Blog "Genialidade e Superdotação", de autoria de Suuperdotado Álaze Gabriel.
Autoria:
Larice Maria Bonato Germani (neuropsicodagoga).
INTRODUÇÃO
Na
prática profissional como especialista na área da saúde mental e educacional,
tem sido crescente a demanda de encaminhamentos de profissionais da saúde e da
educação e procura das famílias para identificação das Altas
Habilidades/Superdotação (AH/SD) de crianças com diagnóstico de Transtorno de
Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH).
Tanto as
AH/SD como o TDAH são dois temas complexos que interferem diretamente no
sujeito, na família e na escola, principalmente pelos efeitos que podem
ocasionar estas características de comportamento quando não são devidamente
reconhecidas.
A
Organização Mundial da Saúde estima que um índice de 3% a 5% da população
brasileira apresenta indicadores de Altas Habilidades/Superdotação. A
Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades/Superdotação realizou em 2001,
um estudo de prevalência em que foi encontrado um índice de 7,78% da população
de alunos da 7ª e 8ª série do ensino fundamental da Região Metropolitana de
Porto Alegre/RS com indicadores de Altas Habilidades/Superdotação, incluindo
área acadêmica e produtivo-criativo.
O DSM-IV
estima que 5% a 13% das crianças em idade escolar apresentam o TDAH. Isto
significa que há um contingente bastante significativo de pessoas que podem
apresentar este transtorno.
O TDAH,
diz Goldstein (2003), está mais na incapacidade da criança e/ou adolescente em
satisfazer as demandas impostas pelo mundo externo, do que a criança não ter
habilidades para lidar com seus impulsos e desatenção, não controlar suas
emoções e de agir antes de pensar. Nossa cultura valoriza as crianças que
permanecem calmamente sentadas, são cordatas, prestam atenção, planejam e
conseguem atingir seus objetivos, Estas expectativas valem, tanto para as que
possuem o TDAH como as que têm AH/SD, devido às dificuldades em compreender que
elas têm necessidades e demandas diferentes.
As
pesquisas indicam que crianças com o TDAH correm um risco de fracasso escolar
duas a três vezes maior do que crianças sem o transtorno. O fracasso contínuo
reverte para uma desvinculação cada vez maior no processo de aprendizagem do
aluno, a não ser que ele encontre, no sistema educacional, respostas adequadas
às suas necessidades educacionais (BARKLEY, 2002; ROHDE, 2003; GOLDSTEIN,
2003).
Nos alunos com indicadores de AH/SD, encontramos o paradoxo do fracasso
escolar, como também determinadas instabilidades, evidencia Benito (1999). Para
esta autora, os alunos com AH/SD podem sofrer, como qualquer outra criança, de
distintos transtornos que os impedem de um rendimento acadêmico adequado e um desenvolvimento
social e emocional ajustado.
ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO –
AH/SD
Ao nos
referirmos à concepção das AH/SD, é importante lembrar que nela está implícita
uma definição de inteligência humana. Neste sentido, para fins deste estudo,
buscamos suporte teórico em Howard Gardner, que desenvolveu a Teoria das
Inteligências Múltiplas e em Robert Sternberg, criador da Teoria Triárquica da
inteligência, por serem teóricos contemporâneos da Psicologia Cognitiva, que
compreendem a inteligência de uma forma dinâmica e integrativa.
Gardner (2000, p. 34) afirma que o estudo da inteligência não é “um campo
privilegiado dos psicólogos, questionando se realmente um dia os psicólogos
foram donos deste campo”. Para tanto, ao considerar a inteligência uma questão
profunda, sugere o envolvimento de outras áreas de estudo para investigá-la.
Segundo
Gardner (2000, p. 47), a inteligência compreende “[...] um potencial
biopsicológico para processar informações que pode ser ativado num cenário
cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados numa
cultura”. Pluralizou e expandiu o termo inteligência, propondo a Teoria das
Inteligências Múltiplas.
