Blog "Genialidade e Superdotação", de autoria de Superdotado Álaze Gabriel.
Autoria:
Entrevista
do IG (renomada corporação brasileira de jornalismo e publicidade) com Cristina Paulino Colavite (psicóloga,
especialista em Educação Especial e membro do CONBRASD);
"Estamos disperdiçando talentos", diz a especialista em superdotados, alertando que muitas crianças com altas habilidades são diagnosticadas erroneamente. “Os
estudantes precisam de atenção especial”, afirma a psicóloga.
Cristina
Paulino Colavite cresceu vendo a mãe, professora de escola pública, quebrar a
cabeça para estimular os alunos mais inteligentes de suas turmas. “Ela contava
que alguns aprendiam mais rápido do que outros e sentia que precisava oferecer
algo a mais a eles”, lembra. E por que alguns alunos aprendiam mais rápido do
que outros? Em busca da resposta e fascinada pelos diferentes níveis e graus de
aprendizagem dos seres humanos, Cristina resolveu se especializar em crianças
com altas habilidades, os superdotados.
Psicóloga
com pós-graduação em Psicologia Clínica, especializada em Educação Especial
para alunos com capacidade acima da média, ela atuou na educação básica durante
20 anos. “Na minha concepção, deveria haver professores e psicólogos nas
escolas. Educar significa dar amparo emocional também”, afirma.
Apesar
de terem o rótulo de “gênias” e “superhomem”, Cristina destaca que as crianças
superdotadas são em geral incompreendidas e sofrem. Muitas recebem diagnóstico
errado de hiperatividade, déficit de atenção e são medicadas sem necessidade.
Para orientar professores a trabalhar com esses alunos em sala de aula,
Cristina ministra cursos e palestras sobre o tema em vários locais da grande
região metropolitana de São Paulo.
Hoje,
Cristina é membro do Conselho Brasileiro para Superdotação (CONBRASD), da
Associação Brasileira para Altas Habilidades/superdotação (ABAHSD) e atende
crianças, jovens e adultos em uma clínica particular. “Tenho recebido muitos pacientes com
diagnóstico errado de hiperatividade e TDA (Transtorno do Déficit de Atenção).
Crianças que estão tomando Ritalina aos 8 anos de idade, sem necessidade”,
alerta.
ENTREVISTA DO IG COM CRISTINA, NA ÍNTEGRA:
IG:
Como identificar a criança com superdotação? A quais sinais os pais e
professores devem estar atentos?
Cristina
Colavite: É muito complexo, porque são crianças heterogêneas. Geralmente elas
têm uma facilidade muito grande de aprendizado em diversas áreas do
conhecimento, profundidade na percepção de mundo, nas sensações, nas
observações, nos detalhes e um senso de justiça, ética e moral muito aguçado.
São crianças que ficam indignadas com a injustiça e têm uma necessidade absurda
de conhecimento, de desafio. Tem facilidade para fazer analogias, associar
desde muito cedo o que veem, leem e ouvem. A memória é maravilhosa e elas
conseguem organizar as informações. Uma criança comum passa por um menino de
rua passando fome e repara. Mas, se logo na sequência há uma vitrine de
brinquedos, ela esquece o menino. O superdotado não, ele quer saber por que a
criança está lá, quem vai cuidar dela, se ela vai à escola, se ela tem família,
e não para de fazer perguntas. Eles se envolvem com os assuntos.
Na
sala de aula, elas acabam ficando com rótulos negativos. Porque o que o
professor fala, para elas não é o suficiente e às vezes completamente banal.
Então elas não prestam atenção e fazem bagunça, ou se fecham no seu mundo
interno. São crianças desde muito cedo incompreendidas.
Esses
sintomas podem ser confundidos com distúrbios emocionais?
