualificados.

4) Deve-se encorajar o desenvolvimento em várias áreas, e não apenas na intelectual.

5) Deve haver sempre comunicação entre os professores desse alunos e entre professores e pais.

6) Os professores desses programas devem estar continuamente se informando acerca de pesquisas, formas de avaliação e propostas de currículo para esta população.

Fonte: SOUZA, B. C. Informação e Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual. Portal Sapiens. 2002.

 

4.1.5 Escolas Especializadas


Outra medida quase sempre considerada é a de encaminhar a criança superdotada para uma escola especializada. Com certeza, nos casos em que a criança superdotada possua habilidades atléticas ou talento nas áreas artísticas, como música, dança, o papel dessas instituições é inegável. Quanto as demais, talvez, a melhor maneira de promover seu desenvolvimento seja mesmo através de um trabalho paralelo em sala de aula, através de programas de enriquecimento, desde que sejam bem estruturados e orientados por profissionais especializados.

Aqui, encaixam-se também alternativas como seminários especiais, aproveitamento de recursos humanos da comunidade, monitorias, visitas e excursões, viagens, atividades diversificadas em programas de férias, entre outras, que dão uma ampla variedade de vivências e experiências pedagógicas ao aluno superdotado.

De acordo com Prista (1992, p.17).

Vários estudos comprovam a riqueza de experiências com grupos heterogêneos. Por outro lado, o superdotado deve viver socialmente e isto implica relacionar-se com as mais diversas diferenças, pessoas comparáveis a ele em termos de capacidade intelectual e criativa, pessoas com capacidade inferior e também superior. Como prepará-lo para a convivência, para a relação com seres humanos, se já tendenciosamente é excluído? Se só estamos levando em análise um dos lados da questão?

 Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação/MEC (no 9394/96), é recomendado que esses alunos permaneçam em classes e escolas comuns, considerando que o professor tenha condições de trabalhar com atividades diversificadas e disponha de orientação e de materiais pedagógicos adequados. Caberá as escolas a opção dos programas visíveis a serem implantados, considerando seus limites institucionais, os recursos humanos disponíveis e as características locais e regionais.

Enfim, a superdotação exige a construção de uma pedagogia específica, metodologias de ensino peculiares, etc. Ignorar esse fato implica em comprometer e inibir o desenvolvimentos de pessoas com tais características, sem contar que pode contribuir para o seu desajustamento social e uso indevido, talvez até criminoso, de suas habilidades.


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


A criança superdotada é um dos principais problemas dos educadores. Suas aptidões e inteligências são energias de forte potencial, que se forem aplicadas à obra socialmente útil enriquecem o país e contribuem para a harmonia e a paz. Porém, se forem mal utilizadas favorecem a vitória do mal e a exploração do fraco, pois a eclosão deste egoísmo no meio social gera desigualdade, agitação e revolta. Em outras palavras, a questão do Superdotado constitui um problema de ordem social que afeta a sociedade como um todo e pode interferir, inclusive, no desenvolvimento econômico da nação.

Por isso, é primordial promover um ajustamento do indivíduo superdotado no ambiente social, assim como garantir a sua conquista de espaço e o seu acesso a um patamar mais amplo de informação e conhecimento.

A direção que as habilidades de um indivíduo superdotado tomarão depende de diversos fatores, como por exemplo a experiência, a motivação, o interesse, a estabilidade emocional, a veneração de heróis, a insistência paterna e até mesmo as possibilidades materiais. Certamente, as qualidades de ser bom ou mau variam de acordo com o local em que se está e se vive. Um superdotado Palestino da faixa de Gaza tem muito mais chance de ser um terrorista perigosos do que um superdotado palestino vivendo no Brasil, por exemplo.

Entretanto, a educação é determinante, pois entra como uma barreira de contenção, inibindo o desenvolvimento nocivo, para sociedade, desses indivíduos e mantendo-os firme na legalidade e como um esteio sadio da coletividade. Contudo, isso somente é possível se os atores educacionais tiverem conhecimento dos principais problemas escolares que afligem os superdotados no dia-a-dia da sala de aula, pois só assim conseguirão mantê-los na escola.

Problemas como desperdício de tempo, hostilidades dos colegas, independência rebelde e conflitos com os professores são os principais responsáveis pela inibição de alunos superdotados, assim como razões para que desistam dos estudos e busquem caminhos perigosos, como por exemplo, a criminalidade.

Além disso, esta pesquisa detectou que a inserção de alunos com altas habilidades em salas comuns e regulares (inclusão) gera mais problemas que soluções, ou seja, estes educandos carecem de um atendimento personalizado, específico e, muitas vezes, individual. Agrupar alunos superdotados com alunos comuns é problemático, assim como deixar os superdotados em uma única sala é pior ainda, pois cada um tem habilidades específicas e necessidades únicas.