Sternberg
(2000, p. 46) define a inteligência humana de acordo com sua Teoria Triárquica
, destacando a capacidade analítica, criativa e prática como aspectos que estão
relacionados com o mundo interno da pessoa, com a experiência e com o mundo
externo.
Quanto ao
tema das AH/SD, há uma vasta literatura, com diversos modelos e concepções. No
entanto, uma das escolhas foi a Teoria dos Três Anéis de Joseph Renzulli (1986,
2004), baseada em três traços de comportamentos: habilidade acima da média,
envolvimento com a tarefa e criatividade. Para que estes três traços determinem
a Superdotação, é necessária a interação entre os mesmos e a observação da
freqüência, da intensidade e da consistência destes comportamentos ao longo da
história de vida da pessoa.
Renzulli
(1986, 2004, p. 91), analisando seu conceito, destaca que “[...] lamenta não
ter dispensado mais tempo para pesquisas subjacentes àquelas influências da
personalidade e as ambientais”. Desta forma, incluímos neste estudo Mönks
(1992), que aponta em seu modelo os aspectos contextuais, representados pela
família, escola e amigos, considerados como fundamentais para o desenvolvimento
das AH/SD.
TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO
E HIPERATIVIDADE – TDAH
Para
Arnold e Jensen (apud KAPLAN, 1999), o TDAH é caracterizado por desatenção,
hiperatividade e impulsividade. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, o DSM-IV, o transtorno apresenta o Tipo Combinado
predominância dos sintomas de Atenção/Hiperatividade, Tipo predominantemente
Desatento e Tipo predominantemente Hiperativo-Impulsivo.
O TDAH é considerado, conforme, Bartley (2002) e Rohde et al. (2003), um
transtorno do desenvolvimento, acometendo cerca de 3 a 6% das crianças (ROHDE
et al. 1999) desde tenra idade e persistindo na vida adulta em mais da metade
dos casos.
Para
Barkley (2002), entender bem o ambiente social da criança e a interação com o
mesmo são fatores determinantes tanto para o diagnóstico como para o tratamento
e o prognóstico do TDAH. Faz referência à família como aquele lugar em que,
dependendo de sua qualidade de funcionamento familiar, será um local mais ou
menos propício para que o TDAH desenvolva problemas adicionais.
Em
relação à escola, tanto a criança com AH/SD como a com TDAH são alunos que
necessitam de um atendimento da educação especial e, por conseguinte, de um
contexto escolar que seja capaz de compreender, acolher e desenvolver estes
alunos em todos os seus aspectos através de processos educativos que devem não
só ser gestados, mas efetivamente colocados em ação, quando falamos de uma real
e efetiva inclusão.
AH/SD COM TDAH
A
prevalência da população de crianças com o Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade e com Superdotação é, ainda, desconhecida. Moon (2002, p.193),
destaca que estes sujeitos apresentam maior risco de terem dificuldades em
relação ao ajustamento social e emocional pela dificuldade de identificação da
criança superdotada com o TDAH e enfatiza que “não é uma tarefa fácil, pois
poucas pesquisas empíricas têm examinado esta questão singular, isto é, a
ocorrência simultânea do Transtorno de Déficit de Atenção e a Superdotação.
Também, encontramos em Kaufmann, Kalbfleisch e Castellanos (2000) a preocupação
com a identificação equivocada do TDAH mais Superdotação, mas admitem que não
está a disposição “nenhum dado empírico na literatura médica, educacional ou
psicológica para substanciar a extensão deste fenômeno”. A falta de dados
científicos, dizem os autores, faz prevalecer a pergunta: “é Transtorno de
Déficit de Atenção/Hiperatividade ou Superdotação?”.