Cristina
Colavite: Sim. Erroneamente muitas crianças com altas habilidades são
classificadas ou como apáticas, ou hiperativas e déficit de atenção. Elas
sofrem e ficam com uma sensação de impotência fora do comum diante das
injustiças, dos problemas sociais e políticos do País, por exemplo. Se não são
orientadas, se fecham em uma redoma e muitas vezes não conseguem lidar com a
frustração. Seu desenvolvimento cognitivo não é compatível com seu
desenvolvimento emocional. Os superdotados têm ideais e profundidade no fazer
acontecer, mas muitas vezes acabam sendo desestimulados pelos pais e
professores, que dizem coisas do tipo “isso não é para a sua idade”, “quando você
ficar mais velho vai entender”, “chega de tantas perguntas”, etc. Tenho
recebido muitas crianças com diagnóstico errado de hiperatividade e TDA
(Transtorno do Déficit de Atenção), que estão tomando Ritalina aos 8 anos de
idade.
Como
eles devem ser tratados na escola?
Cristina
Colavite: Não se deve segregar. Eles devem conviver com as diferenças e devem
ser geradas oportunidades para que eles encontrem seus pares. O ideal é ter um
espaço extraclasse, com profissionais capacitados, no qual eles possam ter
acesso a tudo o que necessitam para seu desenvolvimento pleno, inclusive
cursos. Na minha concepção, deveria haver professores e psicólogos nas escolas.
Educar significa dar amparo emocional também. O ideal é ter essa parceria,
porque os psicólogos vão orientar como as crianças lidam com a aquisição do
conhecimento, como se relacionam enquanto os professores vão transmitindo o
conhecimento.
Mas
são poucas escolas com esses profissionais. O que os professores podem fazer
para estimular esses alunos?
Cristina
Colavite: Não é uma coisa fácil e é por isso que estou dando este curso. Os
professores precisam ter estratégias na elaboração de projetos para esses
alunos. Cada uma vem com uma demanda. Eles têm que estar preparados para não
minar essas crianças, e sim para estimulá-las. O papel é orientar essa demanda.
Não pode falar “não” o tempo todo. “Agora não pode perguntar”, “isso você vai
ver o ano que vem”. É direito da criança portadora de necessidades especiais
ter um trabalho específico para seu desenvolvimento. Os superdotados também
estão nesta classificação, pois a lei de diretrizes e bases diz que é
necessário dar amparo específico.
Estima-se
que 5% a 10% da população seja superdotada. Isso significa que em praticamente
toda classe há cerca de dois alunos superdotados. Estamos desperdiçando
talentos?
Cristina
Colavite: A Organização Mundial de Saúde fala em 12% da população. Eu acho que
este índice varia de 5 a 8% e acredito que em cada sala a gente tenha pelo
menos um estudante com alta habilidade perceptível. Sem dúvida, estamos
deixando de despertar nossos melhores políticos, administradores, matemáticos,
cientistas, artistas, pesquisadores.
Os
superdotados tem um perfil emocional distinto? São tímidos, sofrem bullying,
tem problemas emocionais, dificuldades de expressão ou isso varia muito de
criança para criança?
Cristina
Colavite: Depende de cada criança. A maturidade significa desenvolver os
recursos internos emocionais para lidar com as situações adversas do mundo. A
criança não sabe fazer isso. Mediante a uma percepção de mundo muito aguçada, o
desenvolvimento emocional estará sempre aquém. O desenvolvimento emocional tem
que estar muito bem amparado para segurar essa percepção de mundo intensa.
Educadores e pais têm que ouvir a criança, entender a demanda dela e não minar.
Tentar entender suas necessidades. Olhar para a criança sem preconceito, sem a
ideia de que todas são iguais. E procurar supri-las.
Creio que o maior massacre é "você vai ver isso no ano que vem/ você é muito novo para saber disso". Além do mais as pessoas adultas esquecem que o superdotado, mesmo tendo um vocabulário rico, ainda é uma criança e precisa ser ensinada, como qualquer outra em várias situações, principalmente para crescimento psicológico.
ResponderExcluirQuantos superdotados não devem ter sido afogados diante da mediocridade.
A sociedade na verdade não aceita o que está além e muito menos o que está aquém da média.Só o médio(medíocre) é o correto.