Portanto, neste caso, o mais recomendado são as salas especiais que agrupam os educandos com habilidades e gostos parecidos, assim como é importante deixá-los escolher quais os grupos de estudos e disciplinas que mais lhes interessam e que desejam participar, ou seja, implantar um sistema que possibilite ao aluno a construção de seu próprio conhecimento.

Outro fator importante é o acompanhamento constante do superdotado por um orientador ou tutor, um especialista em superdotação que possa auxiliar o discente no desenvolvimento de suas habilidades e criatividade, assim como nos estudos específicos que lhe interessam. Nas séries iniciais a presença do orientador ou tutor é ainda mais importante, pois a criança superdotada tem maior dependência dos adultos do que o adolescente.

Além da orientação específica são importantes também as demais metodologias, por exemplo, os programas de acelerações, de enriquecimento, de segregação e as escolas especializadas. Entretanto, é sempre importante considerar as indicações do orientador do educando superdotado.

O Brasil, nesta área e neste tema, ainda é incipiente. Milhares de cérebros, nascidos nestas terras brasileiras, perdem-se anualmente, sejam sugados por outros países ou simplesmente aniquilados aqui mesmo. Essa ignorância ocasiona perdas econômicas, tecnológicas e culturais sem precedentes, uma vez que são os cidadãos com altas habilidades que sustentam e garantem a inovação, o desenvolvimento de uma nova cultura, educação, ciência e tecnologia. Não está em jogo apenas estratégias e técnicas, mas também novos caminhos, novos modelos, novas fontes, novos conhecimentos, enfim, o poder humano de criação e renovação.

O mundo necessita de respostas às crescentes necessidades das mais variadas àreas e cabe ao potencial humano desenvolver técnicas de superação de crises, de reorganizações de estruturas e a criação de elementos adaptativos. Porém a evolução e a revolução são mais fáceis para aqueles que possuem a chave da mudança e conseguem ver além do horizonte. A educação para o superdotado, portanto, é um investimento social, com alto retorno para a economia, para o bem-estar e para a cultura da humanidade. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALBUQUERQUE, C. Esperança na cabeça: Encontro de especialistas vai debater a contribuição de superdotados para o mundo. Revista Época. n. 14 de 24/08/1998.

 ALENCAR, E. S. Psicologia e educação do superdotado. 1.ed. São Paulo: Ed. Pedagógica e Universitária Ltda., 1986.

 ALENCAR, E.M.L.S; FLEITH, D.S. Superdotados: determinantes, educação e ajustamento. São Paulo: EPU. 2001.

 ANTIPOFF, H. A educação do Bem Dotado. Rio de Janeiro: SENAI. 1992.

 BRASIL. Ministério da Educação e Cultura, Secretaria de Educação Especial. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Brasília.: MEC/CNE/CEB, 2001.

 __________. Ministério da Educação e Cultura, Secretaria de Educação Especial. Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental – Superdotação e Talento. Vol. 1 e  2. Brasília, 1999.

 __________. Secretaria De Educação. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação para o atendimento educacional aos alunos portadores de altas habilidades/superdotação e talentos. Brasília: MEC/SEESP, 1995.

 __________. Secretaria de Educação Especial do Distrito Federal. Superdotação. Brasília. 2002. Disponível: <http://www.se.df.gov.br/superdotados>. Acesso em 25/09/2004

 DAURIO, S. P. Educational enrichment versus acceleration. A review of the literature. Artigo traduzido. In: ALENCAR, Eunice M. L. S.; FLEITH, Denise de Souza. Superdotados: Determinantes, Educação e Ajustamento. São Paulo: EPU, 2001.

 DELOU, C. M. C. O Psicólogo escolar e a família do superdotado.  Trabalho apresentado no V Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional. Itajaí, SC. Abril de 2000. In: ALENCAR, Eunice M. L. S.; FLEITH, Denise de Souza. Superdotados: Determinantes, Educação e Ajustamento. São Paulo: EPU, 2001.

 ESPERANÇA na cabeça: Encontro de especialistas vai debater a contribuição de superdotados para o mundo. Revista Época. Rio de Janeiro. n. 14. Agosto. 1998.

 KIRK, S. A.; GALLAGHER, J. J.  Educação da criança excepcional. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.     

 METTRAU, M.; ALMEIDA, L. A educação da criança sobredotada: a necessidade social de um atendimento diferenciado. Revista Portuguesa de Educação, Braga, n. 1 e 2, p. 5 - 13, 1994.

 NOVAES, M. H. Desenvolvimento Psicológico do Superdotado. São Paulo: Atlas, 1979.