Lovecky e
Silverman (1998) assinalam que muitos profissionais supõem erroneamente que o
fato de uma pessoa demonstrar estar absorvida, envolvida e mantendo sua atenção
sobre algo de seu interesse, tal como acontece com crianças com Superdotação,
descrito freqüentemente como ‘fluxo’ (CSIKSZENTMIHALYI, 1990), não pode ter o
TDAH, considerado como Transtorno. Barkley (2002) explica estas situações como
‘hiper-focos’ ou ‘atenção focalizada’. Neste sentido, Kalbfleisch (2000)
evidencia que a criança com TDAH e com Superdotação está predisposta a exibir o
estado de ‘fluxo’ ou do ‘hiper-foco’, traduzido, também como motivação e
comprometimento com a tarefa.
Moon
(2002), destaca que as que possuem S/D e TDAH apresentam características como:
desânimo; mau humor; melancolia; desinteresse; desorganização, imprevisíveis,
rejeição social; falta de controle e desatenção. Estas dificuldades devem ser
compreendidas como resultado da imaturidade no desenvolvimento social e
emocional em que há uma diferença de dois a três anos, quando comparadas a
outras crianças da mesma faixa etária.
Lovecky e
Silverman (1998), consideram que estas crianças mostram um maior nível de
assincronia entre as áreas cognitivas, social e emocional do desenvolvimento.
Evidenciam que o déficit cognitivo em relação ás outras crianças são
demonstradas por apresentarem menor habilidade em pensar seqüencialmente e usar
adequadamente a memória de trabalho. Estes sujeitos terminam menos os trabalhos
e tendem a apressar-se através deles; mudam freqüentemente os tópicos dos projetos;
tendem a uma variação maior nas habilidades do agir maduro e apresentam certas
dificuldades em trabalhar em grupos, mesmo com os grupos de crianças
superdotadas. Apontam que no desenvolvimento social e emocional estas crianças
com TDAH e S/D demonstram maiores dificuldades em automonitorar e autocontrolar
seus comportamentos.
Neihart
(2003), refere que as crianças com o TDAH e S/D são mais prejudicadas que
aquelas que apresentam somente TDAH, destacando que a habilidade e capacidade
elevada que a criança apresenta pode mascarar o TDAH, especialmente nas
escolas, uma vez que há uma tendência em se identificar o aluno superdotado
apenas pelo desempenho acadêmico acima da média e a focalização dos professores
nos comportamentos disruptivos do aluno com AH/SD com TDAH que não permitem com
que seja verificado e trabalhado o potencial elevado deste aluno. Acrescenta,
ainda, que quando ocorre uma identificação tardia das AH/SD com o TDAH, estes
sujeitos apresentam maior risco de cronificar problemas psicossociais, pois
durante longo tempo de seu desenvolvimento não receberam cuidados
(educacionais, sociais, familiares) apropriados.
INVESTIGAÇÃO
É uma
investigação qualitativa, utilizando a abordagem do Estudo de Caso, com o
propósito de investigar o tema diferenças e semelhanças apresentadas nas
características das AH/SD e TDAH, através de depoimentos de profissionais que
atuam na escola (professores e direção), família e próprio aluno. Os objetivos
foram: analisar os depoimentos de professores, alunos e seus familiares sobre
características de AHSD/TDAH de alunos; identificar semelhanças e diferenças
evidenciadas em comportamentos de alunos com características de AHSD/TDAH; e
contrastar as semelhanças e diferenças encontradas nos três grupos de sujeitos.
Participaram
deste estudo, um grupo de onze alunos, escolhidos de forma intencional, levando
em conta a demanda de famílias de alunos que estavam buscando identificação das
AH/SD e TDAH, encaminhados pelas suas escolas, por colegas do Curso de Mestrado
em Educação da PUCRS, em nossos atendimentos em Clínica Privada, além de
profissionais, principalmente os da equipe CEDEPAH e os da Associação Gaúcha de
Apoio às Altas Habilidades/Superdotação– AGAAHSD.
