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“Genialidade e Superdotação”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel.
RESUMO
"Se
a água é transparente, por que ela faz sombra?" Esta pergunta foi feita
por um menino de apenas dois anos e meio. Pensamento crítico mais desenvolvido,
vocabulários maiores do que a média, maior interesse na área de ciências,
criatividade e originalidade, ser o melhor aluno e, às vezes, o pior, são
alguns dos sinais que tornam algumas crianças diferentes de seus colegas.
Muitas delas são frequentemente "convidadas" a deixar a escola,
passam por avaliações de diversos especialistas até descobrir que são, na
verdade, portadoras de altas habilidades ou superdotadas. Embora poucas pessoas
saibam disso, boa parte dessas crianças não é identificada antes de apresentar
problemas em sala de aula. Situações que, muitas vezes, ocasionam prejuízos
emocionais e sub-aproveitamento do seu potencial. Ao mesmo tempo, pouco se
conhece da relação entre genética e superdotação. A idéia de um grupo de
pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Botucatu, é
demonstrar que existem fatores genéticos por trás da superdotação.
"Quando
fazemos a avaliação de uma pessoa com altas habilidades ou superdotada
(PAH/SD), geralmente ela relata parentes próximos que também apresentam altas
habilidades, não necessariamente na mesma área. Isso indicaria que há uma carga
genética, transmitida de forma hereditária", afirma Susana Graciela Pérez
Barrera Pérez, presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação (ConBraSD).
A superdotação, entretanto, envolve três grupos de traços: habilidade acima da
média em uma ou mais áreas; comprometimento com a tarefa e criatividade e,
segundo Susana, normalmente essa carga genética tem a ver com o primeiro
grupamento de traços – uma capacidade acima da média. Os outros dois
grupamentos e parte do primeiro são fortemente influenciados pelo ambiente, pelas
oportunidades que surgem durante a vida e que podem estimular o desenvolvimento
daquela capacidade.
QUANTO
MAIS CEDO MELHOR
A
confirmação da mutação genética para superdotação não eliminaria a necessidade
da realização de outros diagnósticos, mas pode mudar o enfoque em relação a
essa característica. "Da mesma forma que ocorreu com a dislexia e o
Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, a superdotação deixaria de
ser vista como um problema de culpa dos pais ou das crianças para ser encarada como
mais uma característica individual", argumenta Lara Cristina Antunes dos
Santos, neuropediatra do Ambulatório de Desvios da Aprendizagem, do Hospital
das Clínicas, da UNESP de Botucatu. Segundo ela, seria um modo de eliminar ideias
equivocadas como a de que crianças são superdotadas porque foram muito
estimuladas. "Há casos de pais que não deixam o filho aprender a ler antes
da idade escolar para que, posteriormente, não fique entediado na escola.
Outros ainda se culpam por não terem conseguido 'segurar' a criança, associando
esse fato ao comportamento inadequado em sala de aula", conta.
A
comparação da relação de uma mutação gênica com a superdotação também pode
colaborar para a indicação precoce de qual criança será submetida à avaliação
neuropsicológica, o que, para Lara Cristina, pode proporcionar melhor qualidade
de vida para a criança e mais tranquilidade para sua família e escola.
"Concluída a avaliação, poderíamos estabelecer estratégias para lidar com
essas pessoas para que possam desenvolver seu potencial de forma adequada e o
mais precocemente possível, antes que se instalem problemas", defende. A
pesquisadora acredita que essas crianças são diferentes, nem melhores, nem
piores que as outras. "Entender como se dá seu processo de aprendizagem,
saber o modo como elas vêem o mundo e as pessoas ao seu redor, pode economizar
sofrimento de todas as partes envolvidas", enfatiza.
DESFAZENDO
MITOS
O
imaginário popular e a ficção criam mitos que envolvem alunos com altas
habilidades, e acabam dificultando o encaminhamento destes para um atendimento
especializado. De acordo com artigo publicado na Revista Brasileira de
Educação Especial (Vol.11, n.2, 2005), das pedagogas Andréia Jaqueline
Devalle Rech e Sonia Napoleão Freitas, muitos professores, por desconhecimento,
acreditam que essas crianças dão conta do processo de educação e não necessitam
de educação especial. Além disso, existe a crença de que esses alunos possuem
habilidade superior em todas as áreas. Entretanto, a maioria se desenvolve
apenas em uma área específica, como ciências, artes ou esportes.
Os
superdotados representam cerca de 2% da população em geral, levando em conta
apenas habilidades intelectuais e acadêmicas que podem ser medidas por meio dos
famosos testes de QI. Esses testes medem uma estreita gama de habilidades,
principalmente a facilidade com a linguagem e números. Há poucas evidências de
que a superdotação em áreas não-acadêmicas, como artes e música, requeiram um
QI excepcional. Assim, há uma parcela da população que não está nas
estatísticas.
Por
se tratar de genética do comportamento, a proposta do estudo de pesquisadores
da UNESP aguarda aprovação do Conselho Nacional de Saúde (CONEP). Por enquanto,
está em andamento uma avaliação multidisciplinar e testes neuropsicológicos em
crianças e adolescentes, encaminhados ao Ambulatório de Desvios de Aprendizagem
por apresentarem algum tipo de desajuste escolar (comportamento ou performance
acadêmica). Para vários deles, o diagnóstico indica que são portadores de altas
habilidades. A pesquisa pretende identificar a relação entre polimorfismos do
gene SNAP-25 e a habilidade cognitiva geral, ou superdotação em crianças
brasileiras e a possível utilização desses polimorfismos para detecção dos
superdotados. O estudo será feito em dois grupos: 50 pessoas com QI normal e 50
consideradas superdotadas. "O superdotado merece, como qualquer criança
portadora de um desvio de aprendizagem, atenção, atendimento especializado e
disponibilidade de estratégias que favoreçam sua inclusão", diz Lara
Cristina. Com ela concorda Susana Peréz, que defende a necessidade de uma visão
integral das pessoas com altas habilidades, incluindo seus sentimentos,
emoções, medos e dificuldades. "É necessário que as políticas públicas
providenciem ações também nas áreas da cultura, do lazer, do trabalho, da
assistência social e da saúde para essas pessoas", completa.
© 2013
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
Universidade Estadual de Campinas
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