 PRISTA, R. M. Superdotados e Psicomotricidade: Um Resgate à Unidade do Ser. Rio de Janeiro: Vozes, 1992.

 RENZULLI, J. S. et al. Creative Learning Process, 1976. Artigo traduzido. In: NOVAES, Maria Helena. Desenvolvimento Psicológico do Superdotado. São Paulo: Atlas, 1979.

 SOUZA, B. C. Informação e Conhecimento sobre a Superdotação Intelectual: Portal Sapiens. 2002. Disponível em:<http://www.vademecum.com.br/sapiens> Acessado em 24 de agosto de 2003. 


ANEXO: PROVA SELECIONA PRODÍGIOS PARA O BEM DA HUMANIDADE


Associação Internacional Mensa aplica teste de QI para identificar superdotados


O teste de mensuração do quoeficiente de inteligência (QI) da Mensa contém 60 questões de raciocínio lógico espacial (múltipla escolha) que devem ser resolvidas em até 40 minutos, sem exigir preparo prévio ou conhecimento específico.

Para participar do processo, o candidato deve ser maior de 16 anos e portar documento de identidade. A inscrição pode ser feita pelo portal da Mensa Brasil http://www.mensa.com.br/agendamento_de_teste.php e custa R$50, taxa que poderá ser dispensada caso o interessado não possa pagar. Quem perder o teste pode se agendar para um momento posterior. É que a Associação Internacional Mensa, entidade que congrega pessoas superdotadas em todo o mundo, promove o teste de inteligência toda primeira quinta-feira de cada mês em universidades federais e nas terças, quartas e quintas em locais próprios, espalhados por todo o território nacional brasileiro.

Sendo constatado o QI elevado, o candidato será convidado, através de uma correspondência sigilosa enviada pelos Correios, a se associar a essa seleta comunidade. A Mensa é uma entidade sem fins lucrativos que identifica superdotados – pessoas que figuram entre os 2% da população mundial com QI acima de 150. Número expressivo, já que o QI comum é 100.


MAIS POBRES – A Mensa tem no Brasil uma filial com coordenações em alguns estados. Na Bahia, a entidade reúne mais de 40 mensans (nome dado aos associados da Mensa) identificados. Um dos objetivos é detectar o superdotado nas classes mais baixas, em especial crianças, para dar-lhe o encaminhamento educacional necessário. Além disso, busca identificar e estimular o uso da inteligência humana para beneficiar a humanidade, disseminar conhecimentos e promover oportunidades intelectuais e sociais entre seus membros.

Bem-humorados, irrequietos, interessantes, ecléticos, impacientes e polivalentes, os superdotados são pessoas entusiastas de sua condição especial, mas detestam ser chamados de gênios. Identificar um superdotado não é difícil. Normalmente, têm facilidade para solucionar problemas, refinado gosto pela leitura e muita perspicácia. Considerados gênios na sociedade moderna, têm grande capacidade de concentração, multiplicidade de interesses e habilidades, primam pelo perfeccionismo, são detalhistas e têm boa memória.

Na infância, os superdotados costumam se destacar por apresentarem desenvolvimento avançado, sendo considerados excelentes alunos. Ou, ao contrário, mostram-se desinteressados e pouco motivados por falta de estímulo intelectual, creditando ao ensino um ritmo lento. Nos dois casos acabam sofrendo discriminação. Por tabela, a adolescência dos superdotados também não é uma fase fácil.


INTELIGENTES SIM, GÊNIOS NÃO


"Aristóteles comentava que o homem inteligente era aquele que tinha habilidade para fazer cálculos. Mas nem por isso a calculadora é considerada inteligente", brinca o médico psiquiatra Ricardo Chemas, 50 anos, membro da Mensa internacional e baiana. Com essa afirmação, ele quer explicar que não existe um detalhe específico que defina a inteligência. "Do ponto de vista científico, a inteligência é a capacidade de se adaptar a situações novas e apreender a realidade, especialmente as percepções fragmentadas da experiência na totalidade de campo", diz.

Indagados sobre o que acham da definição "gênios", utilizada na mídia para defini-los, os mensans Chemas e João Glicério Filho, 23 anos, advogado e professor universitário, são unânimes: não gostam. "Nada temos a ver com os chatos nerdes americanos. Somos indivíduos extremamente bem-humorados", explicam, frisando que o humor fino é denunciador de inteligência.

Os chavões e frases feitas, utilizados pelo homem comum, são abominados pelos superdotados. Daí muitas vezes serem discriminados e, em algumas fases da vida, sofrerem com a solidão, a depressão ou a melancolia. "Cometemos a heresia por pensar e tirar conclusões", diz Chemas. Se sobrevive a tudo isso, assumiu sua condição. "Ou então, conformou-se ao sistema e abriu mão de sua singularidade, ganhando tiques nervosos ou fobias".


