sábado, 12 de janeiro de 2013

A SUPERDOTAÇÃO SEGUNDO O INSTITUTO PARA OTIMIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM


Blog “Genialidade e Superdotação”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel.



CARACTERÍSTICAS DOS SUPERDOTADOS - INODAP



Os alunos superdotados apresentam a mesma variedade de características — mentais, sociais, emocionais e físicas — de qualquer grupo de alunos de idade semelhante. Muitos são amistosos e expansivos; alguns são tímidos e retraídos; a maioria é feliz e segura de si; poucos são deprimidos. Isso torna os alunos, com capacidade mental elevada, nem sempre facilmente identificáveis (SE/CENP/1988).

Apesar de ser comum, entre os alunos mais brilhantes, uma maturidade física, social e emocional acima da média, nem sempre isso acontece, podendo uma disparidade ser observada entre aspectos do desenvolvimento intelectual, social, emocional e físico. Essa diversidade de características, que podem ser apresentadas pelo superdotado, implica a consciência da necessidade de utilizar os mais diversos recursos para a identificação, quando se relacionam alunos para programas especiais. Não se pode correr o risco de se deixar de lado um aluno que não se enquadra num modelo pré-determinado de superdotado.

Alguns traços têm sido observados, com certa freqüência, sobretudo nos superdotados que se destacam na área intelectual e com habilidades acadêmicas superiores. As características típicas dos superdotados que se destacam nas áreas artísticas e psicomotoras são menos conhecidas e pesquisadas.

As características típicas do superdotado são listadas a seguir (Tuttle & Becker, 1983):


•  É curioso;

•  É persistente no empenho de satisfazer os seus interesses;

•  É crítico de si mesmo e dos outros;

•  Tem um senso de humor altamente desenvolvido;

•  Não é propenso a aceitar afirmações, respostas ou avaliações superficiais;

•  Entende com facilidade princípios gerais;

•  Tem  facilidade em  propor muitas  idéias para um estímulo específico;

•  É sensível a injustiças tanto a nível pessoal como social;

•  É  um líder em várias áreas;

•  Vê relações entre idéias aparentemente diversas.


Outras são as características propostas por Torrance (Gowan & Torrance, 1971), presentes em indivíduos superdotados que se destacam por sua criatividade:


•  Reagem, positivamente, a elementos novos, estranhos e misteriosos de seu ambiente;

•  Persistem em examinar e explorar estímulos com o objetivo de conhecer melhor a respeito deles;

•  Apresentam uma forma original de resolver problemas, propondo, muitas vezes, soluções inusitadas;

•  São independentes, individualistas e auto-suficientes;

•  Têm grande imaginação e fantasia;

•  Vêem muitas relações entre objetos;

•  Têm sempre muitas idéias;

•  Preferem idéias complexas; irritam-se com a rotina;

•  São curiosos, gostam de investigar, fazem muitas perguntas;

•  Podem ocupar seu tempo de forma produtiva, sem ser necessária uma estimulação constante pelo professor (apud Alencar, 1986).


Os alunos, em sala de aula, podem também evidenciar maior facilidade para linguagem, para socialização, capacidade de conceituação expressiva ou desempenho escolar superior.

Na linguagem, destacam-se os seguintes aspectos: raciocínio verbal e vocabulário superior à idade, nível de leitura acima da média do grupo, habilidade de comunicação e linguagem criativa.

Quanto à capacidade de conceituação, relaciona-se à apreensão rápida da relação causa-efeito, observação acurada, domínio dos fatos e manipulação criativa dos símbolos, além de um raciocínio incomum.

Na área da socialização, apresentam: facilidade de contato social, capacidade de liderança, relacionamento aberto e receptivo, sensibilidade aos sentimentos dos outros.

O desempenho escolar se refere ao alto nível de produção intelectual, motivação para aprendizagem, metas e objetivos acadêmicos definidos, atenção prolongada e centrada nos temas de seu interesse, além de persistência dos esforços em face das dificuldades inesperadas.