Utilizamos
a entrevista semi-estruturada como instrumento, por apresentar uma natureza
interativa, que nos permitiu estudar a complexidade do tema. Os itens foram
sendo construídos, a partir das principais características apontadas na
literatura de AH/SD e TDAH, com a proposta de realizar, no mínimo, uma
entrevista com cada sujeito, sua família e professor(es), no grupo de onze
sujeitos com o objetivo de averiguar: aprendizagem; relacionamento social com
seus pares, motivação e persistência; criatividade; organização e planejamento;
regras e comunicação, atenção e concentração e áreas de interesses que acabaram
se transformando em categorias a priori neste processo de análise.
Através
da Análise de Conteúdo, utilizando Bardin (2004) e Olabuénaga (1999), pudemos
obter categorias a priori, relativas aos objetivos e questões propostas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Retomando
os objetivos da investigação, analisamos os depoimentos dos sujeitos, família e
escola, de acordo com as oito características consideradas nas categorias
definidas a priori.
Em nossos
achados, não encontramos semelhanças entre as características examinadas nesta
pesquisa entre os comportamentos dos sujeitos com AH/SD e os sujeitos com o
TDAH, exceto em uma delas. Constatamos que, na segunda característica,
relacionamento social com seus pares, a semelhança entre os comportamentos dos
sujeitos com AH/SD e os com TDAH é evidenciada pela manifestação dos sujeitos
quanto o apreço e necessidade de estarem interagindo com o grupo de colegas,
relacionando-se através da participação social com seus pares, embora existam
algumas diferenças, derivadas da impulsividade que são demonstradas na forma
como tentam resolver as divergências e conflitos.
Em
relação às diferenças, na aprendizagem observamos que os sujeitos com AH/SD
apresentam um desempenho que os diferenciam em relação aos seus pares,
apresentando facilidade, independência e rapidez em aprender, dispondo-se de
maneira autônoma a ir além do que está sendo solicitado no processo de ensino e
aprendizagem, principalmente nas áreas de interesse. É observada uma grande motivação
intrínseca, que os levam a pesquisar e aprofundar um determinado assunto.
Para os
com TDAH, a aprendizagem se apresenta com um ritmo mais lento e parece não
estarem motivados intrinsecamente, necessitando, na maioria das vezes, de
estímulos externos e supervisão dos adultos durante este processo. Conforme os
relatos, não aparece a presença de distúrbio de aprendizagem, o que aparece é a
dificuldade em manter a atenção e organização no momento em que está sendo
apresentada a situação ou tarefa, trazendo alguns prejuízos para a aprendizagem.
No
relacionamento social com seus pares, no grupo das AH/SD, relacionam-se com
colegas e amigos, sem evidenciar dificuldades, tanto na escola como fora dela,
especialmente nas atividades ligadas ao lúdico e à convivência (brincadeiras
diversas, jogos em geral, jogo de futebol, freqüentar a casa de amigos e
colegas). Os conflitos são mediados pelo diálogo e negociação, sendo utilizado
o poder da argumentação e convencimento, não relatando rejeição social ou
dificuldade de interagir com seus pares.
No grupo com TDAH os sujeitos apreciam os
relacionamentos sociais com colegas da escola e amigos da comunidade.
Participam das atividades lúdicas e sociais, mas a maioria, freqüentemente,
apresenta conflitos com amigos e/ou colegas. Tentam resolver as diferenças
relacionais através da agressão verbal e/ou física, exceto para aqueles que
solicitam a interferência do professor /adulto na resolução do conflito.
Em motivação e persistência, os com AH/SD são
providos de uma motivação mais intrínseca do que extrínseca quando envolvidos
com seus interesses, demonstrando possuir autonomia, dedicação, perseverança e
comprometimento com a ação que estão realizando, buscando todas as
possibilidades para alcançar seus objetivos. Naqueles com TDAH, a motivação
mais observada foi a extrínseca, por necessitarem constantemente de estímulos
externos e supervisão para realizarem suas tarefas. Não percebemos a presença
de uma motivação que os levasse a ter iniciativa e autonomia na execução de suas
ações. A persistência, tanto na escola como na família, é manifestada como algo
vulnerável e inconstante quando se trata de resolver ou finalizar uma
determinada tarefa, especialmente aquelas rotineiras e as que envolvem maior
esforço mental.