UM MENINO DIFERENTE


Luciano Carneiro de Campos Costa, 35 anos, é um dos mensans baianos. Ele trabalha como administrador, é contador e analista de sistemas. Agora se prepara para cursar matemática na Faculdade de Tecnologia e Ciência. Daqui a uns cinco anos pretende estudar direito. Essa inquietação e polivalência são características que carrega desde menino.

Apesar de fazer parte do grupo seleto da Mensa há três anos, somente há quatro meses descobriu qual era seu problema, ou melhor, sua solução. "Tive uma infância sofrida. Eu era diferente dos demais e não sabia por quê", desabafou Carneiro. Ao ingressar na Mensa, conheceu Chemas, que chamou a sua atenção. Tinha TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade. Quando pesquisou na internet e encontrou uma explicação, não se conteve e chorou. Havia redescoberto sua vida.

O multiprofissional revelou que, pelas características que carrega, acaba sendo complicado trabalhar no dia-a-dia. "Processamos a informação de forma mais rápida e as pessoas à nossa volta acabam não acompanhando", explica. Ele gosta de frisar que ser inteligente não é sinônimo de ser bem-sucedido. "Quando começamos a ganhar dinheiro com alguma coisa, mudamos de carreira", conta. Ao fazer parte da Mensa, Carneiro conheceu pessoas com características semelhantes e descobriu que não era mais um peixe fora d’água. "Adorei", revela.

 

O QUE É A MENSA


A Mensa é uma sociedade formada por pessoas de alto QI. Foi fundada em 1946 na Inglaterra e é hoje internacionalmente conhecida, com cerca de 100.000 membros em mais de 100 países. A idéia original era, e ainda é, criar uma sociedade apolítica e livre de distinções raciais ou religiosas, com o objetivo de fomentar a inteligência e promover o convívio com pessoas intelectualmente estimulantes. Para filiar-se à Mensa, a única exigência é ter um QI na faixa dos 2% superiores da população, comprovado por testes aplicados pela própria Mensa, ou reconhecidos por ela. 

 

OBJETIVOS DA MENSA

 

Identificar e cultivar a inteligência para o benefício da Humanidade, proporcionar um ambiente social e intelectualmente estimulante para seus membros e encorajar pesquisas sobre a natureza, características e usos da inteligência. 

 

BENEFÍCIOS DE FILIAR-SE À MENSA

 

Uma das maiores vantagens é a possibilidade de interação (real e virtual) com pessoas intelectualmente estimulantes. A forma como as conversas e discussões sobre temas diversos fluem é sempre interessante, tanto para teorias complexas e assuntos sérios, como para temas cotidianos ou brincadeiras. A Mensa conta com uma grande variedade de pessoas com interesses diversos, o que enriquece muito o contato pessoal e até mesmo pode funcionar como rede de contatos profissionais.

 

AMIZADE E SOCIALIZAÇÃO

 

 Encontros freqüentes e contatos via internet são organizados em níveis local e nacional. Todos os associados têm acesso livre ao cadastro de membros, através do site e podem fazer buscas por localização, idade, profissão e outros critérios, o que facilita muito o contato. Isso possibilita encontros informais entre membros com interesses similares, bastando buscar no cadastro e organizar o encontro. Também através do site pode-se acessar o jornal da Mensa Internacional, com periodicidade mensal, além de diversas outras informações sobre a associação.

Existem Grupos de Interesse Especial (chamados SIGs, Special Interest Groups) sobre assuntos os mais variados, desde científicos até os mais leves, como história em quadrinhos, por exemplo. Para fazer parte da maioria dos SIGs é necessário ser associado. Há também listas de discussão, através das quais debatem-se assuntos diversos, uma comunidade brasileira no Orkut e uma internacional no Facebook, com acesso restrito aos associados.

 

CONTATOS EM VIAGENS

 

A Mensa é verdadeiramente uma organização internacional, além de possuir associados em muitos Estados Brasileiros, e membros no mundo todo podem ajudá-lo com o itinerário e acomodações quando você viajar, através do SIGHT (Service of International Guidance and Hospitality to Travellers). Não há melhor maneira de se viajar, conhecer o mundo e conhecer novas pessoas do que através da rede mundial de membros da Mensa.

 

ANNUAL GATHERING

 

 Uma vez por ano a Mensa Brasil realiza um encontro nacional, evento restrito aos associados e convidados. É uma excelente oportunidade para conhecer pessoas com características semelhantes às suas, e ampliar sua rede de contatos pessoais ou profissionais. Nos AGs há uma ampla e convidativa programação de palestras e eventos sociais.

Aproveite o estímulo intelectual que a sociedade promove. Você verá que os benefícios da filiação são numerosos.





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