É importante considerar que nem todos os superdotados apresentam todas essas características e, quando as apresentam, poderão não estar, necessariamente, em simultaneidade e no mesmo nível (MEC/CENESP, 1986).

Quanto ao ajustamento, tem sido constatado que, embora muitos superdotados não tenham problemas nessa área, isso não ocorre quando se trata de indivíduos excepcionalmente inteligentes.

A tendência a apresentar dificuldades em seu relacionamento social ocorre, especialmente, quando não têm, no seu meio, outras pessoas semelhantes. Caso haja oportunidade de participar de programas especiais, com outros indivíduos com características similares, tais dificuldades tendem a diminuir e mesmo a desaparecer.

Quando as necessidades educacionais do aluno superdotado não são atendidas, apresentam-se características negativas e ele se mostra:


•  inquieto, desatento, perturbador, importuno, descuidado na escrita, deficiente na ortografia, porque é impaciente com detalhes e com a aprendizagem que requer treinamento;

•  descuidado em completar ou entregar tarefas, quando desinteressado;

•  muito crítico consigo mesmo e com os outros (SE/CENP, 1988).


TRAÇOS COMUNS NO ALUNO SUPERDOTADO


Vários educadores estiveram engajados na execução de um documento para fornecer subsídios para a educação dos superdotados, relativos a procedimentos de identificação e alternativas de atendimento na realidade educacional brasileira. Os traços mais freqüentes encontrados nos superdotados foram publicados em muitos documentos que mantêm a mesma redação da publicação do MEC/CENESP (1986, p. 11).

São eles:


•  apresenta grande curiosidade a respeito de objetos, situações ou eventos, envolvendo-se, normalmente, em muitos tipos de atividades exploratórias;

•  aluno auto-iniciado, principia sozinho e persegue interesses individuais procurando sua própria direção;       

•  revela grande originalidade na sua expressão oral e escrita, constantemente dá respostas diferentes e tem quase sempre idéias não-estereotipadas;

•  tem talento incomum para expressar-se nas artes como música, dança, drama, desempenho e demais expressões artísticas;

•  é hábil ao apresentar alternativas de soluções, sendo flexível o seu pensamento;

•  está sempre aberto à realidade, procurando estar a par do que o cerca, sendo observador sagaz e aberto;

•  enriquece-se com situações-problema, seleciona respostas, procura soluções para problemas difíceis ou complexos;

•  tem capacidade para usar o conhecimento e as informações, procurando novas associações, combinando elementos, idéias e experiências, de forma peculiar;

•  mostra julgamento superior, quando avalia, ponderando e procurando respostas lógicas, percebe as implicações e as conseqüências; decide facilmente;

•  produz variedade de idéias e respostas, gosta de aperfeiçoá-las e ampliá-las;

•  gosta de correr riscos em várias atividades;

•  tem habilidade de ver relações entre fatos, informações e conceitos, aparentemente não-relacionados;

•  aprende rápido, fácil e eficientemente, especialmente no campo de sua dotação e interesse.


Dentre as características comportamentais dos superdotados, destacam-se ainda:


•  necessidade de definição própria;

•  capacidade de desenvolver interesses ou habilidades específicas;

•  interesse no convívio com pessoas de nível intelectual similar;

•  rapidez em resolver dificuldades pessoais, aborrecendo-se facilmente com a rotina;

•  procura em ser pessoal e autêntico;

•  capacidade de redefinição e de extrapolação;

•  espírito crítico, capacidade de análise e síntese;

•  desejo de aperfeiçoar-se, não-aceitação de imperfeição no seu trabalho;

•  rejeição à autoridade excessiva;

•  fraco interesse por regulamentos e normas;

•  senso de humor;

•  grande exigência consigo mesmo.


PAPEL DOS PAIS E PROFESSORES


Pais e professores, muitas vezes, acreditam, erroneamente, que testes e outros instrumentos de medida fornecerão resultados conclusivos na identificação de uma criança como superdotada e talentosa, ou como não sendo superdotada. Algumas vezes, alunos superdotados, ao apresentarem características e comportamento diferentes da média dos alunos, são reconhecidos como tendo problemas, comprometimentos ou até retardo.