Quanto à criatividade, identificamos que o grupo com AH/SD apresenta uma maior
motivação intrínseca, revelada por um comportamento criativo bastante
destacado, manifestado pela capacidade de gerar muitas idéias para a solução de
uma situação-problema, iniciativa, autonomia, pensamento flexível e divergente,
originalidade e curiosidade diante das situações e temas de seu interesse com
os quais se deparam.
No grupo com TDAH, demonstraram criatividade
considerada própria para a sua faixa etária e nível de escolarização. Na
organização e planejamento, percebemos que os com AH/SD apresentam preferência
pessoal pela organização, possuem uma maneira própria de como fazê-la,
organizam-se por prioridades, tentando respeitar as etapas. Em relação ao
planejamento, buscam seguir metas e antecipar as possíveis conseqüências de
determinada tomada de decisão. Não necessitam de controle e supervisão dos
adultos.
Os com TDAH possuem muitas dificuldades quanto à
organização de suas tarefas, apresentando-se, geralmente, como desorganizados
na escola e, especialmente, no contexto familiar. No planejamento não
conseguem, na maioria das vezes, priorizar ações, seguir etapas e metas na
execução de um objetivo pela pouca organização mental e material somada à
intolerância em desenvolver uma ação do inicio ao fim.
Em regras e comunicação, constatamos que os com
AH/SD se destacam por serem questionadores, principalmente sobre assuntos e
áreas de seu interesse, com o objetivo de conhecer, explorar, aprofundar e
buscar novas descobertas sobre o tema. Em relação às instruções e regras que
são ditadas pela família e escola, questionam a clareza e os objetivos das
mesmas antes de executá-las, resistindo quando são impostas de forma pouca
claras e arbitrárias. Durante uma conversação demonstram saber o momento de
expressar seu pensamento, respeitando enquanto o outro fala e mantendo a escuta
sobre o que está sendo comunicado verbalmente. No grupo com o TDAH encontramos
que têm dificuldades em atender as regras e instruções que são ditadas na
escola e, especialmente, no contexto familiar. Estes aspectos, freqüentemente,
são originados pela inabilidade da criança em recuperar a informação da
instrução, pela desatenção e impulsividade – primeiro eu faço depois eu penso –
e/ ou pela falta de discernimentos entre o que é mais importante e o que não é
tão relevante.
Sobre atenção e memória, constatamos as diferenças
quanto a atenção/concentração, memória de trabalho ou operação e na execução
das tarefas. Os com AH/SD apresentam elevada capacidade de atenção, concentração
e memória de trabalho, indicativos facilitadores do processo de descoberta e
desenvolvimento de suas potencialidades. Estas características parecem ser
bastante desenvolvidas por estes sujeitos, uma vez que representam importantes
funções para o comportamento de AH/SD. Nos com TDAH, constatamos que apresentam
muitas dificuldades em manter atenção em determinada tarefa. Armazenam e retêm
informações na memória como as outras crianças, porém apresentam dificuldades
com a memória de operação, isto é, lembrar de fazer algo. São considerados,
geralmente, como extremamente desatentos, esquecidos e ‘estabanados’, sendo
vulneráveis a qualquer estímulo que ocorre ao seu redor, distraindo-se de seus
objetivos facilmente.
Em habilidades e áreas de interesse, encontramos
diferenças claras nos dois grupos, os com AH/SD apresentam interesses pouco
comuns para sua etapa de vida, tendo preferência em envolver-se com muita
dedicação em pesquisas sobre as áreas de interesse, criando outras
possibilidades que resultam, freqüentemente, em um desempenho diferenciado
quando comparado com as habilidades de outras crianças. Nos com o TDAH
constatamos que a maioria apresenta interesses que dizem respeito à sua etapa
de vida.
Em relação ao grupo de sujeitos com AH/SD e TDAH,
na característica de aprendizagem, eles apresentam facilidade e rapidez no seu
processo de aprendizagem; uma motivação intrínseca mais relacionada à área de
interesse, porém com distração e desorganização, aspectos esses que influenciam
a execução de tarefas e ações, manifestando, deste modo, um desempenho que não
corresponde ao seu verdadeiro potencial. Constatamos que a motivação, ritmo e
facilidade para aprender são aspectos semelhantes aos dos sujeitos do grupo com
AH/SD. Em autonomia e resolução de tarefas, são semelhantes aos sujeitos com
TDAH. Assim, concluímos que estes sujeitos com AH/SD e TDAH demonstram
motivação para aprender assuntos que lhes interessam, ritmo rápido e facilidade
para a aprendizagem, porém têm dificuldades em serem autônomos neste processo,
necessitando de orientação e supervisão dos adultos, principalmente para a
execução das tarefas, nas áreas de interesse.
Em relacionamento social com seu pares, os com
AH/SD e TDAH expressam um relacionamento social permeado de dificuldades, tanto
na sala de aula como nas atividades lúdicas, não raramente ficam isolados do
grupo pela distração e/ou impulsividade que revelam nas interações
interpessoais. Os conflitos são resolvidos através da agressão verbal e/ou
física ou pela submissão. Demonstram insatisfação pelas dificuldades que
apresentam quanto às habilidades sociais. Entendemos que a semelhança entre os
três grupos se dá pela importância e desejo que eles manifestam em manter um
relacionamento social, buscando interagir com colegas e amigos. No entanto,
observamos que a diferença é demonstrada na forma usada para se relacionarem e
resolverem os conflitos, isto é, as estratégias que são empregadas diante das
divergências, guiadas freqüentemente pelas características do déficit de atenção
e/ou impulsividade.
Em motivação e persistência, verificamos que os com
AH/SD e TDAH manifestam uma motivação intrínseca na área de
interesse/habilidade semelhante aos sujeitos do grupo de AH/SD, pois são
intrinsecamente levados a buscar conhecimentos através de pesquisas e
alternativas que possam aprofundar a área de seu interesse de maneira
espontânea e prazerosa, mas são diferentes quanto à persistência e autonomia
para concluir uma tarefa, mesmo dentro da área de interesse e habilidade, isto
é, freqüentemente, estão protelando o término das tarefas, necessitando de
supervisão constante. Assemelham-se, portanto com os pesquisados do grupo de
TDAH por terem dificuldades marcantes em realizar os objetivos que são
propostos e/ou aqueles que eles próprios se propõem a realizar, mesmo sendo
temas que correspondem à sua área de interesse.
Em criatividade, os com AH/SD e TDAH apresentam
apenas a motivação intrínseca para a área de interesse, semelhante aos sujeitos
com AH/SD, demonstrando dificuldades na autonomia para explorar mais e colocar
em ação a sua criatividade. Entendemos que eles se destacam na variedade de
idéias, pensamento divergente, mas são prejudicados pela distração e falta de
organização quanto à resolução de um problema e o término desta solução. No
grupo com AH/SD e TDAH associado, constatamos que a criatividade é uma
característica relevante, observada pelo próprio sujeito, escola e família,
assemelhando-se com os do grupo de AH/SD e diferenciando-se dos TDAH. No
entanto, assemelham-se ao grupo dos TDAH no que diz respeito à realização e/ou
conclusão das suas ações criativas, principalmente se forem tarefas de médio e
longo prazo, mesmo sendo a sua área de interesse/habilidade.
Em organização e planejamento, quer em organização peculiar planejamento/
metas/etapas, quer em execução de tarefas, não se assemelham aos sujeitos com
AH/SD e, portanto, se assemelham aos sujeitos com TDAH, assim se distinguem
daqueles que apresentam somente AH/SD. Constatamos que apresentam muitas
dificuldades de seguir um projeto que pode ser tanto uma demanda externa,
escolar ou familiar, ou até mesmo interna, área de seu interesse, pela escassa
capacidade de organização e planejamento.