É comum também ouvir pais e professores questionarem se uma criança em particular, que parece ser precoce ou brilhante, é realmente superdotada.

A questão é que muitos acreditam que alguns indivíduos são gênios, e outros são pseudo-superdotados e que, se testados e avaliados corretamente, os superdotados serão claramente identificados como tal.

Na verdade, todos os tipos de superdotação e talento correspondem a características psicológicas e a habilidades que estão em contínua variação. As características existem em vários níveis, em todos os seres humanos, variando em intensidade, de indivíduo para indivíduo. As habilidades diferem também entre os superdotados. Portanto, o processo de identificação precisa levar em consideração essas condições (Feldhusen & Baska, 1985).

A identificação do superdotado e talentoso é um processo pelo qual tentamos tomar conhecimento de estudantes cujas habilidades, padrões motivacionais, autoconceito e capacidade criativa estão tão acima da média, que serviços diferenciados são necessários para alcançar todo o progresso educacional exigido por sua capacidade.

Uma das maiores dificuldades é que as escolas, normalmente, não utilizam processos de identificação para alunos acima da média, somente demonstrando preocupação com os alunos de rendimento baixo, ou que estão, constantemente, perturbando o trabalho escolar. Muitas vezes, esses alunos são encaminhados para uma avaliação por outros profissionais, fora da escola, quase sempre no intuito de afastá-los para instituições especiais, destinadas a crianças que apresentam limitações.

No caso dos superdotados, não se percebe nenhum cuidado especial, principalmente se o aluno não causa problemas na escola.

Sabemos que alguns programas para crianças de nível pré-escolar nos levam a identificar, de forma geral, alunos bem-dotados que podem tirar proveito da estimulação das experiências educacionais e ampliar seu desenvolvimento. Contudo, quando essas crianças passam aos níveis mais adiantados, seus talentos começam a cristalizar em algumas áreas específicas.

 Uma maior atenção para as características e habilidades individuais demonstradas, poderia encaminhá-las para experiências educacionais válidas e apropriadas, correspondentes com as suas necessidades (Feldhusen & Baska, 1985).

Na descoberta dos talentos, contamos com a contribuição de dois importantes segmentos: professores e pais.


Professores — a indicação pelo professor é um dos mais importantes e consistentes métodos usados para identificar alunos potencialmente superdotados.

Entretanto, a eficácia da indicação do professor é ainda limitada, a não ser que seja usada com outros meios, por professores que tenham tido alguma preparação e treinamento sobre a identificação dos superdotados e conheçam indicativos de características comportamentais do seu potencial.

Algumas estratégias de ensino-aprendizagem, que auxiliam o reconhecimento das habilidades, poderão ser combinadas para um desenvolvimento adicional nas classes regulares, o que só trará benefícios para todos os alunos e poderá suplementar e melhorar o ensino regular.

Utilizando estratégias corretas, os professores poderão constatar o aparecimento da conduta de superdotação de forma crescente, em um grande número de alunos. A associação de atividades adequadas se tornará, evidentemente, efetiva e contribuirá para a descoberta dos talentos.

Para que possa haver um desenvolvimento adequado das potencialidades do aluno, é necessário que haja, além de oportunidades educacionais, professores interessados e conscientes das necessidades diferenciadas dessa clientela.


Pais — outra dimensão de importância na identificação do superdotado é a contribuição dos pais dentro desse processo.

Existe o mito de que todos os pais pensam que seus filhos são superdotados. Entretanto, são poucos os que desejam esse rótulo para suas crianças. Na verdade, os pais possuem uma grande parcela de conhecimento e de informações que são aplicáveis ao processo de identificação. Eles podem não conhecer os dados técnicos e a correta denominação das características apresentadas, mas sabem muito a respeito das habilidades, motivações, autoconceito e capacidade criativa de seus filhos.