Em regras e comunicação, os com AH/SD e TDAH
possuem semelhanças com os sujeitos do grupo das AH/SD, no que diz respeito a
serem questionadores quanto às regras, especialmente quando elas são
autoritárias e pouco claras. Também identificamos semelhanças com os das AH/SD,
quanto à tolerância em esperar o outro falar, no tipo desatento, porque no tipo
combinado o sujeito encontra dificuldades no autocontrole para com esta
subcategoria, vigorando a impulsividade. Constatamos que os pesquisados com
AH/SD e com TDAH apresentam resistência em atender às regras e instruções
estabelecidas pela escola e pelos pais, por não achá-las relevantes ou por não
compreendê-las e interpretá-las adequadamente, conforme seu significado.
Manifestam-se como questionadores, curiosos e também contestadores,
demonstrando um comportamento pouco conformista diante das situações, tanto na
escola como na família. Quanto à comunicação verbal nas interações sociais, a
maioria demonstra um autocontrole mais desenvolvido, evitando interrupções ou
inadequações durante uma conversação, escutando e aguardando seu momento para falar,
exceto um dos pesquisados.
Em atenção e memória, os com AH/SD e TDAH
apresentam a atenção, a concentração e uma memória diferentes dos sujeitos
AH/SD, isto é, a atenção dos com AH/SD com TDAH é mais focalizada para a área
de interesse, embora não permaneçam centrados por longos períodos na atividade,
na tentativa de buscar novas gratificações por meio de outros estímulos.
Considerando a dificuldade de atenção, acabam tendo uma memória de
trabalho/operação diferente dos sujeitos com Altas Habilidades/Superdotação,
por estarem, estes, sempre muito atentos às informações, retendo-as com maior
êxito.
Em interesses e/ou habilidades, os com AH/SD e TDAH
apresentam interesses pouco comuns, que os diferenciam dos demais na mesma
faixa etária, assemelhando-se, portanto, aos comportamentos dos sujeitos com
AH/SD., Considerando os dados verificados neste estudo, podemos evidenciar que,
de acordo com as características elencadas, o grupo de sujeitos com AH/SD e com
TDAH apresentam características singulares, que constituem uma forma peculiar
de identificação fundamentada a partir de dois marcos teóricos de estudos, ou
seja, das Altas Habilidades/Superdotação e do Transtorno de Déficit de Atenção
e Hiperatividade.
Ao final deste trabalho, esperamos que esta
investigação tenha continuidade, para que outros aspectos, dentro deste tema
tão relevante e complexo, sejam estudados e aprofundados. Por ora, a partir
deste, manifestamos nossa contribuição por:
§ Disponibilizar aos profissionais
das áreas da Saúde e da Educação, a utilização deste conhecimento, por meio de
capacitação profissional, para melhor identificar as características
encontradas em cada um dos três grupos;
§ Minimizar a dicotomia, ‘isto só
é comportamento de superdotação’ ‘isto só é comportamento e sintomas de TDAH’,
nos diagnósticos e identificação, através da ampliação das possibilidades de
que, entre estes dois, possam existir características de AH/SD e de TDAH,
portanto, constituindo um outro conjunto de características de comportamento,
AH/SD com o TDAH.
§ Prevenir riscos nos aspectos
cognitivo, social, emocional da criança, na escola e na família, possibilitando
o pleno desenvolvimento de suas potencialidades.
§ Oportunizar que o conhecimento
das características singulares de sujeitos com AH/SD e TDAH, seja utilizado
para planejar, construir e estabelecer estratégias e modos de operacionalizar
um programa de atendimento e apoio específico, que possa atender as
necessidades especiais destes sujeitos bem como as de sua escola e sua família.
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