Além disso, eles presenciam o dia-a-dia dos trabalhos escolares, muitas vezes restritos e inadequados para o desenvolvimento de seus filhos e observam seu comportamento em situações diversas e mais livres. Freqüentemente, têm informações que são ignoradas pelos professores e que podem ser extremamente válidas para o processo de identificação.


ORIENTAÇÃO DA FAMÍLIA


A compreensão da família poderá ser alcançada com maiores informações e esclarecimentos sobre as habilidades e necessidades especiais de seus filhos. Palestras, encontros e trabalho em grupo, onde são trocadas experiências, são importantes para que os pais possam tornar-se colaboradores, facilitadores e auxiliar no desenvolvimento do talento.

Para obter as melhores condições educacionais para os filhos é prudente, sensato e aconselhável estabelecer um contacto estreito com a escola nessa tarefa que constitui preocupação mútua.

Trata-se de uma questão de sabedoria deixar de lado o papel de adversários que muitos pais adotam e discutir as necessidades dos filhos com as pessoas mais indicadas — os profissionais da educação.

O papel dos pais na vida de seus filhos é  multifacetado e incrivelmente difícil, ainda que seja um papel desempenhado com prazer. São provedores, educadores e mentores, modelos intelectuais e sociais, disciplinadores, conselheiros, ouvintes, planejadores e gerentes, intérpretes e pára-choques, autoridades, companheiros, promotores dos interesses e talentos especiais e orientadores vocacionais.

Podem exercer uma influência construtiva ou destrutiva na vida de seus filhos dependendo da própria percepção do papel que ocupam, da habilidade, conhecimento e experiências que possuam e de suas motivações e aspirações (Ehrlich, 1989).

Outra área de interesse dos pais é a comunicação entre a família e a escola. Muitos pais ficam ansiosos por entender o comportamento de seus filhos superdotados, e poucos encontram auxílio vindo dos elementos das escolas. Estão profundamente preocupados com a possibilidade de falhar na criação apropriada de uma criança superdotada e, dessa forma, diminuir, comprometer ou destruir a superdotação ou o talento. Também é motivo de interesse o relacionamento dos filhos com os familiares e amigos (Feldhusen, 1985).

Os pais têm expectativas especiais quanto aos professores de seus filhos superdotados, são muito perceptivos com relação ao que se passa nas atividades freqüentadas por eles. Notam os resultados nas áreas em que os professores estão trabalhando, principalmente se estiverem em contacto com os objetivos das atividades realizadas.

Somente o ambiente escolar apropriado não é suficiente para assegurar a estimulação e ampliação do potencial da superdotação. A importância do apoio da família tem sido alvo de muitos estudos com resultados expressivos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. Psicologia e educação do superdotado. São Paulo: EPU, 1986.

_____ . A educação do superdotado no Brasil;  Tecnologia  Educacional  -  Ano XV, v. 68/69, p. 73-80, Jan/Abr, 1986.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Ensino de 1º e 2º Graus. Centro Nacional de Educação Especial. Subsídios para organização e funcionamento de serviços de educação especial. Área de superdotação. Rio de Janeiro: MEC/SEPS/CENESP, 1986.

ERHLICH, Virginia Z. Gifted children. A guide for parents and teachers. New York: Trillium Press Inc, 1989.

FELDHUSEN, John. A conception of the field of gifted education. In: FELDHUSEN, John (Ed). Toward Excellence in gifted educacion. Denver: Love Publisching Company, 1985.

FELDHUSEN, John; BASKA, Leland. Identification and assessment of the gifted and talented. In. Toward Excellence in gifted education. Denver: Love Publishing Company, 1985.

GOWAN, J.D.; TORRANCE, E.P. Educating the ablest. Itasca, Ill.: Peacock, 1971.

SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. A educação dos superdotados. São Paulo: SE/CENP, 1988.

THOMPSON, R.; BERGER, T. & BERRY, S. An introduction to the anatomy, physiology, and chemistry of the brain. In. WITTROCK. M. (Ed), The brain and psychology. New York: Academic Press, 1980.

TUTTLE, F.B. & BECKER, L.A. Characteristics and identification of gifted and talented students. Washington: National Education Association, 1983.





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